Reserva Ornitológica do Mindelo completa domingo 50 anos ainda à espera da classificação como zona protegida

A Reserva Ornitológica do Mindelo, a primeira a ser criada na Europa, assinala domingo o 50º aniversário ainda à espera de ver cumprida a promessa de classificação como área protegida daquela zona do litoral de Vila do Conde.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

"Este atraso não é uma grande surpresa para nós, mas representa alguma frustração relativamente à Câmara de Vila do Conde e ao Ministério do Ambiente, que tinham assumido o compromisso de concretizar a classificação antes desta data", afirmou Pedro Macedo, presidente da Associação Amigos do Mindelo.

Em Outubro de 2003 a Assembleia da República rejeitou os projectos de lei apresentados pelo PCP e pelo BE para a criação desta área de paisagem protegida, mas aprovou um projecto de resolução do PSD e PP, que comprometia o governo com a criação daquela zona de protecção ambiental, ainda que sem estabelecer qualquer prazo.

"A classificação desta área é essencial porque permitirá criar uma entidade gestora, a quem competirá elaborar um plano de ordenamento, promover acções de requalificação e dinamizar candidaturas a fundos comunitários", salientou Pedro Macedo, em declarações à Lusa.

A Câmara de Vila do Conde enviou há cerca de dois meses a proposta de classificação para o Instituto de Conservação da Natureza (ICN), onde está a ser analisada, após o que decorrerá um período de discussão pública e a eventual aprovação pelo Conselho de Ministros.

"Queremos que o assunto seja resolvido o mais rapidamente possível", assegurou Vítor Costa, vereador do Ambiente na Câmara de Vila do Conde, frisando, em declarações à Lusa, que esta classificação "não é só de interesse local, mas também regional e metropolitano".

Segundo Vítor Costa, a proposta apresentada pela autarquia ao ICN prevê a criação da Paisagem Protegida do Litoral de Vila do Conde, entre Azurara e Labruge, abrangendo uma área superior à da reserva ornitológica.

"Entendemos que esta é a medida mais adequada para proteger melhor o território", afirmou o autarca, salientando que a proposta da Câmara de Vila do Conde "não menoriza a reserva ornitológica porque ela é o núcleo central da futura área protegida".

A Reserva Ornitológica do Mindelo (ROM), criada a 02 de Setembro de 1957, foi a primeira área protegida instituída em Portugal, além de ter sido também a primeira reserva ornitológica da Europa, estendendo-se desde a foz do rio Ave até à praia do Mindelo.

Inicialmente a ROM abrangia uma área de 411 hectares, entretanto alargada para 594 hectares em 1959, dispondo de uma frente marítima com cerca de dois quilómetros de extensão.

A área da reserva, atravessada por duas ribeiras, inclui dunas, zonas húmidas, manchas florestais e campos agrícolas, numa diversidade de habitats que permite albergar um grande conjunto de espécies animais, constituindo um refúgio essencial para aves migratórias.

Nesta zona já foram observadas 153 espécies de aves, entre as quais águias, garças, rolas, galinhas d`água, gaios e pica-paus, mas também andorinhas, patos, cucos, corujas, mochos, poupas, pegas, rouxinóis, piscos, tordos e pintassilgos, entre muitas outras.

A reserva é também um importante refúgio para os anfíbios, sendo possível ali encontrar 14 das 17 espécies nacionais de anfíbios, entre as quais o tristão palmado, que é o anfíbio mais raro em Portugal, além das populações costeiras conhecidas mais a norte dos sapinhos de verrugas verdes, sapos de unha negra e salamandras de costelas salientes.

Na ROM podem ainda ser encontradas diferentes espécies de mamíferos, entre as quais esquilos, coelhos, raposas, ouriços-cacheiros, vários roedores e morcegos.

A importância desta área está patente no Plano de Ordenamento da Orla Costeira , onde a reserva ornitológica é referida como sendo "quase a única área com importância de conservação de nível regional entre o litoral de Esposende e a Barrinha de Esmoriz".

Apesar disso, a área da ROM tem sofrido uma pressão urbanística fortíssima, tendo os terrenos urbanos e industriais aumentado mais de 600 por cento, representando actualmente mais de um quarto da área total da reserva.

Para inverter este quadro, a classificação como área de paisagem protegida surge como uma oportunidade para salvaguardar um local onde é possível usufruir, em simultâneo, do campo e da praia.

A criação de percursos pedestres, de circuitos de bicicleta e postos de observação de aves são algumas das soluções que podem permitir às pessoas beneficiar deste espaço privilegiado.

PUB