Pedroso vai processar responsáveis pela investigação
O ex-deputado socialista Paulo Pedroso anunciou hoje a intenção de processar os responsáveis "na condução da investigação" do processo Casa Pia pela sua implicação nos alegados crimes de abuso sexual de crianças de que foi acusado.
Num comentário ao trânsito em julgado da decisão da Relação (que manteve a decisão de não o levar a julgamento) que será divulgado no blogue http://ocanhoto.blogspot.come a que a Agência Lusa teve acesso, Paulo Pedroso afirma ter pedido à sua defesa para accionar "os procedimentos legais necessários para que sejam reparados os danos" que lhe foram causados pelas "condutas e omissões de deveres" por parte de "quem teve responsabilidades na condução da investigação", sem se referir directamente ao Ministério Público.
"Sei que quem conduziu o inquérito judicial a meu respeito agiu sem presumir sequer a possibilidade da minha inocência", acusa, lembrando que o inquérito foi "avocado pelo próprio Procurador-geral da República".
"Em democracia ninguém está acima da lei e ninguém pode ser isentado", escreve.
Na segunda-feira, o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que manteve a decisão de não levar Pedroso a julgamento transitou em julgado, depois de terem cessado todos os prazos legais para recurso, o que encerrou o processo relativamente a Paulo Pedroso.
Houve "desrespeito pelas regras do nosso sistema judicial por parte de quem conduziu a investigação", acusa Pedroso, acrescentando que essas pessoas "estavam investidas pela comunidade de um estatuto que lhes confere direitos e deveres especiais".
Paulo Pedroso justifica um eventual processo contra o Ministério Público com a necessidade de "levar até às últimas consequências a denúncia e a exigência de reparação pelas consequências severas e duradouras" que significou a sua implicação no caso de pedofilia.
O ex-deputado, que esteve preso preventivamente cinco meses e chegou a ser acusado de 23 crimes de abuso sexual de crianças, afirma- se "humilhado, ofendido, moralmente violentado" e considera-se alvo de "uma perseguição que passou por uma prisão já declarada ilegal" e uma acusação "que nunca deveria ter existido".
"A minha acção não é uma retaliação, entendo-a como o meu contributo possível, neste momento, para o apuramento da verdade", salienta.
Paulo Pedroso defende que "não pode ser passada uma esponja" sobre os alegados crimes praticados na Casa Pia e exige ao Estado que não se demita das suas responsabilidades.
"Toda a minha vida seria muito diferente se essa acusação ignóbil não tivesse sido proferida", lamenta Pedroso, que reclama "responsabilidades por todo o sofrimento" que o processo lhe causou e à sua família, com consequências pessoais e políticas.
Pedroso frisa que "alguém, algum dia, desencadeou as operações" que o implicaram no processo.
Diz ainda que, para contrapor a "máquina trituradora como a aliança que se estabeleceu entre certas fontes anónimas dos meios judiciais e certos meios de comunicação social" tinha apenas a sua palavra e os elementos de prova que reuniu.
"Os elementos de prova que contrariavam a minha pretensa incriminação foram ignorados, desvalorizados e até retorcidos, em vãs tentativas deles extrair o contrário do que demonstravam", acrescenta.
No dia em que foi conhecido o acórdão da Relação, a 09 de Novembro, Celso Cruzeiro, o advogado de defesa de Pedroso, anunciou a intenção de processar o Estado por prisão ilegal e instaurar processos- crime contra os que "imputaram, directamente, falsidades a Paulo Pedroso" e outros que as divulgaram.
Celso Cruzeiro considerou na altura que o momento mais dignificante para a Justiça seria "aquele em que as próprias vítimas identificassem o homem da fotografia número 8 (alegadamente Paulo Pedroso) e esclarecessem quem e em que circunstâncias os incitou, coagiu e levou a que identificassem" a pessoa como o ex-ministro de António Guterres.
O ex-deputado e antigo ministro socialista Paulo Pedroso esteve preso preventivamente cinco meses no âmbito do processo Casa Pia e chegou a ser acusado de 23 crimes de abuso sexual de crianças, mas a juíza de instrução, Ana Teixeira e Silva, decidiu que as provas não eram suficientemente fortes para o pronunciar (levar a julgamento).
O mesmo aconteceu com o humorista e apresentador de televisão Herman José (acusado de um crime de acto homossexual com adolescente) e com o arqueólogo submarino Francisco Alves (acusado de 34 crimes de lenocínio - fomento da prostituição), respondendo este último apenas por um crime de posse de arma, mas em processo autónomo.
O Ministério Público recorreu da decisão da juíza Ana Teixeira e Silva e o processo esteve cerca de um ano e meio no Tribunal da Relação de Lisboa, que acabou por dar razão à juíza de instrução.