Portugal e Brasil contribuem fortemente para crescimento da epidemia
Portugal e Brasil são fortes contribuintes para o crescimento da epidemia de Sida no mundo, enquanto outros países de língua portuguesa como Timor-Leste e Angola mantêm níveis baixos da doença, revela um relatório da ONU/Sida hoje divulgado.
Segundo o documento, "Um balanço sobre a epidemia de sida 2004", elaborado pela ONU/Sida e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e publicado uma semana antes do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que se assinala a 01 de Dezembro, Portugal é um dos países da Europa ocidental (que regista 610 mil infectados) onde a taxa de diagnóstico de novas infecções por HIV é mais elevada.
Em Portugal, a injecção de drogas constituiu cerca de 50 por cento dos diagnósticos de infecção de HIV em 2002, observando-se sempre uma prevalência da doença de pelo menos 20 por cento entre os consumidores de drogas injectáveis, que constitui a "grande causa" da epidemia no país, segundo o relatório.
Já na América Latina, um terço dos 1,7 milhões de infectados estão no Brasil, onde a epidemia se propagou em todas as regiões, de forma díspare.
"Há epidemias graves em curso em países como o Brasil", que tiveram como causa inicial as relações homossexuais não protegidas, seguidas do consumo de drogas injectáveis, aponta o documento.
Actualmente, a transmissão heterossexual é a principal causa de propagação do vírus no Brasil e as mulheres são cada vez mais atacadas.
Um novo estudo mostra que o "status" sócio-económico inferior tem uma forte correlação com a prevalência mais elevada entre as prostitutas em Santos ou em São Paulo.
Globalmente, sete por cento dos "profissionais do sexo" são seropositivos.
A maior parte das mulheres infectadas tem rendimentos baixos e pouca instrução.
O papel das drogas injectáveis no Brasil não deve ser subestimado, segundo o relatório, uma vez que em certas regiões os consumidores representam pelo menos metade dos casos da doença.
Já na Ásia, Timor-Leste é apresentado como um dos países com baixa prevalência da doença, mantendo "níveis fracos", mesmo entre as populações que correm grandes riscos de exposição ao vírus.
No entanto, a ONU/sida alerta para a possibilidade "muito séria" de ocorrerem "aumentos espectaculares" da incidência.
A mesma situação poderá acontecer em Angola. Até agora, a guerra - que provocou que os civis não pudessem circular livremente pelo país, o corte dos transportes e corte de acesso a certas zonas - "serviu para atrasar a propagação de HIV".
Nas consultas pré-Natais de Luanda, a prevalência de HIV é de 3 por cento. Observam-se, no entanto, cerca de 33 por cento de prevalência entre as prostitutas, o que demonstra a capacidade do virus se instalar nos níveis de risco.
"Com a vida normal de regresso, tudo leva a crer que se possa dar uma aceleração da propagação do vírus", acrescenta-se no documento.
A África austral é a pior zona do Continente, contando com a contribuição de Moçambique, país sobre o qual o relatório apresenta escassos dados.
O documento indica no entanto que a esperança de vida à nascença naquele país não passa dos 40 anos devido precisamente à epidemia de Sida.
Em Moçambique, país que figura entre os doze mais flagelados do mundo pelo vírus, surgem 500 novos casos por dia em pessoas entre os 15 e os 49 anos, anunciou em Outubro um responsável governamental moçambicano.
A taxa de prevalência de Sida em Moçambique já ultrapassou os 14,9 por cento entre a população adulta, com mais de 1,4 milhões de pessoas infectadas com o HIV, anunciou em Julho o Governo moçambicano.