Primeira clínica em Lisboa para agressores abre em Dezembro

O primeiro gabinete em Lisboa para ajudar os agressores nos casos de violência doméstica a mudarem de comportamento começa a funcionar no início de Dezembro, revelou um dos responsáveis da unidade, a quarta do género no país.

Agência LUSA /

De acordo com Carlos Poiares, do Departamento de Psicologia Criminal e do Comportamento Desviante da Universidade Lusófona, este gabinete foi criado há cerca de um mês por protocolo com a Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM) e vai começar a funcionar no início de Dezembro.

O responsável falava à Agência Lusa à margem do debate "Fórum Diga Não à Violência Doméstica", que hoje decorreu no Instituto Português da Juventude, em Lisboa.

Segundo disse, esta unidade vai basear-se no "modelo cognitivo- comportamental", que visa "tentar motivar a pessoa a mudar de atitude", mas para que ela interiorize essa necessidade e não apenas "porque o juiz mandou", disse.

"O indivíduo deve interiorizar que tem que mudar de comportamento, porque uma coisa é certa, não há agressores felizes. Um agressor é um sujeito desajustado", sublinhou.

"Muitas vezes as pessoas não sabem por que é que são violentas, nem tão pouco reconhecem que o são. Nesta consulta vamos treinar aptidões e trabalhar ao nível do comportamento, ensiná-lo a viver de outra maneira", acrescentou o especialista.

Carlos Poiares reconhece que "vai demorar algum tempo até que o agressor se disponibilize a ir à consulta", afirmou, acrescentando ter ideia de que "não é frequente os agressores pedirem ajuda".

No entanto, há sempre quem peça ajuda, como demonstra a consulta de psicologia clínica da Lusófona, que já foi procurada por vítimas e agressores, afirmou.

"Na Lusófona, já houve atendimento ao agressor, mas não formalizado. Apareceram alguns na consulta de psicologia, mas agora vamos passar a ter uma linha específica só para agressores, com técnicos que se vão ocupar desta vertente da violência contra a família", explicou.

Na opinião de Carlos Poiares, o atendimento à vítima é fundamental, mas é necessário também ajudar as pessoas que são agressoras, senão não é possível "obviar o problema da vitimação".

No entanto, o psicólogo explicou que esta linha de atendimento é só para pessoas que têm consciência de que são agressoras, porque só assim é possível o tratamento.

"Só há intervenção válida se o sujeito, o próprio, pede ajuda, senão não vale a pena", afirmou, salientando que "quando o agressor quer enfrentar o problema, metade do problema já está resolvido, pois há uma disponibilização íntima do agressor".

Este é o quarto gabinete de atendimento ao agressor em casos de violência doméstica, uma vez que em Portugal já existiam desde há cerca de três anos três destas unidades no norte do país.

Estes gabinetes funcionam na Unidade de Consulta em Psicologia da Justiça (UCPJ), na Universidade do Minho, no Gabinete de Estudo e Atendimento a Vítimas (GEAV), na Universidade do Porto, e na Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra.

Trata-se de unidades de intervenção junto do agressor que foram criadas no pressuposto de que não basta ajudar as vítimas de violência doméstica, sendo também preciso atacar o problema na origem.

Também para Celina Manita, uma das responsáveis do GEAV, de nada serve intervir no apoio à vítima e não junto dos agressores, porque estes acabam por arranjar outra vítima e o problema da violência não acaba, ao passo que diminuir o número de agressores significa diminuir o número de potenciais vítimas.

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