Polícia brasileira vai investigar em Portugal vida dos acusados no caso "Furacão"
A Polícia Federal do Brasil vai investigar em Portugal as movimentações financeiras dos dois portugueses detidos no âmbito da "Operação Furacão" e deverá fazer um levantamento dos bens dos acusados, informou à Lusa fonte policial.
"Há necessidade de enviar agentes a Portugal para investigar a questão dos bens de Laurentino Frei dos Santos e Licínio Soares Bastos e suas movimentações financeiras, mas ainda não sabemos quando isto ocorrerá", afirmou a fonte da polícia federal à Lusa.
Segundo a fonte, o processo sobre a organização criminosa que actuava na venda de sentenças judiciais para beneficiar casas de jogos no Brasil está a correr sob segredo de justiça, pelo que os detalhes das investigações não podem ser reveladas.
Os dois portugueses foram presos durante uma operação lançada pela Polícia Federal no dia 13 de Abril, juntamente com outros empresários, advogados, delegados e magistrados, que são acusados dos crimes de tráfico de influência, corrupção passiva e activa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Os dois empresários portugueses estão presos com outros 22 acusados de envolvimento com a máfia dos jogos que não têm foro privilegiado no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, no Rio de Janeiro.
Os quatro acusados que possuem foro privilegiado (magistrados) já foram libertados e vão apresentar a sua defesa no Supremo Tribunal Federal (STF).
Os envolvidos no caso "Furacão" que não têm foro privilegiado podem ser transferidos para a prisão de segurança máxima de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do Brasil, a partir da próxima quinta-feira.
Nesta data, termina o prazo concedido pela juíza da 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Ana Carvalho, para que os acusados prestem novos depoimentos, já que muitos não quiseram responder às questões da justiça, alegando que os seus advogados não tiveram acesso às gravações telefónicas feitas pela Polícia Federal.
As gravações de mais de 220 dias de conversas telefónicas, legalmente autorizadas, revelam que advogados e empresários negociaram com juizes a compra e venda de sentenças judiciais favoráveis às casas de jogos.
Na semana passada, o advogado dos dois portugueses, Rogério Marcolini de Souza, disse à Lusa que já apresentou a defesa prévia dos seus clientes, na qual arrolou oito testemunhas.
O advogado alega que os dois empresários foram sócios de uma casa de bingo em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, de 2000 a 2002, quando a actividade era legal e regulada pela Loterj, empresa pública responsável pela promoção e venda de lotarias no Estado, mas que não têm actualmente actividades ligadas aos jogos.
As petições feitas pelo advogado para que Licínio Bastos e Laurentino Santos aguardassem o julgamento em liberdade foram negadas em três instâncias - Tribunal Regional Federal, Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.
O julgamento do Habeas Corpus, entretanto, ainda não ocorreu em nenhuma instância, segundo Marcolini de Souza.