Portugal investe no mundo Argo de observação dos oceanos
Portugal está a lançar flutuadores no oceano que recolhem informações para melhorar as previsões meteorológicas e sobre as alterações climáticas, devendo chegar ao fim do ano com seis flutuadores a funcionar.
Em julho foi lançado o primeiro flutuador Argo, que vai recolher dados do oceano nos próximos anos, e ainda este ano deve lançar mais cinco, contribuições para uma rede de 4.000 "vigilantes" do mar global.
O lançamento dos flutuadores é da responsabilidade do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que em Portugal é o ponto de contacto do Programa Internacional Argo, uma rede de observação do Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS - Global Ocean Observing System).
Na sequência do primeiro lançamento em breve serão colocados na água mais três flutuadores iguais ao lançado em julho ao largo de Setúbal, e ainda um que faz mais medições e um geoquímico, que mede uma grande série de parâmetros, explica à Lusa Miguel Santos, investigador coordenador do IPMA.
Atualmente o programa internacional Argo já opera uma rede de 4.162 flutuadores, espalhados por todos os oceanos, que medem temperatura, salinidade, pressão e correntes oceânicas até aos 2.000 metros de profundidade, transmitindo os dados em tempo quase real, via satélite.
Segundo Miguel Santos é assim o flutuador (de 10 a 15 quilos) já lançado ao mar e serão assim três dos próximos. Mas um quarto irá também medir o oxigénio, e um quinto junta aos mesmos dados ainda outros como nitratos, partículas em suspensão, a clorofila ou o ph.
Para já, e enquanto todo o programa Argos se está a atualizar, aumentando gradualmente a quantidade de flutuadores mais completos, são recolhidos em cada mês 13.000 perfis de temperatura e de salinidade, uma informação que melhora as previsões meteorológicas no mundo e torna mais precisas as previsões sobre alterações climáticas.
Em entrevista à agência Lusa o investigador do IPMA e do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), do Algarve, disse que o programa Argo, o único programa operacional global de observação do oceano, começou em 1999 e hoje os milhares de "observadores" povoam o oceano global.
"A ideia é observar o oceano global com um único instrumento", diz, sublinhando que por isso o programa tem regras: um flutuador Argo tem regras assim como as missões. Todos os flutuadores completam ciclos de 10 dias, partindo da superfície do mar para os mil metros de profundidade, onde se mantém nove dias, descem depois aos dois mil metros e é na subida que traçam os perfis, através dos sensores.
À superfície ficam algumas horas, transmitem os dados, e voltam a descer para os mil metros, onde as correntes não têm tanta força e por isso se mantém sensivelmente nas mesmas zonas do oceano durante o tempo de vida, cerca de cinco anos.
Os dados enviados são disponibilizados automaticamente e "são muito importantes para calibrar os modelos globais, os de previsão atmosférica, que estão cada vez melhores por causa destes dados", diz o investigador.
"São fundamentais porque o oceano é fundamental no sistema climático. As previsões são cada vez mais fiáveis porque cada vez temos mais flutuadores", que também são usados na previsão de furacões, afirma Miguel Santos, biólogo e também presidente da Associação Portuguesa de Oceanografia.
Na entrevista destaca também a importância dos flutuadores para as alterações climáticas, porque com os dados disponibilizados pode começar a ver-se tendência de temperaturas e salinidade. E quando os flutuadores evoluírem no número de sensores, no âmbito do projeto chamado "One Argo" será também medida, por exemplo, a acidificação.
Miguel Santos diz que em relação à salinidade não há uma tendência, mas já se percebeu que há cada vez mais acidificação (baixa do pH - indicador de acidez, neutralidade ou alcalinidade - da água do mar devido ao aumento da concentração de dióxido de carbono dissolvido, potenciado pelas atividades humanas). E em geral há uma tendência de aquecimento do oceano global.
"Falamos de um aumento da temperatura global, da Terra. Não quer dizer que num determinado sítio não possa haver condições de variabilidade que (a temperatura) desça um ano ou dois. É nisso que os que não acreditam nas alterações climáticas se baseiam", refere.
Por vezes, acrescenta o investigador, há dificuldade em separar o que é provocado pelas emissões ou pela variabilidade natural. Mas garante que o que se vê agora é que a taxa de crescimento da temperatura é muito maior do que no passado.
Dados que o Argo fornece, um programa do qual até recentemente Portugal esteve afastado porque até agora nunca tinha conseguido comprar flutuadores.
"Nunca houve investimento nisto. São sistemas de observação, acabam por ser uma infraestrutura e a Fundação para a Ciência e Tecnologia não financia", lembrou.
Agora o IPMA quer uma nova política de monitorização de oceanos, quer parcerias. E em outubro vai fazer novos lançamentos, aproveitando uma campanha de investigação do IPMA nos montes submarinos da zona da Madeira.
Nessa altura espera-se que já haja escolas envolvidas, que adotem um flutuador, lhe deem um nome, o sigam ao longo dos anos.