Quantidade de chuva no Algarve tem descido nas últimas décadas

O Algarve está a tornar-se progressivamente mais árido e a água é cada vez mais escassa, garante um estudo da Universidade do Algarve, indicando que, desde 1941, os índices de precipitação decresceram a uma média anual de 1,67 milímetros.

Agência LUSA /

De acordo o trabalho assinado por Nuno dos Santos Loureiro, a que a Lusa teve acesso, o Algarve conta actualmente com uma "seca moderada", que evoluirá rapidamente para "seca severa" caso não chova nos próximos tempos.

Segundo o estudo do docente da Faculdade de Engenharia dos Recursos Naturais, os últimos três meses de 2004 constituíram o sétimo pior último trimestre anual desde 1964.

O estudo faz a análise comparada de todos os trimestres desde 1941, de acordo com as medições da Estação Meteorológica de Tavira, uma das mais fiáveis da região, constatando que entre Outubro e Dezembro últimos se registaram apenas 98 milímetros de precipitação.

O valor considerado normal para a época seria de 245 milímetros, pelo que a queda de chuva se ficou em 40 por cento daquela média.

Aquele período é o sétimo pior último trimestre anual desde 1941 e o quarto pior desde 1971.

Ao longo das últimas décadas vem-se constatando uma descida gradual dos níveis de precipitação no Algarve, a uma taxa de 1,67 milímetros por ano, indica o trabalho, observando que cinco dos 13 anos mais secos desde 1941 pertencem aos últimos 12 anos.

O estudo compara também as temperaturas médias na região desde 1971, que têm vindo a crescer a uma média anual de 0,06 graus centígrados, originando um maior potencial de evaporação de água dos solos.

O índice de evaporação estimado para 2004 é 5,1 por cento superior ao valor médio anual calculado para o período de 1971 a 2000, garante o trabalho de Nuno dos Santos Loureiro.

A aplicação ao caso algarvio de um método internacional de cálculo dos níveis de seca em função da precipitação, designado por SPI (Standard Precipitation Index), permite afirmar que aquele valor tem vindo a decrescer ao longo dos anos devido à progressivamente menor precipitação que se vem registando.

Por outro lado, garante o estudo, as situações mais extremas do SPI - isto é, as secas mais intensas e prolongadas - ocorreram na segunda metade do período de 63 anos em análise.

O trabalho aconselha uma estratégia de poupança de água orientada para os principais grupos consumidores, nomeadamente a agricultura de regadio, os campos de golfe, instituições públicas e estabelecimentos de ensino, alguns sectores industriais e hotelaria e restauração.

Fazendo notar que a gestão do problema da aridez é muito complexa, o trabalho académico aponta para que se enfrente tal complexidade "sob pena de que o Algarve que estamos a construir e deixaremos de herança aos nossos filhos seja verdadeiramente, e de forma irreversível, uma região insustentável".

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