«Poesia Completa» de José Saramago publicada em Espanha

Madrid, 17 Abr (Lusa) - A «Poesia Completa» do escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998 José Saramago acaba de ser editada em Espanha, num volume de mais de 600 páginas, em português e espanhol, onde são incluídos os seus três livros de poemas.

Agência LUSA /

«Os Poemas Possíveis», de 1966, «Provavelmente Alegria», de 1970 e «O Ano de 1993», de 1975, são os três volumes incluídos.

«Creio que, na minha poesia, está tudo o que sou agora, as minhas obsessões e preocupações, a minha maneira de ver a vida, a sociedade, a história», disse José Saramago, numa entrevista à agência espanhola EFE, a propósito do lançamento.

Saramago considera que não é «um poeta genial», nem um «grande poeta», mas apenas um «bom poeta».

Antes da poesia agora publicada, o escritor só escrevera uma novela, «Terra de Pecado», publicada em 1947, depois do que manteve um silêncio de quase vinte anos.

Depois dos seus versos, voltou à ficção e escreveu, nomeadamente, «Memorial de Convento», «O Ano da Morte de Ricardo Reis», «O Evangelho segundo Jesus Cristo», «Ensaio sobre a Loucura» e «A Caverna».

Juntamente com «a satisfação» de ver reunido tudo o que fez no campo poético, está o «desconcerto» que Saramago diz sentir por se ir buscar agora «algo que pertence a um tempo que ficou muito para trás», não só pelos anos que passaram mas também pela evolução literária que a sua obra experimentou.

Em relação à poesia, sente o mesmo que o que experimenta sobre a sua obra teatral: «Tenho quatro obras de teatro e poderia considerar- me um dramaturgo, mas o que sou é romancista». Com os outros géneros, «é como se estivesse a falar um idioma que não é o meu», confessa o escritor.

Tal como os seus romances, a poesia de Saramago é reflexiva e carregada de ideias. Nos dois primeiros volumes de poemas fala no amor, na passagem do tempo, na palavra, na própria poesia e revela já a sua predilecção por uma linguagem austera, «de expressão contida».

«Sempre me atraiu esse verso, como se estivesse esculpido na pedra, algo que alguém vê e pode ficar com a ideia de que não há uma palavra de sobra», sublinhou.

O terceiro livro é muito diferente dos outros dois e, de certo modo, abre a porta à ficção que consagraria Saramago como um dos grandes romancistas do séc.XX.

Na entrevista, José Saramago revela estar a escrever um novo romance que será editado provavelmente, em Outubro, em Portugal e, alguns meses depois, em Espanha.

Em Março, o escritor lançou em Portugal uma peça teatral, «Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido», escrito para servir de fundamento dramático ao libreto de uma ópera de Azio Corghi, um compositor italiano.

MF.

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