Procuram casa. Ana Filipa e quatro filhos adiam despejo, Paula "obrigada a estar" numa habitação sem condições

Na véspera de novas manifestações pela habitação, a Antena 1 dá a conhecer duas situações diferentes na procura por uma nova casa, mas tanto Ana Filipa Varela como Paula Pereira não encontram uma alternativa.

Gonçalo Costa Martins, Fátima Pinto - Antena 1 /
Foto: Gonçalo Costa Martins - Antena 1 (arquivo)

A relativa tranquilidade com que Ana Filipa Varela viveu durante cerca de 10 anos no Bairro Olival do Pancas, em Odivelas, tem os dias contados, depois de sucessivas ordens de despejo que recebeu desde 2023. Juntam-se cada vez mais papéis numa pasta "angustiante" que traduz uma decisão inevitável. 

"Foi a decisão do Tribunal de Loures a dizer que eu tinha de sair imediatamente, isto em outubro de 2024", diz Ana Filipa enquanto segura nesse papel que não teve efeitos imediatos, enquanto esperava pelo resultado dos recursos apresentados. 

Agora, diz que tem até ao dia 8 de julho para sair, mas não sabe onde vai ficar: "vou pegar nos meus filhos e vou para aonde, vou para a rua?

"Os quatro (filhos) precisam de mim", afirma, contando que os mais novos, com 7 e 8 anos, vivem em permanência com ela, enquanto outros dois, com 14 e 17 anos, passam o tempo entre a mãe e o pai.

Com estes encargos, Ana Filipa Varela receia não conseguir pagar uma nova renda "de 800, 900 euros", numa altura em que paga 180 euros de renda e recebe pouco mais de mil euros por mês no trabalho que tem de limpeza de aviões.

Sem suporte familiar ou alternativas apresentadas pelo fundo de investimento que pretende despejá-la, Ana Filipa Varela pediu habitação à Câmara Municipal de Odivelas, mas diz que não lhe atribuíram uma, ao mesmo tempo que mostra-se revoltada por haver casas vazias neste bairro na Pontinha.  

"A Câmara simplesmente fecha", aponta, dizendo que "ainda agora morreu ali um senhor e a casa está para ser fechada", enquanto conta "ali outra, lá atrás estão umas tantas".

Contactada pela Antena 1, a Câmara de Odivelas não esclarece quantas casas agora estão devolutas no Bairro Olival do Pancas, afirmando apenas que, no âmbito da Estratégia Local de Habitação, está prevista a reabilitação de todos essas habitações para depois serem atribuídas. 

Em 2021, este documento contava oito casas devolutos, sendo apontada como "um relativo foco de degradação habitacional e urbana".

Quanto à situação de Ana Filipa Varela, é referido que "foi encaminhada para solução habitacional no mercado de arrendamento, com possibilidade de apoio financeiro por parte da autarquia, nomeadamente ao nível da caução e dos primeiros meses de renda".

Na resposta escrita enviada à rádio pública esta manhã, a autarquia diz que tem 1.511 pedidos de habitação social no concelho.

Reportagem de Gonçalo Costa Martins / Foto no Bairro Olival do Pancas
Pobreza energética e preocupação com o futuro
Aos 53 anos, Paula Pereira vive todas as angústias que cabem dentro de um salário mínimo, que, em muitas ocasiões, não dá para viver numa casa digna.

Mora num rés-do-chão alugado nos arredores de Viseu, paga 200 euros mais luz e água numa casa sem condições.

"Até ratitos entram lá para dentro", comentando "que é uma casa muito fria, de pedra" e que "de inverno é uma degraça" não conseguindo ligar mais do que um aquecedor.

A receber o salário mínimo enquanto cuida de uma tia de 86 anos, não vê com bons olhos o futuro: "vou ter uma reforma mínima, como é que vou fazer"?

"É um sufoco", lamenta Paula, que acredita que mudar é praticamente impossível. Por menos de 500 euros é difícil encontrar casa, por isso Paula equaciona ir viver para um quarto na cidade.

Reportagem de Fátima Pinto / Foto arquivo

(artigo atualizado às 11h14 com a resposta da Câmara Municipal de Odivelas)

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