Pedro Delille: investigação "resolveu escolher o alvo José Sócrates e persegui-lo"

A defesa de José Sócrates considera que o adiamento do prazo para conclusão da acusação se baseia em decisões “ilegais, abusivas e arbitrárias”. Em entrevista à RTP, o advogado Pedro Delille acusa a investigação de perseguir o ex-primeiro-ministro e de ser incapaz de apresentar um “facto criminoso que possa ter cometido” e “um meio de prova que permita que tenham lançado e mantenham esta suspeição”.

RTP /
O Conselho Superior da Magistratura adiou a análise à entrevista do juiz Carlos Alexandre à SIC. O objetivo é que a apreciação não seja confundida com o incidente de suspeição do juiz que a defesa de José Sócrates apresentou no Tribunal da Relação de Lisboa

Em entrevista à RTP3, o advogado de José Sócrates afirmou desde logo que não faria comentários à entrevista de Carlos Alexandre e ao pedido de adiamento da análise da entrevista por parte do Conselho Superior de Magistratura.

“Não vou fazer qualquer comentário porque entendo que não devo fazer”, disse. Sobre o pedido de afastamento do juiz Carlos Alexandre do processo, Pedro Delille optou apenas por fazer um comentário geral ao que este tipo de pedidos representa: “os processos todos de recusa são para se ter um juiz imparcial”.

“Qualquer juiz, quando toma uma decisão, aquilo que se espera dele é que ele tome essa decisão analisando sem preconceitos qualquer um dos argumentos apresentados”, especificou.
“Ilegal, abusiva, arbitrária”
A entrevista de Pedro Delille à RTP surge depois de a defesa do ex-primeiro-ministro ter considerado que o prolongamento do prazo de inquérito por mais seis meses se baseia em decisões “ilegais, abusivas e arbitrárias”.

No 360 desta quinta-feira, o advogado manteve que a decisão da PGR é “ilegal”, notando ainda que não é a primeira vez que o prazo é prolongado. “Estes comunicados só são admissíveis para esclarecer. Mas este comunicado não esclarece, tenta enganar"

“Só é preciso prolongar para concluir a investigação que está feita, não para abrir novas investigações e constituir mais não sei quantas pessoas arguidas”, defendeu Delille.

O advogado afirmou ainda que é ilegal a forma como a Procuradoria-Geral da República revelou o adiamento do prazo. “Comunicou isto através de um comunicado de imprensa, umas horas antes de notificar os arguidos e outros intervenientes do processo e invocando a necessidade de esclarecimento”.

“Estes comunicados só são admissíveis para esclarecer. Mas este comunicado não esclarece, tenta enganar. Tenta enganar tentando manter a ideia que haverá ainda em curso investigações para analisar se o engenheiro José Sócrates e os outros arguidos são ou não efetivamente suspeitos”, explicou.
“Começaram por concluir”
O advogado considera que esta investigação teve início com as “conclusões”. “Concluiu à partida que havia determinadas pessoas, entre elas o engenheiro Sócrates, que só podiam ser responsáveis por crimes”, acusa.

“Eles fizeram ao contrário. Isto começa-se por investigar e depois concluir. Eles começaram por concluir e agora vão investigando e cada nova investigação mostra que a suspeita anterior não existia”, referiu na RTP3.

Pedro Delille considera que posteriormente foram “sendo produzidos meios de prova”. “Todos os meios de prova que nós analisámos (…) dizem-nos que não há razão nenhuma. Todos eles explicam claramente o que se passa em relação a essas suspeitas e resolvem-nas”, garantiu.
“Perseguição”
A defesa do ex-primeiro-ministro acusa ainda a equipa responsável pela investigação de “não estar a investigar” mas a “perseguir”. “Não estão a esclarecer a verdade, estão a tentar iludir a verdade mantendo um processo que tem uma componente difamatória e caluniosa tremenda”, justificou o advogado.

Na RTP3, Pedro Delille afirmou ainda que a investigação é incapaz de “apresentar um facto criminoso que possa ter cometido” e “um meio de prova que permita que tenham lançado e mantenham esta suspeição”.“Não estão a esclarecer a verdade, estão a tentar iludir a verdade mantendo um processo que tem uma componente difamatória e caluniosa tremenda”

O advogado preferiu não usar a palavra “complot”, falando em perseguição.

“Existe um grupo de três pessoas que há mais de 12 anos tem protagonizado intervenção nos processos mais mediáticos da justiça portuguesa que resolveu escolher o alvo José Sócrates e persegui-lo”, explicou.

“Essas pessoas hoje percebem que estão a lutar pelas suas próprias carreiras profissionais e públicas e são incapazes de reconhecer que o inquérito já devia há muito estar arquivado”, afirmou.

O advogado referiu ainda que José Sócrates “não receia ser investigado”, pedindo sim que “o processo seja totalmente transparente” e que seja indicada “uma razão para a suspeita”.
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