Portugueses repatriados do canadá chegam a Lisboa carregados de revolta e tristeza
Um sentimento de revolta e tristeza dominava os ex-emigrantes portugueses no Canadá que chegaram hoje ao aeroporto da Portela, em Lisboa, depois de repatriados pelo governo canadiano por estarem ilegais naquele país.
Apanhados de surpresa pela recente decisão do governo canadiano, os portugueses estabelecidos naquele país, com trabalho, casa, carro e escola dos filhos, tiveram de deixar quase tudo no Canadá, trazendo apenas os bens essenciais.
"Estes dias têm sido uma luta horrível. Sempre lutei para conseguir ficar", disse aos jornalistas a portuguesa Maria Margarida Alves, 41 anos, que veio acompanhada pelo seu filho Rafael, de 19 anos.
Esta ex-emigrante estava há sete anos no Canadá e recebeu no passado dia 10, pelos serviços da imigração canadianos, a notícia de que "tinha 15 dias para sair do país porque ia ser repatriada".
Com a viagem paga pelo governo canadiano, Maria Margarida Alves, natural do Minho, chegou a Lisboa sem saber como vai ser a sua vida.
"Esperava que o Governo [português] fizesse qualquer coisa.
Não sei o que hei-de fazer. Preciso de trabalho e não tenho apoio nenhum", afirmou.
O filho de Maria Margarida acabou recentemente os estudos e estava já a trabalhar no Canadá.
"Ele está a ser mais forte do que eu, mas esta situação também lhe está a custar muito", disse Maria Margarida Alves.
Para trás ficaram todas as suas coisas, "em casa de uma amiga", os mais de três mil euros gastos no processo de legalização que não teve êxito e o "sonho de vir a Portugal apenas de férias".
Um possível regresso ao Canadá, onde trabalhava em restaurantes, está, por enquanto, fora de hipóteses.
"Não tenho muita esperança de voltar, mas se um dia isso acontecer, só regresso com a segurança de que não volto", garantiu.
Quem tem a certeza de que vai regressar dentro de "um mês ou dois" é Daniel Malta, 32 anos, natural da Póvoa do Varzim e a trabalhar há cinco anos na construção civil em Toronto.
"Vou regressar daqui a um mês ou dois. Se conseguir entrar, não me entrego até ter a certeza que fico", disse o ex-emigrante, referindo-se ao facto de as autoridades canadianas o terem identificado por ter dado entrada no processo de legalização.
à semelhança dos outros, também Daniel Malta pagava Impostos no Canadá e foi chamado pelos serviços da imigração, que lhe comunicaram que ia ser repatriado.
Foi com "um grande sentimento de revolta" que Filipe Ferreira resumiu tudo o que tem passado nestes últimos dias, desde que soube que tinha de regressar a Portugal.
Acompanhado pela mulher, Maria, e pela filha de sete anos, Tatiana, o ex-emigrante mostrou-se inconformado pela decisão do governo canadiano.
"Tentámos a legalização, gastámos milhares de dólares canadianos nesse processo, trabalhava e fazia descontos. Não havia motivos e nem nos explicaram esta decisão", afirmou aos jornalistas.
A viver há cinco anos no Canadá, a família Ferreira deixou "tudo lá".
"Só podemos trazer as malas. Queremos voltar para ir buscar o resto das coisas", disse Maria Ferreira, natural da Lourinhã.
Triste com este regresso forçado, Pedro Alves, 27 anos e a viver há seis no Canadá, desabafou que o governo canadiano "está a mandar embora as pessoas que levam a economia do país para cima".
Natural de Valpaços, este trabalhador da construção civil "ainda não sabe o que vai fazer" em Portugal.
Revoltado com toda esta situação vivida por centenas de portugueses residentes no Canadá estava também Aporino Janeiro, um emigrante naquele país há 34 anos que chegou hoje a Lisboa para passar férias.
"O ministro canadiano da Imigração não percebe nada. As pessoas tentam e esforçam-se para ter uma vida melhor e depois têm de ir embora. É revoltante", disse indignado.
Nos últimos dias têm surgido notícias de que um número ainda indeterminado de famílias portuguesas em situação ilegal no Canadá começaram a receber este mês ordens de repatriamento.
Este fim-de-semana começaram a chegar os primeiros portugueses aos Açores e ao Porto.
Hoje chegaram mais ex-emigrantes a Lisboa e a Faro.
Embora não seja uma acção dirigida especificamente contra a comunidade lusa, ela tem sido uma das mais afectadas.
No Canadá residem cerca de meio milhão de portugueses, concentrando-se a grande maioria na área de Toronto, onde se estima que existam 15 mil indocumentados.