O autor do livro "Cidade Suave", editado pela Tigre de Papel e pela Tower Block Books, está no país a apresentar a versão para Portugal da obra. David Sim vai passar por Lisboa, Aveiro, Guimarães e Porto durante esta semana.
À margem da apresentação em Lisboa, no Instituto Superior Técnico, David Sim defendeu em entrevista à Antena 1 que a proximidade entre as pessoas torna a cidade mais humana, num espaço público com diversidade, entre locais abertos a todos e outros mais reservados para vizinhos, por exemplo.
Versão da entrevista com dobragem em português emitida no programa Portugal em Direto
Resposta: Parece um pouco estranho. Uma cidade é dura, é feita de pedra, asfalto e metal, muitos materiais duros. Mas é claro, são as pessoas que fazem a cidade suave. E a suavidade tem a ver como apelamos aos nossos sentidos, porque vemos a cidade, mas também a cheiramos, sentimos, escutamos, tocamos, e é também uma experiência social.
Uma das principais razões pela qual vamos à cidade é para estarmos juntos com outras pessoas. Então, acho que a suavidade é sobre a experiência sensorial e social se juntarem. E mesmo que a cidade seja dura, com prédios, ruas e infraestruturas, de certa forma, a vida muda sempre.
É a sua primeira vez em Portugal?
Estive no Norte, no Porto antes. É a minha primeira vez em Lisboa.
Encontrou aqui uma cidade suave ou algo do género?
Sim, eu tenho visto algumas cidades suaves aqui em Lisboa. Acho que a primeira coisa que percebe como visitante são as árvores. As ruas com árvores são completamente diferentes. Têm uma temperatura, um clima, uma acústica e um sentimento diferente.
Outra coisa que eu percebi foram as pessoas: a vida nas ruas, as pessoas a dizerem ‘olá’, os encontros de vizinhos, as pessoas sentadas nos cafés. Há uma presença humana.
O David está em Lisboa numa altura muito popular, porque temos os Santos Populares este mês, com muitas festas populares nas ruas. Apanhou alguma?
Não reparei em nenhuma, mas reparei que as árvores estavam a florir. Foi muito bonito ver a cor rosa e roxa nas árvores, realmente maravilhoso.
Entrevista completa em inglês [Here you can hear the full interview in english]
Deixe-me diferenciar: há um espaço aberto, um espaço ‘outdoor’. É muito importante para saírmos, por razões de saúde, para exercício físico, mas também para a saúde mental. Encontramos outras pessoas, sendo estimulados por coisas diferentes, experimentando a luz do sol e os barulhos da natureza.
Porquê que os pátios interiores são importantes? Temos a rua, a praça e o parque. São todos espaços públicos, mas o pátio é algo diferente: um pouco privado, semiprivado, comum e partilhado.
O que é importante é que a cidade ofereça-nos espaços diferentes. Se quer uma experiência ruidosa, pode andar na rua onde há trânsito, lojas e atividades. Mas se entrar no jardim, é silencioso, talvez ouça um pássaro a cantar.
É uma maneira de unir as pessoas, os vizinhos?
Exatamente, porque a rua pode ser um pouco anónima, mas talvez o pátio seja um lugar onde pode encontrar-se com o seu vizinho e ter uma relação mais próxima. Acho que há várias camadas e a ideia é que a cidade possa ter várias camadas.
Teve oportunidade de visitar as nossas vilas antigas, em Lisboa ou no Porto?
Já vi alguns, sim. O que é realmente fascinante é o pátio português, porque eu acho que é uma resposta ao clima e protege do barulho da cidade.
Eu acho que no verão é muito importante ter esse espaço mais ameno no exterior. Fica muito quente aqui no verão. Então pode ir para fora, talvez ouvir algum barulho da natureza, a água na fonte ou a canção dos pássaros. E eu acho que esse espaço climático, esse espaço exterior agradável, é muito especial em Portugal.
Já vi alguns, sim. O que é realmente fascinante é o pátio português, porque eu acho que é uma resposta ao clima e protege do barulho da cidade.
Eu acho que no verão é muito importante ter esse espaço mais ameno no exterior. Fica muito quente aqui no verão. Então pode ir para fora, talvez ouvir algum barulho da natureza, a água na fonte ou a canção dos pássaros. E eu acho que esse espaço climático, esse espaço exterior agradável, é muito especial em Portugal.
Trouxe algumas fotografias - imagens da Vila Berta, Vila Gomes ou Vila Rosário. Nesses exemplos, há muitos carros e não temos a natureza. Olhando para estas fotos, acredita que temos a oportunidade de transformá-las e de ter um espaço público diferente?
Há uma oportunidade absolutamente fantástica. Eu acho que as cidades portuguesas e as vilas têm qualidades maravilhosas: cidades tradicionais construídas há muitos séculos com essas qualidades humanas, com uma escala humana de espaços. Então não são muito grandes. É um problema quando começam a empurrar demasiados carros para dentro, porque os espaços não foram projetados para carros. Foram projetados para pessoas caminharem e passarem tempo.
