Português clonou rato com método pioneiro
Um português clonou com sucesso um rato de labo ratório, recorrendo a uma técnica inovadora nesta área que já motivou o interesse de vários países em aplicá-la a roedores e a outros animais de maior porte.
O feito, que mereceu honras de publicação na prestigiada revista cientí fica "Cloning and Stem Cells", registou-se em 2004 e resultou no nascimento de " Figo", um rato clonado que sobreviveu nove meses.
O autor da experiência foi Ricardo Ribas, licenciado no Instituto de Ci ências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto, e graduado em Biologia Básica e Aplicada.
Ricardo Ribas foi supervisionado neste trabalho por Mário de Sousa, per ito em genética da reprodução, e Ana Colette, especialista em clínica veterinári a, ambos do ICBAS.
Para este projecto, que deu os primeiros passos em 2001-2002, Mário de Sousa aliciou um dos maiores especialistas na área da clonagem, o escocês Ian Wi lmut, criador da famosa ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado a partir da tr ansferência nuclear de uma célula adulta.
Mário de Sousa contou à Lusa que o escocês aceitou o desafio e acolheu com grande entusiasmo Ricardo Ribas.
O estudante não se ficou pela Escócia, já que o objectivo deste project o era criar uma nova técnica de clonagem que exigisse menos tarefas de manipulaç ão e, por conseguinte, reduzisse as tentativas até ao sucesso, o qual se traduz no nascimento de um animal igual ao dador (de células).
Ricardo Ribas aprendeu a técnica na Nova Zelândia e regressou depois à Escócia para aplicá-la.
Para a criação deste clone foram utilizadas as células dos ovários (ovó citos) do rato que se pretendeu clonar, as quais traziam a informação genética c om que "Figo" nasceu.
Os ovócitos foram sujeitos à remoção da zona pellucida (que protege o o vócito e o embrião em fases iniciais de desenvolvimento), com vista a facilitar a manipulação.
Este método de clonagem revelou-se muito mais eficaz do que os utilizad os até então, pois conseguiu o nascimento de um animal clonado após a transferên cia de 33 embriões, menos do que os necessários em anteriores métodos.
O ratinho "Figo" - nome com que o clone foi baptizado, por influências do campeonato europeu de futebol, que decorria quando foi clonado - nasceu saudá vel, embora obeso (como todos os animais clonados), o que animou os cientistas, principalmente porque a Dolly, à semelhança de outros animais entretanto clonado s, nasceu com anomalias genénitas.
Fotografado como uma estrela - não do relvado, mas do laboratório - "Fi go" durou nove meses. Foi a "menina dos olhos" de Ricardo Ribas que, apesar de s er um homem da ciência, se afeiçoou ao roedor.
"Acabamos por criar laços de afectividade, pois não deixa de ser um ani mal criado por nós", contou Ricardo Ribas à Lusa.
Apesar do sucesso de "Figo", alguns mistérios relacionados com a clonag em permanecem por desvendar.
Segundo Mário de Sousa, "os animais clonados apresentam uma disfunção d o sistema imunológico", para a qual "ainda não existe resposta".
Inicialmente, e perante a artrite de que sofria a ovelha Dolly, os cien tistas julgavam que estes animais clonados eram vítimas de envelhecimento precoc e e daí apresentarem doenças que normalmente atacam animais mais velhos.
Contudo, as experiências seguintes demonstraram que estes animais têm d eficiências a nível do sistema imunológico, o que, para Mário de Sousa, é sufici ente para a técnica ainda não ser aplicada em humanos.
"Primeiro, temos de entender estas deficiências da clonagem e só depois de as entendermos e vencermos é que poderemos ir mais longe", disse.
O rato "Figo" foi eutanasiado em Fevereiro de 2005, após nove meses de uma saudável existência, acompanhada de perto por Ian Wilmut, que sempre se inte ressou por este projecto.
A decisão de entanasiar "Figo" deveu-se a uma hemorragia que atingiu o ouvido do rato, que apresentava igualmente uma conjuntivite no olho.
Segundo Ricardo Ribas, estes problemas são comuns a animais desta raça e a morte do ratinho não se deveu, por isso, à técnica da clonagem.
A morte do rato "Figo" não apagou o sucesso da experiência, que mereceu já a atenção de cientistas de vários países, interessados na sua aplicação em roedores e outros animais de maior porte.
No caso dos roedores, explicou Ricardo Ribas, o interesse deve-se ao fa cto da gestação destes animais ser muito curta (21 dias), o que permite acompanh ar rapidamente os resultados.
Mas o grande objectivo desta técnica é aperfeiçoar a clonagem com vista à sua utilização em animais maiores, nomeadamente gado, para a produção de leite com antibióticos, por exemplo.