Plano municipal de combate à droga falhou na redução do consumo em Lisboa

O vereador da Acção Social da Câmara de Lisboa admitiu hoje que a plano municipal de combate à toxicodependência falhou no objectivo de reduzir o consumo e defendeu o trabalho em rede para combater este flagelo.

Agência LUSA /

A autarquia deu início ao Plano Municipal de Prevenção da Toxicodependência em 1990, altura em que existiam no distrito de Lisboa 50 mil consumidores de substâncias ilícitas e havia o problema do bairro do Casal Ventoso.

Dezasseis anos depois, o vereador Sérgio Lipari Pinto considerou, citando indicações de técnicos da autarquia que estão no terreno, que "a situação está estagnada e não tem havido melhorias significativas na cidade".

"Não tem havido uma evolução positiva no sentido de que estamos a reduzir o consumo, de que está a haver uma defesa maior a nível de saúde pública", afirmou o vereador aos jornalistas, à margem do congresso "Toxicodependência - Um balanço para o futuro", promovido pelo autarca para assinalar o Dia Internacional Contra o Abuso e Tráfico de Drogas.

Sérgio Lipari Pinto adiantou que o congresso tem como objectivo "tentar saber se o caminho e o diagnóstico que tem sido traçado nos últimos anos para Lisboa tem sido o melhor" e admitiu redefinir a estratégia para melhor combater a toxicodependência.

Tem sido "uma política cinzenta e é isso que queremos ver e repensar", afirmou o autarca, acrescentando: "não temos tido resultados que nos satisfaçam".

Apesar de não haver números concretos sobre a toxicodependência em Lisboa, o autarca disse que "não houve aumentos", o que existe é novos comportamentos e novas zonas de consumo, como o Intendente, o Socorro e zonas limítrofes ao concelho.

"Ninguém é capaz de nos garantir hoje como precisão o número de toxicodependentes que a cidade tem, existem é tendências de comportamentos", assegurou.

A tendência aponta para que 80 por cento dos consumidores são do sexo masculino, 40 por cento residem nos locais de consumo e 20 por cento são imigrantes.

Ainda segundo o autarca, 30 por cento dos toxicodependentes não residem em Lisboa, 40 por cento já passaram por comunidades terapêuticas e 30 por centro frequentam os centros de apoio a toxicodependentes (CAT).

Em declarações aos jornalistas, a coordenadora do Núcleo de Intervenção em Dependência (NID) da Câmara de Lisboa, Filomena Marques, explicou que a dificuldades de saber o número de toxicodependentes se deve à quantidade de consumidores oriundos de outras partes do país.

"É um número que está sempre em mudança. Na década de 90, falava-se em 50 mil consumidores no distrito de Lisboa. Mas, ao fim de 16 anos nesta área, mal de nós se ainda existisse esse mesmo número", salientou a responsável.

Para a coordenadora do NID, o programa tem tido frutos a nível de consumidores problemáticos [consumos intravenosos], havendo muito poucos novos casos porque este tipo de drogas [heroína e cocaína] está a ser utilizado de outras formas, como fumadas ou inaladas.

Questionada sobre o número de pessoas que recorrem às unidades móveis de distribuição de substituição opiácea, a responsável adiantou que são em média 2.400 toxicodependentes por dia.

Para travar o flagelo da toxicodependência na cidade, o vereador e Filomena Marques defendem o trabalho em rede.

É necessário "trabalhar cada vez mais em parceria com as instituições que têm responsabilidade nesta área, tanto em termos governamentais, como a própria sociedade civil, para que em conjunto se consiga ultrapassar o drama dos consumos problemáticos de toxicodependência", sustentou Filomena Marques.

A responsável acrescentou que tem havido um esforço financeiro muito grande da autarquia para evitar que o problema se agrave, informando que a autarquia investiu 1,2 milhões de euros em 2002 e 1,04 milhões de euros em 2005.

Sobre a possibilidade da criação de Salas de Injecção Assistida em Lisboa, Sérgio Lipari Pinto afirmou que se esse for o melhor caminho para a defesa da comunidade e dos toxicodependentes, não se oporá a isso.

Teresa Nunes Vicente, do CAT da Taipas, defendeu, por seu turno, que se devia apostar num contacto muito próximo e afectivo das equipas da rua com as pessoas.

Recomendou ainda que se evite a grande rotatividade dos técnicos, "para se criar uma maior estabilidade com a população alvo".

O Congresso promovido e organizado pelo vereador Sérgio Lipari Pinto, com a colaboração do Instituto Nacional de Administração (INA), conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros na temática da droga e toxicodependência.

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