Pequenos Centros Comerciais (des) esperam por clientes

Lojas fechadas à espera de novo dono e corredores vazios são o cenário desolador de alguns centros comerciais de Lisboa, que em tempos foram o destino de muitos consumidores e actualmente apenas lutam para sobreviver.

Agência LUSA /

Os motivos que levaram a esta situação são muitos. Os lojistas queixam-se da crise, da concorrência feroz das grandes superfícies, das rendas altas cobradas por alguns proprietários e da falta de divulgação do espaço.

Inaugurado há cerca de cinco anos, o moderno centro comercial "Twin Towers", em Sete Rios, já tem muitas lojas vazias e as que ainda sobrevivem têm pouca clientela, à excepção dos cafés e restaurantes que vão enchendo à hora de almoço com os funcionários dos escritórios das redondezas.

"A administração devia apostar mais na divulgação do espaço, promovendo eventos que atraíssem pessoas", disse à agência Lusa Ana Maria, uma funcionária de uma loja de pronto-a-vestir, considerando que é "uma pena" que aquele centro comercial situado numa zona de "bastante poder económico" tenha chegado àquela situação.

Por outro lado, "os espaços são muito caros", criticou, defendendo que a administração devia "baixar um pouco os valores", uma vez que há cada vez mais áreas comerciais e a concorrência é forte.

Numa das "torres" do centro, apenas uma loja está aberta, dando ao local um ar abandonado.

"Nós nesta torre, ainda vamos conseguindo sobreviver, muito graças ao restaurante japonês que atrai muitas pessoas", adiantou.

Ana Maria diz que não conhece soluções mágicas para a revitalização do centro, mas considera que se abrisse lojas como a "Zara" ou a "Bershka", o espaço ganharia "uma nova vida".

Cliente fiel do centro desde a sua abertura, Elsa Costa tem assistido com tristeza ao encerramento de várias lojas.

"Inicialmente as lojas estavam praticamente todas abertas e havia algum público, devia ser a curiosidade, mas pouco a pouco foram fechando", contou à Lusa, apontando como razões para esta situação as "rendas serem elevadíssimas e os comerciantes não terem o lucro suficiente para os custos fixos e as lojas serem pouco apelativas para o público".

Situado no bairro do Rêgo, o centro comercial Gemini, com cerca de 20 anos, tem resistido com dificuldade ao tempo e apresenta um ar decadente, com muitas lojas fechadas.

"O centro está a morrer aos bocadinhos e o negócio também", lamentou à Lusa a proprietária de uma loja de malas, Lina Felizarda, comentando em tom de desabafo: "era preciso fazer qualquer coisa, mas não sei o quê".

A lojista diz que vai tentar resistir mais algum tempo, mas garante: "se o negócio não der mais, fecho as portas e entrego as chaves".

Lina Felizarda lembra os tempos em que o espaço era muito frequentado, mas reconhece que "os grandes centros têm tudo e acabam por levar as pessoas".

Apesar da crise que afecta o Gemini, há ainda alguns estabelecimentos que vão fazendo negócio, como é o caso do supermercado e de uma loja de bijutaria situada junto à porta de entrada do centro.

Uma frequentadora do centro disse à Lusa que a pouca afluência de clientes pode dever-se a não estar bem localizado e "ter colado um bairro social".

Um centro comercial que também já teve melhores dias é o das Pedralvas, em Benfica, com 20 das 80 lojas fechadas, segundo Josué Baptista, da administração do espaço.

Proprietária de uma pequena retrosaria, Ercília Tomás diz que o negócio não está famoso: "estou aqui há seis anos e cada vez está pior, o que nos tem aguentado são os clientes fiéis".

Apesar da crise, Ercília Tomás diz que ainda não houve um dia "que ficasse a zero", devido à sua persistência de nunca sair da loja durante o horário de trabalho.

"Nestes seis anos já vi muitas lojas a abrir e a fechar, já muitas coisas aconteceram", contou a lojista, afirmando que se houvesse uma loja âncora no centro, como aconteceu em tempos com a Tribo, esta poderia servir de chamariz.

Josué Baptista, da administração do Pedralvas, confirmou à Lusa que a saída da loja Tribo contribuiu para a perda de clientes, assim como a saída de empresas da zona.

Mas, além destes casos, há outros centros comerciais em Lisboa que aparentavam ter tudo para ter sucesso, mas não conseguiram resistir.

Um deles foi o "Sétima Avenida", situado num edifício moderno na rua D. João V, perto das Amoreiras. Com dois pisos, lojas de marca, cabeleireiro e um grande supermercado, a galeria comercial apenas conseguiu sobreviver cerca de um ano.

Outros mais antigos também tiverem de encerrar por falta de clientes, como o velhinho "Atlântida", situado junto à estação da CP de Benfica.

Do centro, apenas resta a licença de utilização que ainda permanece colada na porta e duas placas nas paredes interiores a indicar as lojas. O edifício de dois pisos, com uma área de 1.600 metros quadrados, com garagem, está à venda.

Ao contrário do que se podia imaginar, o centro comercial mais antigo de Benfica, o Habibi, na Estrada de Benfica, tem conseguido resistir. O segredo, segundo os lojistas, deve-se ao facto de ser um espaço que oferece serviços.

Proprietária de uma loja de fotocópias neste centro há 23 anos, Teresa Ferreira explicou que as pessoas vão àquele espaço à procura de serviço e para passear vão aos outros centros.

Uma opinião partilhada por Dionísio Ribeiro, proprietário do café: "99 por cento das pessoas vem para consumir, não para passear", diz.

A agência Lusa contactou a Associação Portuguesa de Centros Comerciais e a administração das "Twin Towers", mas não conseguiu obter resposta.

PUB