Projectista do Parque da Cidade no julgamento que opõe Cardoso a Rio
O arquitecto responsável pelo projecto do Parque da Cidade do Porto afirmou hoje em tribunal que a edificação urbana na envolvente ao parque está prevista desde o início do projecto e que "nunca ninguém quis construir dentro do parque".
Sidónio Pardal falava, por videoconferência, na sexta sessão do julgamento do processo por difamação interposto pelo ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso contra o actual autarca, Rui Rio, que prosseguiu hoje com a audição de testemunhas nomeadas pela defesa.
O processo, que decorre no Palácio da Justiça do Porto, foi motivado por declarações públicas do actual presidente da Câmara do Porto, Rui Rio (PSD), visando o seu antecessor, o socialista Nuno Cardoso, sobre a condução dos dossiers relativos ao projecto de construção na zona envolvente do Parque da Cidade, à venda do terreno nas traseiras da Casa da Música (propriedade da Adicais) e ao Plano de Pormenor das Antas (PPA).
O arquitecto Sidónio Pardal, que desenvolve o projecto do Parque da Cidade desde 1982, considerou que a decisão de não construir na envolvente ao parque da cidade foi "uma opção política, não foi uma opção técnica".
"Os estudos iniciais previam o remate urbano para o parque da cidade", frisou o arquitecto, acrescentando que "construir ou não é uma decisão política que dependerá do que o Plano Director Municipal definir para aquela zona".
Em declarações à Lusa, Nuno Cardoso considerou que o depoimento do arquitecto Sidónio Pardal provou que Rui Rio "mentiu" ao acusá-lo de permitir a construção no Parque da Cidade e de, assim, "defender interesses de privados".
"Uma coisa é defender mudanças no projecto outra é mentir e dizer que a Câmara estava a construir dentro do parque", frisou, desafiando Rui Rio, que se recandidata pela coligação PSD/PP, a esclarecer o que pretende fazer no parque da cidade.
Enquanto presidente da autarquia, Rui Rio "teve quatro anos para alterar o Plano Director Municipal (PDM) e colocar a ideia do alargamento do parque até à Circunvalação, mas não o fez".
Citando o regulamento do novo PDM, Nuno Cardoso realçou o ponto relativo ao parque da cidade onde está escrito que aquela área será alvo de um plano com o objectivo de criar "uma envolvente estável, funcional e urbanisticamente representativa".
"O que quer dizer urbanisticamente representativa? É relva?" questionou o socialista.
A sessão de hoje, que começou com a audição do Chefe de Divisão do Património, Rafael Oliveira Dias, vai continuar durante a tarde com o depoimento de testemunhas convocadas pela defesa.
No início do julgamento, a 23 de Maio, Rui Rio disse aos jornalistas que reafirmou à juíza tudo o que tem dito sobre os três dossiers, só que "com mais cuidado com a linguagem para não ser sensacionalista".
Nuno Cardoso considera que o teor das declarações proferidas por Rui Rio constituem "graves atentados ao [seu] direito ao bom-nome, honra e dignidade" pelo que "devem ser dirimidas em sede própria, ou seja, no tribunal".
Nuno Cardoso espera que os três casos sejam cabalmente esclarecidos para "ver quem fala verdade, quem cumpriu com a legalidade e quem foi rigoroso na gestão da coisa pública".
O ex-autarca pede uma indemnização de 37 mil euros que, caso o tribunal lhe dê razão, serão entregues à associação de apoio aos sem- abrigo "Coração da Cidade".
A próxima sessão está agendada para 04 de Outubro.