Portugueses optam pelo carro em detrimento dos transportes públicos

por Cristina Sambado - RTP
Rafael Marchante - Reuters

Os portugueses estão cada vez mais adeptos do carro e a taxa de motorização está a aumentar, com 459 automóveis por cada mil habitantes. Apenas 10 por cento dos condutores usa os transportes públicos nas deslocações entre casa-trabalho-casa. Os dados são de um estudo realizado pelo observatório do Automóvel Clube Portugal. Quase metade dos inquiridos (47 por cento) admite falar ao telemóvel enquanto conduz.

Segundo o estudo, três a cada quatro condutores conduzem diariamente, a quase totalidade veículos ligeiros. 47 por cento faz entre 50 a 200 quilómetros por semana.

Os dados foram recolhidos em 5.600 entrevistas a pessoas com carta de condução, 90 por cento das quais têm pelo menos um carro no seu agregado familiar. Onze por cento dos agregados familiares possuem quatro ou mais automóveis.

Para 78 por cento dos inquiridos, o facto de optar pelo automóvel nas deslocações casa-trabalho-casa, prende-se com a sua flexibilidade, sobretudo quando há percursos intermédios, como levar as crianças à escola.

Os autores do estudo destacam o facto de 90 por cento dos adultos (maiores de 18 anos) possuir carta de condução e pelo menos um veículo no seu agregado familiar.

O segundo modo de transporte mais frequente são os transportes públicos, com cerca de 10 por cento, seguido da deslocação a pé, com sete por cento das preferências. Para 3,5 por cento dos inquiridos, o meio de transporte de eleição é a moto e apenas 0,2 opta pela bicicleta. A valorização é dada ao conforto e à privacidade que suplantam o estatuto social e o estilo de vida associados à posse do automóvel.

Em relação aos automobilistas que efetuam o percurso casa-escola-casa, a opção carro surge numa percentagem menor: 45 por cento dos estudantes deslocam-se de automóvel e 30 por cento de transportes públicos, 3,8 por cento opta pela mota e 1,9 por cento pela bicicleta.

A falta de estacionamento junto ao local de residência é a principal precaução dos agregados familiares com automóvel. 31 por cento não tem estacionamento próprio e estaciona na via pública.

Em relação à perceção dos agregados familiares sobre os transportes públicos, uma das preocupações menos relevantes para os inquiridos é o preço. A eficiência do transporte, medida por fatores como a pontualidade, a flexibilidade, frequência, tempo de viagem, entre outros, pesa mais na avaliação final.

Para os inquiridos, a frequência e a qualidade das ligações oferecidas (onde a existência de um transbordo obrigatório é um fator determinante) são sistematicamente os aspetos que são percebidos como os menos satisfatórios da oferta, com uma pontuação média a variar entre 2,8 e 2,9 numa escala de 1 (mais negativo) a 8 (mais positivo). No caso dos estudantes essa perceção é ligeiramente maior, com uma pontuação de 3,4.
Parque automóvel
O aspeto mais saliente é o facto de 90 por cento dos inquiridos possuir pelo menos um veículo no seu agregado familiar e mais de 65 por cento dos agregados familiares têm dois ou mais veículos. O que representa uma média de 1,89 viaturas por agregado e uma taxa de motorização de 459 veículos por cada mil habitantes.

Para os autores do estudo, “surpreendente é o facto de o número de agregados familiares com quatro ou mais veículos já totalizar 11 por cento, enquanto os que possuem três veículos são 17 por cento”. Cada carro em Portugal tem em média 9,3 anos e mais de 40 por cento do parque automóvel tem mais de 10 anos.

As motas integram o parque motorizado de 8 por cento dos agregados.

A maioria dos carros (85 por cento) são movidos a gasóleo, os híbridos e os elétricos representam dois por cento.

A vida útil do automóvel é prolongada o mais possível, o que é confirmado não só pelo elevado número de quilómetros acumulados por veículo (cerca de 111 mil quilómetros) e pelo fato de os automóveis com dez ou mais anos ultrapassarem os 150 mil quilómetros, como também pelo número de revisões que são realizadas num ano: 67 por cento fizeram uma revisão e 15 por cento dias, sendo que os veículos com mais de 20 mil quilómetros realizados no ano fazem, em média, pelo menos 1,5 revisões.
Quase metade admite uso do telemóvel
Quase metade dos inquiridos (47 por cento) admite falar ao telemóvel enquanto conduz, seja através do sistema mãos livres ou pegando mesmo no aparelho. Três em cada quatro consideram mais seguro usar o sistema de mãos livres para falar enquanto conduzem; quase 70 por cento refere que o automóvel não possui o sistema de controlo de voz.

Para os autores do estudo, “o uso do telemóvel revelou-se preocupante, enquanto distração”.

A maioria dos condutores (57 por cento) já foi mandada para pelas brigadas de trânsito. A grade maioria dos inquiridos refere que não esteve envolvida, nem teve familiares ou amigos, envolvidos em acidentes rodoviários graves.

Para 24 por cento dos inquiridos, a condução dos portugueses está melhor do que há dois anos, sobretudo devido ao maior rigor das leis e das autoridades. Já 68 por cento considera que está pior ou igual.

Dezanove por cento dos inquiridos admite que já adormeceu ao volante, mesmo que momentaneamente. E para metade dos condutores os ciclistas estão mal preparados.
Sinalização e estado das estradas com nota negativa
A maioria dos condutores atribui avaliação positiva às escolas de condução e aos centros de inspeção periódica. No entanto, o estado de conservação e sinalização das estradas regista uma avaliação negativa. Para 55 por cento dos inquiridos a sinalização das estradas é razoável. Já o estado de conservação das vias (não incluindo as autoestradas) obteve uma nota razoável de 75 por cento dos condutores.

A grande maioria dos inquiridos concorda com a atual forma de avaliação/aprovação de novos condutores, tanto relativamente aos exames de código (55 por cento) como aos exames de condução (52%).

O tema telemóvel, quando se fala no sentido de legislar para proibir a sua utilização, é dos que menor concordância teve entre os inquiridos. Com 61 por cento a defender uma lei que proíba a utilização do telemóvel, com ou sem mãos livres, para os condutores e 39 por cento contra tal possibilidade. No entanto, 82 por cento defende a proibição de escrever/enviar SMS ou e-mail.

Nas matérias como instalar radares junto às escolas, equipar os carros com tecnologia que impeça a condução com álcool, a concordância ultrapassa os 90 por cento.

Para a maioria dos condutores (54 por cento) a medida da carta por pontos vai melhorar o comportamento dos condutores. No entanto, 35 por cento afirma ter pouco conhecimento sobre a medida.

Verifica-se um desconhecimento geral em relação às alterações à renovação da carta de condução, sendo o encurtamento dos períodos de renovação a principal recordada pela maioria dos condutores (nove por cento do total da amostra).

Para 81 por cento dos inquiridos, os condutores de bicicleta deveriam ter seguro obrigatório de responsabilidade civil e 89 por cento defende a obrigatoriedade dos ciclistas usarem capacete dentro das localidades e estradas nacionais.

pub