Preço da vacina contra o Papiloma vírus pode prejudicar relação custo/eficácia
A vacinação contra o Papiloma vírus pode ter um "impacto significativo" na prevenção do cancro do útero quando não há rastreio da doença, mas o preço da vacina pode prejudicar a sua relação custo/eficácia, indicam dados apresentados este domingo.
Numa monografia sobre o papel da vacinação e do rastreio na prevenção do cancro do colo do útero, apresentada hoje na 23ª Conferência Internacional sobre Papiloma vírus, que decorre até dia 07, em Praga, os autores assinalam também que, nos países com recursos limitados, o rastreio da doença deve abranger mulheres com 35 anos ou mais e que todas as mulheres devem ser submetidas a este processo pelo menos uma vez na vida.
O Papiloma vírus (HPV) é o agente responsável pelo cancro do colo do útero, a segunda causa mais comum de cancro nas mulheres a seguir ao da mama, e que mata anualmente cerca de 200 mulheres em Portugal.
Dentro de poucos meses deverão estar disponíveis duas vacinas contra os tipos de HPV com mais potencial cancerígeno, o 16 e o 18, que são responsáveis por cerca de 70 por cento dos casos de cancro associados a este vírus.
Nos Estados Unidos, uma das vacinas, a Gardasil, foi já aprovada pela autoridade nacional para o sector, o Food and Drug Administration (FDA), para ser administrada em mulheres entre os nove e os 26 anos, e custa cerca de 340 dólares (264 euros).
Esta vacina (contra os tipos virais do HPV 16, 18, 6 e 11) foi também pré-aprovada pela agência europeia do medicamento (EMEA), e deverá ser comercializada na Europa até ao final do ano.
Foi também já apresentado um pedido de comercialização para outra vacina, designada Cervarix, contra os tipos 16 e 18 do HPV.
O rastreio da doença é realizado através do exame Papanicolau, que consiste na retirada de células do colo do útero e posterior exame laboratorial, para identificar a presença do vírus, que é transmitido entre homens e mulheres por via sexual.
Na monografia apresentada hoje em Praga, coordenada por Fernando Xavier Bosch, do Instituto Catalão de Oncologia, os autores assinalam ainda que a importância do actual exame de rastreio à presença do vírus para a prevenção da doença vai diminuir à medida que a vacinação reduzir a prevalência dos tipos virais mais oncogénicos.
Porém, esta tendência pode ser invertida se os exames citológicos passarem a centrar-se na detecção do tipo de HPV envolvido nas infecções.
Os autores salientam ainda que, nos países onde o rastreio da doença é realizado de forma eficaz e abrangente, a vacina contribui para diminuir a morbilidade e mortalidade associada à doença e que o impacto de vacinar também os rapazes vai depender do grau de cobertura vacinal obtida entre as mulheres jovens.