Piscina do Campo Grande de referência a ponto de encontros sexuais e abrigo de toxicodependentes

Fechada há quase um ano, a antiga piscina do Campo Grande, em Lisboa, é hoje local privilegiado para encontros sexuais e abrigo de toxicodependentes, onde o lixo e a vegetação conquistam cada vez mais espaço.

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Projectada na década de 50 por Francisco Keil do Amaral, foi durante anos piscina de referência dos lisboetas principalmente durante o Verão, quando era retirada a cobertura e funcionava como espaço ao ar livre.

Usada em tempos pelo Sporting Clube de Portugal, servia ainda para a prática de natação durante o Inverno até que em Setembro de 2006 foi encerrada por falta de condições de utilização, nomeadamente dos balneários.

Actualmente, ferros, bidões, tubos, oleados, cadeiras partidas, caruma de pinheiros e latas de refrigerantes ocupam o recinto, que recentemente foi vandalizado.

"Isto está tudo abandonado, a rede foi cortada há dois meses e desde aí isto tem servido para virem para aqui com os rapazes fazer já se sabe o quê", disse à agência Lusa um jardineiro que trabalha no Campo Grande há mais de duas décadas, referindo-se aos encontros sexuais que ali têm lugar.

Embrenhado na tarefa de cortar a já alta vegetação que protege a piscina dos olhares de quem passa, o jardineiro - que recusou identificar-se - acredita que um espaço mais exposto desencorajará tais práticas, pelo menos durante o dia.

João Donato, 80 anos, reformado, considera "absurdo" e "inacreditável" o estado de abandono e de degradação a que chegaram as instalações da antiga piscina.

"Chegam-se a ver casais, sobretudo de homens, em actos sexuais em pleno dia. É inacreditável", disse à agência Lusa.

João Donato lidera a indignação do grupo de quatro reformados que passa os dias no Campo Grande em torno de uma mesa de cartas a jogar a sueca.

Vítor Silva, 72 anos, outro elemento do grupo, revolta-se com o chão "pejado" de preservativos nas imediações da piscina e em várias áreas do jardim.

Contactada pela agência Lusa, fonte da Comissão Administrativa (CA) da Câmara Municipal de Lisboa disse "desconhecer completamente" que o recinto da piscina esteja a ser usado para encontros sexuais.

A presidente da CA "já tinha solicitado o corte do matagal em torno da piscina do Campo Grande", disse a fonte, adiantando que a Comissão Administrativa vai agora mandar reparar a cerca e "envidar todos os esforços para pôr termo a esta situação" junto da Polícia Municipal.

Sobre a reabilitação da piscina, a fonte do executivo camarário disse à Lusa que há um projecto para a reabilitar e transformar num espaço ao ar livre "enquadrado na recuperação" daquela zona, mas tudo depende agora do novo presidente que sair das eleições de domingo, a que concorrem 12 candidatos.

Fernando Ricardo, funcionário público, 52 anos, antigo utente da piscina, não esconde a tristeza que a degradação do espaço lhe provoca.

"Quando me lembro de que há 10/15 anos vinha para a piscina, custa-me, dói-me ver aquilo fechado e naquele estado de abandono", referiu à Lusa.

Residente no Bairro das Colónias, Fernando Ricardo tinha na piscina e no jardim do Campo Grande "uma referência" na animação da capital, particularmente durante o Verão.

Este funcionário público, que trabalha naquela zona há cerca de um ano, passa frequentemente a sua hora de almoço no Campo Grande, um jardim que, segundo diz, em 40 anos beneficiou apenas da construção de um parque infantil e de um circuito de manutenção.

"O jardim está num estado de abandono terrível, muito sujo, há papéis, fezes e urina por todo o lado, um cenário que só chama mais marginais. Não me admira que a piscina seja um refúgio de droga", considerou.

Lamenta o fim do serviço de aluguer de bicicletas e o encerramento dos ringues de patinagem e dos campos de ténis, estruturas que traziam gente ao jardim.

Mas as queixas dos utentes do Campo Grande estendem-se também à falta de casas-de-banho, à degradação dos equipamentos (bancos, mesas), à falta de bocas de incêndio e de pontos de água, à insegurança e aos assaltos e roubos.

"As torneiras e os lavatórios dos balneários foram roubados, rouba-se tudo aqui, até mesmo as ninhadas de patos que nascem no lago", explicou à Lusa João Donato.

O lago é outro dos pontos críticos do jardim, já que, segundo o concessionário da Esplanada do Lago, uma das poucas estruturas que continua a funcionar, há sete anos que a água não é mudada e os tradicionais barcos apenas ao domingo registam alguma actividade.

O comerciante diz que tem hoje 10 por cento dos clientes que tinha há oito anos, uma realidade que atribui por um lado à perda de hábitos dos lisboetas e por outro à falta de atractivos e ao estado de conservação do jardim.

A Junta de Freguesia do Campo Grande, liderada pelo social-democrata Valdemar Salgado, considera imperativo interromper o ciclo de degradação e insegurança.

Valdemar Salgado considera que as intervenções no jardim têm seguido "uma política de remendos" sendo necessária uma acção de fundo que passe, entre outras coisas, por garantir o acesso seguro dos utentes e pela selecção das espécies arbóreas a preservar, de forma a tornar o espaço mais visível à população.

Em 2003, a Junta de Freguesia apresentou à Câmara um projecto para fazer do Campo Grande um "parque urbano actualizado", que prevê a revitalização dos espaços desportivos e dos lagos já existentes, a instalação de um Cybercafe, um mega-espaço jovem e um anfiteatro para a terceira idade.

Prevê ainda a criação da "Lisboa das Crianças" um conceito à semelhança do Portugal dos Pequeninos, um Centro de Educação Rodoviária e uma Feira de Coleccionismo.

Com as eleições à porta, Valdemar Salgado promete apresentar o projecto ao novo executivo para "estimular a autarquia a olhar a sério" para o Campo Grande.

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