Parto na água realiza-se em casa com meios e acompanhamento próprios (C/ FOTO)
Por Helena de Sousa Freitas (texto) e André Kosters (fotos), da agência Lusa.
Lisboa, 02 Fev (Lusa) - Uma futura mãe que deseje ter o bebé dentro de água pode fazê-lo em casa, desde que a gravidez tenha decorrido sem problemas e disponha do acompanhamento adequado para viver o momento com tempo e serenidade.
Uma vez que o parto na água ainda não é possível no sistema de saúde público português nem nas clínicas ou hospitais privados, uma grávida que acalente esse desejo tem de optar por dar à luz em casa, contando para isso com o apoio de uma parteira ou parteiro e de meios que concedam segurança e conforto à mãe e ao bebé.
Decidida a "lutar para que o parto na água fosse uma realidade em Portugal", Sandra Oliveira, da BioNascimento (www.bionascimento.com), começou, no início de 2006, a comercializar as piscinas insufláveis La Bassine, criadas por Carine Pouypoudat, que se enchem de ar em três minutos e de água (400 litros) em menos de 20, tendo um custo a rondar os 125 euros.
Até ao momento a BioNascimento já vendeu 26 piscinas e Sandra Oliveira sabe que dezena e meia de bebés "nasceram efectivamente dentro de água, ou seja, a expulsão deu-se no meio aquático", tendo ela própria acompanhado 11 desses casos no âmbito das suas funções de doula.
A doula é uma mulher que presta suporte psicológico e emocional à grávida - ou ao casal, pois "às vezes são os futuros pais que estão mais frágeis" - antes e durante o parto, dando também algum apoio pós-natal. No geral, a companhia de uma doula custa entre 150 e 450 euros, tendo Sandra Oliveira assegurado que, no seu caso, "não deixa de fazer o acompanhamento de uma mulher por esta ter dificuldades financeiras".
Sandra Oliveira, que começou a interessar-se pelo apoio às grávidas e pelos partos naturais, nomeadamente o parto na água, após o nascimento da filha, no ano 2000, iniciou uma pesquisa mais exaustiva sobre o tema em finais de 2004, trocando uma carreira na área da assistência ao cliente pelo projecto BioNascimento.
Em Janeiro de 2005 frequentou, em Barcelona, um curso ministrado pelo médico francês Michel Odent, tendo prosseguido a aquisição de conhecimentos com formações de Instrutora de Massagem Infantil (Lisboa, Abril de 2005), Doula de Pós-Parto (Barcelona, Julho de 2005) e Aconselhamento sobre Aleitamento Materno (Lisboa, Setembro de 2005) e através da participação em conferências e congressos especializados.
Associando a teoria à prática, Sandra Oliveira, de 35 anos, declarou à agência Lusa que, apesar das renitências manifestadas por alguns médicos em relação à expulsão do bebé no meio aquático, "não há indicações de que, a nível de infecções, um parto na água seja menos seguro do que um parto fora de água".
"Aliás, nos partos na água a que assisti a taxa de complicações foi de zero por cento", assegurou a doula, esclarecendo que "os problemas de infecções não se colocam se forem tidos cuidados com a qualidade da água - mediante análises e a colocação de filtros - e se a piscina não for reutilizada".
Questionada pela Lusa se não ficaria muito dispendioso a um hospital adoptar La Bassine, uma vez que cada piscina só pode ser usada para um parto, Sandra Oliveira afirmou que "mesmo sem hipótese de reutilização por mais do que uma grávida, a piscina fica mais barata do que o custo dos fármacos da epidural somado ao pagamento de um anestesista".
Mas enquanto os partos na água numa instituição hospitalar não se concretizam, a responsável da BioNascimento vai acompanhando as grávidas no domicílio, respondendo aos mais cépticos que, "com o encerramento de tantas maternidades em Portugal, mais vale um parto em casa devidamente planeado do que numa ambulância".
De qualquer modo, esclarece que a sua presença ao lado da parturiente não substitui uma parteira, pois "a doula não tem formação para realizar actos como medir a tensão arterial ou escutar o bebé".
Enquanto doula, Sandra Oliveira salientou ainda a importância de desmistificar algumas ideias-feitas: "A imagem de sofrimento no parto tem de ser contextualizada, pois no parto natural a dor não tem a violência que se imagina. Isso acontece no parto induzido porque as contracções são aceleradas artificialmente no hospital".
Apesar desta posição, Sandra Oliveira não exclui o recurso a um estabelecimento hospitalar, aconselhando "o Hospital de São João, no Porto, o Garcia de Orta, em Almada, a Maternidade Alfredo da Costa - apesar de serem cada vez menos as informações sobre esta instituição - e o São Francisco Xavier, também em Lisboa, do qual existem algumas boas referências".
A Maternidade Alfredo da Costa e os hospitais de São João e Garcia de Orta constituem, inclusivamente, os estabelecimentos aos quais a BioNascimento vai entregar bolas de parto adquiridas com o valor angariado nas entradas de uma sessão pública sobre parto na água, que terá lugar a 11 de Abril, entre as 21:00 e as 23:00, no Cine-Teatro João Mota, em Sesimbra, e cuja entrada custará três euros.
O que é o parto na água, quais as suas características, quem pode ter este tipo de parto e quais as vantagens para a mãe e o bebé são apenas alguns dos temas da sessão nocturna, que será o culminar de uma jornada de formação e troca de experiências exclusivamente destinada a profissionais de saúde.
Durante a jornada - que terá a presença da parteira alemã Cornelia Enning - serão abordados tópicos como as expectativas do parto na água em casa e no contexto hospitalar, a epidural versus o efeito "anestésico" da água, os serviços das parteiras e a importância da higiene da piscina/banheira.
HSF.