Rituais satânicos em igrejas preocupam Diocese de Beja
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB) está preocupado com os furtos, actos de vandalismo e rituais satânicos em igrejas da região, tendo registado, em 2004, uma dezena dessas ocorrências.
Em declarações à Agência Lusa, José António Falcão, responsável por aquele departamento, garantiu hoje que, de entre estes fenómenos, o mais preocupante está relacionado com "as destruições do património e os rituais satânicos", que ocorrem sobretudo no Litoral Alentejano.
"Nessa zona, verifica-se o aumento da marginalidade urbana e a existência de uma franja social associada a práticas satânicas, como pessoas que se identificam com determinados tipos de música ou com cultos de raiz africana", afirmou.
A juntar a esses factores, acrescentou, existem no Litoral Alentejano muitas igrejas rurais, em locais desertificados e isolados.
"Os centros históricos também são pouco habitados, o que faz com que as igrejas aí situadas sejam locais apetecíveis para esses rituais", explicou José António Falcão.
Imagens mutiladas, recintos conspurcados com dejectos ou sangue de animais, cruzes invertidas e furto de hóstias são algumas das ocorrências registadas e que levam o departamento da Diocese de Beja a concluir que muitos dos casos estão ligados a práticas satânicas.
"É também frequente, nesta zona, ver encruzilhadas com objectos utilizados nessas práticas e, portanto, sabemos que elas proliferam", garantiu o responsável.
Como exemplo, José António Falcão aludiu à Igreja de São Pedro, em Santiago do Cacém, onde os intrusos entraram por duas vezes, no final do ano passado.
Nesta pequena igreja secundária, considerada imóvel de interesse público, o primeiro indício foi o aparecimento da cruz da fachada invertida.
"Depois, entre Novembro e Dezembro, aconteceram as duas incursões. Agora, temo claramente que, se não forem tomadas medidas de prevenção muito sérias, este fenómeno se possa generalizar e afectar outras igrejas, senão a mesma, de forma mais grave".
Um fenómeno que o DPHADB alerta que "não está bem caracterizado", pelo que requer "um esforço mais concertado e estratégico" para poder ser prevenido, nomeadamente através de uma estratégia nacional para a defesa do património religioso.
"É preciso sentar, à mesma mesa, a Igreja Católica e as autoridades para que seja organizada uma base de dados com as ocorrências e os objectos desaparecidos. É também necessário criar planos regionais de vigilância", sustentou.
Outras igrejas têm estado também na mira de assaltantes e de outros intrusos, como são os casos das igrejas Matriz de Sines e Santiago do Cacém.
Face a este cenário, a Diocese optou por retirar, de muitos destes templos, os objectos mais valiosos de arte sacra, do ponto de vista histórico e artístico.
"Esta situação não pode manter-se por muito tempo e cabe à Igreja assumir a vanguarda da acção conjunta de protecção e defesa patrimonial que é necessária", frisou José António Falcão.
Em última análise, terá de ser a população a proteger as igrejas destes actos, estando "atenta a aproximações suspeitas e denunciando-as às autoridades", disse.