Quercus acusa incineradoras de receberem dinheiro "indevido"
Os ambientalistas da Quercus acusaram hoje as empresas que tratam o lixo doméstico de receberem "indevidamente" todos os anos cerca de 11,4 milhões de euros pela queima de plástico.
Segundo os ambientalistas, aquela verba tem sido paga pelo Estado às empresas Valorsul (Lisboa), Lipor (Porto) e Madeira (do arquipélago madeirense) por queimarem anualmente 1,1 milhões de toneladas de plásticos, recolhidos no meio do lixo doméstico, sem terem sido separados para reciclagem.
"Esta situação é ilegal, pois as verbas destinam-se ao financiamento das energias renováveis e a lei comunitária determina que a queima de plástico não é uma fonte de energia renovável", afirmou à agência Lusa Rui Berkmeier, da Quercus.
A directiva 2001/77/CE considera energia renovável a que é produzida a partir da queima de biomassa, como o papel, cartão, resíduos de jardins e florestas ou restos de comida.
"Segundo a lei portuguesa [decreto-lei 33-A/2005], a energia libertada pelos incineradores é paga na totalidade como energia renovável, recebendo 0,076 euros por kWh [quilowatt/hora]", adiantou aquele responsável.
A reciclagem de matérias como os restos de comida, para produzir fertilizantes para a agricultura ou combustível de origem biológica (biogás), recebe menos 0,021 euros do que o plástico queimado.
"As energias renováveis deveriam receber mais dinheiro do que a incineração de plástico", defendeu Rui Berkemeier, lembrando que a queima de plástico liberta compostos tóxicos para o ambiente e dióxido de carbono, os principais responsáveis pelas alterações climáticas, a maior ameaça ambiental do planeta.
A Quercus considera que os 11,4 milhões de euros "desviados" para financiar a queima de plástico nas incineradoras de resíduos urbanos deveriam ser aplicados na promoção de "energias verdadeiramente renováveis", como a produção de biogás ou a energia produzida pelo vento (eólica).