Primeiro monumento budista do país erguido na Serra do Caldeirão em prol da paz mundial

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Marta Duarte (texto) e Luís Forra (fotos), da agência Lusa

Loulé, Faro, 13 Dez (Lusa) - O primeiro monumento budista do País vai ser construído no ponto mais alto da Serra do Caldeirão, Loulé, onde desde há 25 anos se ergue o centro "Humkara Dzong", paredes meias com algumas das mais típicas aldeias algarvias.

O "Stupa", uma espécie de mausoléu construído em forma de torre, terá quase cinco metros de altura e vai ser construído em granito rosa, sendo o seu interior preenchido por pequenas estátuas, orações, cereais, plantas medicinais e pedras semipreciosas.

Os budistas acreditam que o monumento, com vários exemplares por todo o mundo mas que em Portugal é o primeiro, ajuda a promover a paz mundial, combatendo flagelos como a fome, epidemias e guerras através da concentração de energias.

O local de implantação do "Stupa", que deverá estar pronto em 2009, foi escolhido por mestres budistas que viram no Malhão, ponto mais alto da serra também conhecida por "Mú", um local considerado ideal para concentrar energias positivas.

"O `Stupa` funciona como um magnetizante, acumula muitas energias e isso tem um efeito benéfico", explicou à Lusa um monge budista natural da Suíça e que está no Algarve para participar na elaboração do monumento.

É que além do rigoroso trabalho exterior, o interior do monumento é preenchido com oferendas, como grãos e sementes, que representam o combate à fome ou pedras preciosas, cujo significado é acabar com a pobreza e espalhar riqueza pelo mundo.

O "Stupa" é igualmente preenchido com rolos de orações e "mantras" (sílaba ou poema religioso), escritos exclusivamente por monges como o suíço Ngawang Jigdrel (cujo nome `original` é Markus Haltein), que se deslocou até à Serra do Caldeirão com esse intuito.

Depois de ali colocadas as oferendas, o monumento, que pode servir como local de oração, é hermeticamente fechado, acreditando os budistas que participar na sua construção ou simplesmente entrar em contacto com o "Stupa" representa uma bênção.

Rodeado de montes e vales, o centro budista construído junto ao antigo Moinho do Malhão e que se inscreve na escola budista "Ogyen Kunzang Chölimg", foi fundado no Algarve em 1982, numa altura em que o Budismo e outras práticas orientais não estavam tão em voga como hoje.

Ali vivem cerca de doze pessoas de várias nacionalidades, mas os responsáveis pelo centro querem criar condições para acolher mais, tendo, para isso, que desenvolver actividades comerciais que possam gerar lucro.

Um dos projectos em vista é o fabrico de óleos essenciais à base de ervas medicinais, o que poderá ajudar a suportar financeiramente o centro, que vive essencialmente de donativos e das receitas do restaurante "Os Tibetanos", em Lisboa.

Budista há vinte anos, Lígia Lopes anseia pela auto-suficiência do centro, o que por enquanto não é possível, apesar de haver tarefas bem definidas, uma carpintaria e uma horta onde são colhidos alguns alimentos.

O dia-a-dia no centro começa cedo, logo pelas 06:30, com a primeira oração, realizada no templo erguido num monte em frente ao do Malhão, a escassos quilómetros e onde há também habitações para receber a visita dos mestres, ritual que se repete às 18:00.

Em vista está a construção de um novo templo no centro algarvio, que no Verão chega a receber mais de 100 pessoas e que é muito visitado por turistas, que ali se dirigem sobretudo para apreciar a paisagem.

Com uma filosofia baseada na não-violência e na recusa de dogmas, o Budismo está a conquistar adeptos em Portugal e até há quem seja budista sem o saber, defende o monge Ngawang Jigdrel.

"O budismo é um modo de vida praticado por muitas pessoas sem o saberem", conclui, confessando que não está muito habituado a comunicar. Compreensível, para quem já fez votos de silêncio que duraram anos.

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