Rio Guadiana "mais contaminado" na Extremadura espanhola, diz Greenpeace

A Greenpeace denunciou hoje que o troço do Guadiana na Extremadura espanhola é o que apresenta os "níveis mais graves de contaminação" de todo o curso do rio que, sem medidas urgentes, será convertido num "esgoto".

Agência LUSA /

"A contaminação do Guadiana estremenho é tão grave que se não se tomarem medidas urgentes pode converter o rio num esgoto", afiançou Júlio Barea, responsável pela campanha de Águas da Greenpeace, citado num comunicado da organização ambientalista.

As denúncias da Greenpeace foram feitas hoje, em Mérida, capital da Extremadura espanhola, no âmbito da descida do Guadiana que a organização ecologista está a efectuar, desde sexta-feira passada e até ao próximo sábado.

Com a iniciativa de descer este rio peninsular, os ambientalistas pretendem chamar a atenção para a má qualidade das águas, "em breve inutilizáveis, tanto para abastecimento, como para rega ou usos industriais", e denunciar as agressões que o Guadiana enfrenta.

No comunicado divulgado hoje, a Greenpeace argumenta que a elevada contaminação no troço do rio na Extremadura é explicada por "descargas de resíduos urbanos, eutrofização das barragens (níveis de oxigénio reduzidos) e contaminação dos aquíferos".

"Estas condições provocaram, por exemplo, durante este ano, uma invasão impressionante do `jacinto de água` no Guadiana, uma planta que só se reproduz com esta voracidade em ambientes altamente contaminados ou alterados por acção humana", realça a organização.

Aludindo a dados do Ministério do Ambiente espanhol sobre a situação do tratamento das águas residuais no país, a Greenpeace destaca que "91 dos municípios estremenhos não têm tratamento", enquanto que, "outros dez têm estações de tratamento que funcionam de forma deficiente".

A "maior parte dos municípios", sublinham os ambientalistas, verte, pois, "água para o Guadiana", o que significa o incumprimento da Directiva comunitária sobre o Tratamento de Águas Residuais, em vigor desde Dezembro de 2005.

Quanto à contaminação nas barragens, os ecologistas argumentam que "mais de metade da água" daquelas está "eutrofizada", devido ao nitrogénio e fósforo, "procedentes das descargas urbanas e industriais e dos adubos agrícolas", que provocam o crescimento excessivo de algas e outras plantas aquáticas, cuja decomposição consome grande parte do oxigénio, levando à morte da fauna e flora.

As barragens de Brovales, Valuengo, Proserpina, La Serena e Los Canchales "estão eutrofizadas", enquanto que outras duas são classificadas em estado "hipertrófico", o que significa que as suas águas "estão fortemente contaminadas e inutilizáveis para abastecimento".

A Greenpeace alerta ainda que esse troço espanhol é o "mais regulado" de todo o Guadiana, sendo as barragens, grandes represas e açudes responsáveis pela destruição do regime natural do rio, e que "três dos quatro aquíferos da bacia estremenha estão seriamente contaminados por pesticidas e nitratos e fosfatos procedentes dos fertilizantes".

O comunicado dá também conta do "transvaze ilegal" de água do Guadiana para o rio Guadalquivir "para uso exclusivo da empresa mineira Narcea Goldmines", classificando o caso como "insólito" por esse tipo de práticas ser "muito prejudicial para os ecossistemas fluviais".

"São práticas descartadas pela nova Directiva Quadro da Água e, neste caso, além de tudo isto, põem em perigo o abastecimento a mais de 25 mil pessoas na Mancomunidad del Tentúdia" acrescenta.

A empresa, refere a Greenpeace, está a abastecer-se de caudais da bacia do Guadiana e a despejar as suas águas na bacia do Guadalquivir, onde a mina está situada.

"A Junta da Estremadura espanhola e a Confederação Hidrográfica do Guadiana não podem continuar, não só a não cumprir a lei, como a permitir que empresas, municípios e particulares sigam impunes", declarou Júlio Barea.

Por último, a organização ambientalista realça ainda que o troço extremenho do Guadiana é o que tem "maior número de espécies de peixes introduzidas em Espanha", como é o caso do caranguejo americano, uma espécie sem valor comercial, que "fez desaparecer" o caranguejo ibérico, antes fonte de rendimento para as economias locais.

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