Prostitutas brasileiras são angariadas por portugueses, revela livro

As mulheres brasileiras que vêm para Portugal trabalhar em bares de alterne e na prostituição são angariadas por portugueses, revela um livro sobre mulheres imigrantes a publicar sexta-feira pela organização SOS Racismo.

Agência LUSA /

O livro "Imigração e Etnicidade - Vivências e Trajectórias de Mulheres em Portugal" é p reúne textos de vários investigadores que se têm dedicado ao estudo da imigração e das minorias étnicas.

O tema "O tráfico de mulheres em Portugal" é uma das questões abordadas no livro pelas investigadoras do Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia e Gestão Catarina Sabino e Sónia Pereira.

De acordo com as autoras, nas redes brasileiras existe "um envolvimento activo de portugueses que, geralmente com o auxílio de um contacto no Brasil, angariam mulheres para trabalhar em bares de alterne e na prostituição em Portugal".

As investigadoras adiantam ainda que "o envolvimento activo" dos portugueses é de "menor relevância" nas redes de tráfico de mulheres de Leste.

O artigo sublinha igualmente que a maior parte das mulheres que se dedica à prostituição em Portugal é originária do Brasil, seguindo- se as naturais de países da Europa de Leste e de alguns países africanos.

"A reduzida representatividade das mulheres de Leste na prostituição em Portugal pode dever-se ao facto de os outros países europeus serem mais apelativos e vantajosos para as redes que operam neste mercado", referem as autoras.

Destacam também que as redes brasileiras e africanas são de menor dimensão e menos formais do que as de Leste, onde as estruturas têm uma organização mais complexa.

Salvaguardando que "não é possível traçar o perfil da mulher traficada", as investigadoras apontam como principais características que as brasileiras são provenientes de meios sociais desfavorecidos e das regiões mais pobres do Brasil, várias são analfabetas e algumas, no Brasil, já exerciam a prostituição ou eram "acompanhantes".

Por sua vez, as mulheres de Leste têm também grandes dificuldades económicas nos países de origem, têm um grau de qualificação elevado, havendo mesmo licenciadas, e a maioria não está ligada ao ramo da prostituição.

Além de publicar o artigo sobre o tráfico de mulheres em Portugal, o livro do SOS Racismo aborda também temas relacionados com as mulheres imigrantes na imprensa portuguesa, no mercado de trabalho, no movimento associativo, a violência doméstico e o reagrupamento familiar.

A vida das mulheres islâmicas, de Leste, das africanas e mutiladas, das brasileiras, das hindus, das refugiadas e das ciganas são outras realidades e vivências traçadas na publicação.

O livro "Imigração e Etnicidade - Vivências e Trajectórias de Mulheres em Portugal" dá ainda a conhecer um inquérito feito às câmaras municipais e quantifica a população imigrante em Portugal.

A publicação recorre a dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que aponta para a existência de cerca de 500 mil imigrantes a viver legalmente em Portugal.

A dirigente do SOS Racismo Ana Cruz explicou à Agência Lusa que o livro pretende suscitar o debate sobre as mulheres imigrantes e minorias étnicas.

"O objectivo do livro não é o de trazer respostas prontas, mas o de proporcionar um caminho para a reflexão sobre a situação da mulher imigrante e minorias étnicas", sublinhou Ana Cruz.

A dirigente acrescentou ainda que à mulher imigrante "falta o direito de juntar a família, de ter um salário digno, de ter a sua cultura valorizada, de ser integrada, de ser protegida contra agressões e de receber os direitos e benefícios garantidos na constituição".

"As mulheres imigrantes têm histórias de vida incríveis e sofrem de dupla discriminação. Além de serem discriminadas por ser imigrantes, sofrem ainda por serem mulheres", concluiu Ana Cruz.

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