Prisão de Peniche será Museu para "preservar a história de um regime brutal e das famílias que destroçou"

por João Fernando Ramos, Rui Sá

O Forte de Peniche vai ser o museu da resistência à ditadura. O executivo reuniu-se na antiga prisão no dia em que se assinalaram 43 anos sobre a libertação dos presos políticos, depois do 25 de abril.
"A decisão está tomada. É uma homenagem a todos quantos estiveram presos nas prisões do antigo regime", afirma no Jornal 2 Adelino Pereira da Silva, que aos 23 anos de idade foi preso por pensar diferente e passou cinco dos sete anos de encarceramento naquele forte. "E preciso preservar a história de um regime prisional brutal e das famílias que destroçou".
O antigo preso político diz recordar ainda hoje "todos os dias que lá passei" bem como o resistência organizada dos próprios presos que garante nunca baixaram as mãos, e hoje como ele, não permitem que o esquecimento tome conta do espaço.

"Faço muitas visitas guiadas para escolas ao forte-prisão de Peniche". Adelino da Silva fala da necessidade de explicar no local a brutalidade de um sistema que punia violentamente qualquer ato de solidariedade entre quem estava encarcerado, e tomava decisões arbitrárias sobre a vida de quem queria isolar do resto do país por mero delito de opinião.

Adelino Pereira da Silva nasceu em Fevereiro de 1939, em Ermidas, no concelho de Santiago do Cacém.

Foi operário metalúrgico. Aderiu ao Partido Comunista Português em 1956. Passou à vida clandestina em 1959, desempenhando tarefas em tipografias clandestinas e na organização das Zonas Ocidental e Oriental de Lisboa.

Tinha apenas 23 anos quando foi preso pela PIDE, em 31 de Janeiro de 1963. Foi espancado e sujeito a sete dias de tortura do sono. Julgado em Tribunal Plenário foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão maior e a medidas de segurança.

Acabou por passar cerca de sete anos nas prisões, do Aljube, de Caxias e na de Peniche. Nesta última cerca de cinco anos.

A decisão de suspender a construção de um hotel de luxo na fortaleza e transformar o espaço num museu da resistência anti-fascista é aplaudida por este homem que foi membro do Comité Central do PCP entre 1976 e 2004, e para quem é fundamental não permitir que a memória desses dias desaparece para que eles não possam nunca mais voltar.
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