Paracetamol causou 7% das reacções adversas a fármacos no Norte

Sete em cada cem reacções adversas a medicamentos notificadas na Unidade de Farmacovigilância do Norte (UFN) deveram-se ao paracetamol, que é o medicamento mais vendido em Portugal sem receita médica, segundo um estudo hoje apresentado.

Agência LUSA /

Da autoria das farmacêuticas da UFN Manuela Milne e Inês Ribeiro, esta investigação sobre as reacções adversas provocadas pelo paracetamol surgiu a propósito de um outro estudo sobre as reacções adversas a medicamentos, nomeadamente alergias, que chegam àquela unidade.

Conforme contaram à Agência Lusa, a propósito da apresentação das conclusões destes dois estudos durante o 22º Congresso Internacional de Farmacoepidemiologia e Comunicação de Risco na Saúde Pública, que decorre em Lisboa, o paracetamol foi uma "causa importante" de todas as reacções adversas notificadas na UFN.

De acordo com o estudo, este medicamento - utilizado para combater a dor e a febre - foi o responsável por 13 (sete por cento) das 192 reacções adversas ali registadas entre Abril de 2004 e Dezembro de 2005.

As investigadoras revelaram que 92 por cento (12) das reacções foram consideradas "graves" e que sete necessitaram de tratamento médico para resolver o problema.

Entre as várias reacções adversas registadas, 85 por cento foram lesões cutâneas, 23 foram dificuldades respiratórias e um choque anafilático.

Apesar destes resultados terem "surpreendido" as autoras, que julgavam que o paracetamol causava menos reacções adversas, as mesmas garantem que o medicamento é seguro e realçam que, mesmo nestes episódios, o fármaco estava a ser bem administrado e era aconselhável para os sintomas que os doentes apresentavam.

"É um medicamento muito seguro", disse Manuela Milne, lembrando que, contudo, "não existe nenhum fármaco que seja totalmente inofensivo".

Esta farmacêutica lembrou que estas reacções adversas são muito menos graves do que os problemas de saúde que vários estudos têm associado ao paracetamol, as quais se devem a "vários factores".

Recentemente, um estudo realizado pela Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, e publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), veio revelar que mesmo quando tomado dentro das doses recomendadas, o paracetamol pode causar graves problemas de fígado, incluindo a sua completa destruição.

Em Portugal, foram vendidas fora das farmácias, entre Setembro de 2005 e Maio de 2006, 5.757 embalagens de paracetamol, de acordo com dados do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed).

O paracetamol foi apenas um dos causadores de reacções adversas notificadas na UFN, sedeada na Faculdade de Medicina do Porto.

Um outro estudo das mesmas autoras revelou que, dos 192 casos que ali foram contabilizados, 40 por cento tiveram como origem os anti- inflamatórios não esteróides (como o iboprufeno ou a nemesulid).

Os antibióticos causaram 23 por cento das 192 reacções adversas e os analgésicos e antipiréticos 14 por cento.

A nível das substâncias activas mais causadoras destes efeitos estão a diclofenac, o iboprufeno, antibióticos e o paracetamol.

Os dois estudos são hoje apresentados no decorrer do 22º Congresso Internacional de Farmacoepidemiologia e Comunicação de Risco na Saúde Pública, que decorre até domingo.

Organizado pela Sociedade Internacional de Farmacoepidemiologia e pelo Grupo Europeu de Utilização de Medicamentos, esta conferência decorre no Centro de Congressos de Lisboa e o seu programa inclui várias sessões plenárias, simpósios, "workshops", comunicações orais e posters.

A promoção de um fórum científico em que farmacologistas, epidemiologistas, reguladores, profissionais de saúde e decisores em saúde possam discutir e aprender sobre o uso dos medicamentos em grandes populações e sua relação benefício/risco é o principal objectivo deste evento internacional.


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