Risco de pandemia representa dilema para serviços de saúde
A coordenadora da Unidade de Vírus Respiratórios do Centro Nacional de Gripe considerou hoje, no Porto, que a evolução de um vírus pandémico, como o H5N1, responsável pela gripe das aves, representa "um claro dilema para a saúde pública".
"Se agirem cedo demais, a sua acção poderá ser considerada desnecessária e dispendiosa, mas se as acções forem contidas até que haja evidência absoluta de transmissão humana então poderá ser tarde demais para evitar um grande número de infecções e de mortes", sublinhou a especialista.
Helena Rebelo de Andrade, que falava sobre "As Novas Gripes" no âmbito das IX Jornadas Cofanor, intituladas "Vírus e Homens", admitiu que o H5N1 constitui uma preocupação para a saúde humana na medida em que apresenta um potencial pandémico elevado, mas considerou não existir motivo para alarme.
"Há sistemas de vigilância e alerta a nível nacional e internacional que permitem detectar os movimentos do vírus e também as mutações e recombinações que os vírus eventualmente possam vir a sofrer", realçou a especialista.
Considerou, contudo, que "a humanidade está perante um tipo de vírus influenza que está em permanente mutação ao contrário de outros vírus influenza aviários".
"Constitui uma enorme preocupação pela sua capacidade de adaptação e eventualmente também pela possibilidade que tem de saltar a barreira das espécies, o que é invulgar para um vírus com características aviárias", acrescentou.
Na abertura das jornadas, Maria São José Nascimento, investigadora do Laboratório de Microbiologia e professora da Faculdade de Farmácia do Porto, referiu que a globalização, o aumento das viagens e a importação de animais exóticos podem contribuir para que certos vírus, confinados a determinados locais, possam emergir noutras áreas e com outra magnitude.
Citou como exemplos o vírus do Nilo Ocidental e a varíola do macaco, que até há poucos anos eram exclusivos do hemisfério oriental e que desde 1999 têm vindo a ser detectados no ocidente, nomeadamente nos Estados Unidos.
Apontou ainda o HIV (que conduz à Sida) e a Síndrome Respiratória Aguda Severa (pneumonia atípica) como outros vírus que demonstraram capacidade para "quebrar a barreira das espécies".
"A virologia humana está cheia desses exemplos", disse a especialista, referindo que as jornadas da Confanor, a decorrer na Fundação Engenheiro António de Almeida, Porto, têm como objectivo "mostrar a ameaça permanente dos vírus, mas também as conquistas da comunidade científica para os combater".
Perante a emergência de uma estirpe pandémica, a especialista lembrou que existem actualmente meios de diagnóstico que poderão ser utilizados, antes do aparecimento de uma vacina eficaz, que impedem que os números sejam dramáticos como os registados na pandemia de gripe de 1918.
Ao longo do dia serão abordados, entre outros, temas como "Vírus e cancro", "Os vírus que estão dentro de nós" e "Sida: da doença aguda à doença crónica".
O encerramento das jornadas será presidido pelo professor Walter Osswald, director do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.