Representante dos trabalhadores do Santander queixa-se de lhe ser interditado o acesso às instalações

por RTP
Reuters

Desde que o Santander Totta iniciou o processo de despedimento coletivo, João Pascoal, 65 anos, membro da comissão de trabalhadores (CT), diz estar impedido de aceder às instalações do banco. Em esclarecimento à RTP, fonte oficial do banco nega ter proibido qualquer acesso e argumenta, citando a lei, que o trabalhador, agora reformado, não pode fazer parte da CT.

Pascoal, de 65 anos, foi colocado na reforma pelo banco, apesar de o próprio não ter concordado com a decisão. “A administração decidiu utilizar esse direito agora. Colocaram como obrigatoriedade, apesar de eu ser contra”, disse o membro da CT do Santander à RTP.

Nessa altura, foi-lhe atribuído um cartão de visitante para aceder às instalações do banco, mas desde 23 de agosto, dois dias após o anúncio do despedimento coletivo, João Pascoal diz estar impedido de aceder às instalações. O trabalhador, eleito sub-coordenador da CT para um mandato de 2020 a 2024 já colocou um processo em tribunal.

Em esclarecimento à RTP, fonte oficial do banco Santander afirma que a reforma da banca é aos 65 anos e acrescenta que a lei não permite que um reformado faça parte da Comissão de Trabalhadores.

O banco nega ainda ter proibido qualquer acesso às instalações e acrescenta que foi mesmo disponibilizada à Comissão de Trabalhadores uma sala para que João Pascoal possa reunir com a CT sempre que for necessário e pretender.
230 trabalhadores em risco de serem despedidos
O Santander decidiu que iria avançar com um despedimento coletivo a partir de setembro depois de anunciar, a 20 de agosto, que não tinha chegado a acordo para a saída de 350 trabalhadores, de um total de 685 inicialmente previstos.

No entanto, segundo a última atualização, o Santander confirma ter chegado a acordo com mais de 400 trabalhadores. Neste momento, o despedimento coletivo abrangeria 230 funcionários, mas o processo ainda não está concluído.

Face a este cenário, vários líderes sindicais internacionais enviaram, terça-feira, uma carta à presidente executiva do Grupo Santander Totta, em Madrid, a solicitar uma tomada de posição.

"Instámo-la a encetar um verdadeiro diálogo com os sindicatos portugueses em questão e a continuar a procura de uma solução oportuna e mutuamente negociável no respeito pelos direitos dos trabalhadores, protegendo os seus empregos e condições de trabalho", refere a missiva enviada a Ana Botín-Sanz.

Na carta, os sindicalistas referem ainda que, durante este último ano, “os trabalhadores do Santander em Portugal foram sujeitos a ameaças e pressões para aceitarem a rescisão dos seus contratos de trabalho e estão agora confrontados com os procedimentos para um despedimento coletivo”.

"Expressamos a nossa profunda preocupação com o comportamento contínuo do Banco Santander em Portugal. Com o pretexto da pandemia de covid-19 e a aceleração na utilização de ferramentas digitais, o banco mostra um total desrespeito pelo bem-estar dos seus trabalhadores, avançando com os seus planos de reestruturação, independentemente dos apelos sindicais para uma abordagem ponderada. Tal situação mina os princípios básicos do diálogo social e deixa em risco de desemprego centenas de trabalhadores durante tempos de precariedade", dizem os subscritores da carta.

Na semana passada, os sindicatos do setor bancário anunciaram que marcariam uma greve conjunta, ainda este mês, se o Santander Totta e BCP mantivessem a intenção de fazer despedimentos.
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