Mas as cidades tradicionais e as vilas de Portugal estão cheias de espaços abertos maravilhosos: pátios, ruas e praças, que são muito adequadas para a vida pública.
E falando sobre o espaço público, quais são os aliados de uma boa caminhada na cidade? O que importa para alguém ao caminhar nas ruas?
Há uma oportunidade absolutamente fantástica. Eu acho que as cidades portuguesas e as vilas têm qualidades maravilhosas: cidades tradicionais construídas há muitos séculos com essas qualidades humanas, com uma escala humana de espaços. Então não são muito grandes. É um problema quando começam a empurrar demasiados carros para dentro, porque os espaços não foram projetados para carros. Foram projetados para pessoas caminharem e passarem tempo.
Mas as cidades tradicionais e as vilas de Portugal estão cheias de espaços abertos maravilhosos: pátios, ruas e praças, que são muito adequadas para a vida pública.
E falando sobre o espaço público, quais são os aliados de uma boa caminhada na cidade? O que importa para alguém ao caminhar nas ruas?
Primeiro, a estrutura das ruas: uma rua tradicional é feita de muitas casas juntas, então há uma linha sólida. E quando caminha na rua, a cada cinco, dez, 15, 20 metros, há um novo prédio, uma porta, uma janela. Essas casas juntas, com as portas e as janelas, divertem-nos enquanto caminhamos. Há algo novo para observar o tempo todo.
Também a rua dá-nos proteção microclimática: protege-nos do vento, talvez nos dê uma sombra. Talvez no inverno podemos caminhar no lado com sol da rua, quando queremos estar quentes. Então temos essas opções.
Se há um bom pavimento, é amplo o suficiente para caminhar com o seu amigo? Não tem de caminhar atrás dele? Sente-se seguro com os seus filhos? A dimensão do pavimento é importante?
Talvez para as pessoas e para alguns cafés, oportunidades para se encontrarem...
Exatamente. O passeio não é só para caminhar, pode ser um lugar para fazer negócio, com mesas e cadeiras para o café, com produtos expostos. Se há mais vida na rua, coisas interessantes e pessoas para ver, é ainda mais divertido caminhar. E, é claro, as ruas onde quer caminhar tem pessoas, árvores, cafés e lojas. Pode experienciar essas coisas agradáveis, sensoriais e sociáveis.
Também a rua dá-nos proteção microclimática: protege-nos do vento, talvez nos dê uma sombra. Talvez no inverno podemos caminhar no lado com sol da rua, quando queremos estar quentes. Então temos essas opções.
Se há um bom pavimento, é amplo o suficiente para caminhar com o seu amigo? Não tem de caminhar atrás dele? Sente-se seguro com os seus filhos? A dimensão do pavimento é importante?
Talvez para as pessoas e para alguns cafés, oportunidades para se encontrarem...
Exatamente. O passeio não é só para caminhar, pode ser um lugar para fazer negócio, com mesas e cadeiras para o café, com produtos expostos. Se há mais vida na rua, coisas interessantes e pessoas para ver, é ainda mais divertido caminhar. E, é claro, as ruas onde quer caminhar tem pessoas, árvores, cafés e lojas. Pode experienciar essas coisas agradáveis, sensoriais e sociáveis.
Quando temos cidades que oferecem espaços de encontros diários, quando as pessoas se conhecem umas às outras, acredita que temos cidades mais humanas?
Eu gosto muito da forma como fala dos encontros diários. Quando falamos da cidade, podemos imaginar que é sobre monumentos, grande arquitetura e grandes eventos, mas no que podemos realmente pensar é no que é importante fazer para ter uma vida diária melhor.
O que gostaria de fazer numa terça de manhã? Uma terça de manhã em novembro? É uma cidade boa para estar? O que eu procuro é uma rua onde podemos parar e falar, os vizinhos dizem ‘olá’ na rua, e essa vida diária muito modesta de como vai para a escola, como espera pelo autocarro, como atravessa as ruas.
Essas atividades muito simples, se poderem ser experiências agradáveis, a vida diária vai dar-te uma boa vida na cidade.
Eu gosto muito da forma como fala dos encontros diários. Quando falamos da cidade, podemos imaginar que é sobre monumentos, grande arquitetura e grandes eventos, mas no que podemos realmente pensar é no que é importante fazer para ter uma vida diária melhor.
O que gostaria de fazer numa terça de manhã? Uma terça de manhã em novembro? É uma cidade boa para estar? O que eu procuro é uma rua onde podemos parar e falar, os vizinhos dizem ‘olá’ na rua, e essa vida diária muito modesta de como vai para a escola, como espera pelo autocarro, como atravessa as ruas.
Essas atividades muito simples, se poderem ser experiências agradáveis, a vida diária vai dar-te uma boa vida na cidade.