"Safra Justa". Dez dos 17 suspeitos de exploração de imigrantes com termo de identidade e residência

Os demais sete arguidos deverão conhecer as medidas de coação no sábado. O Ministério Público pede prisão preventiva.

Carlos Santos Neves - RTP /
Paulo Domingos Lourenço - RTP

Dez dos 17 detidos na Operação "Safra Justa", que visou um presumível esquema de exploração de imigrantes no Alentejo, saíram em liberdade, com termo de identidade e residência, depois de terem sido ouvidos na quinta-feira no Campus Justiça, em Lisboa.

Segundo o advogado Frederico Miguel Alves, os restantes sete arguidos devem conhecer as respetivas medidas de coação já este sábado.

"O Ministério Público promoveu a medida de prisão preventiva para um militar da GNR, um PSP e mais uns civis. Quanto aos outros arguidos promoveu outras medidas de coação que implicam a sua libertação imediata", afirmou o causídico aos jornalistas à porta do Tribunal Central de Instrução Criminal, já após as 0h00 desta sexta-feira.A alegada rede desmantelada na passada terça-feira pela Polícia Judiciária controlaria perto de 500 trabalhadores estrangeiros no Alentejo, embora nem todos tenham sido encarados como vítimas de tráfico.


Em comunicado difundido na terça-feira, a Judiciária anunciava que a Operação "Safra Justa" permitira desmontar uma organização criminosa de auxílio à imigração ilegal.

Foram detidos 17 suspeitos, entre os quais dez militares da Guarda Nacional Republicana e um agente da Polícia de Segurança Pública.Os interrogatórios no Tribunal Central de Instrução Criminal tiveram início na quinta-feira. Os dez GNR suspeitos pertenciam ao Comando Territorial de Beja e o agente da PSP, do Comando Distrital de Beja, encontrava-se de baixa desde 2024.

Os factos sob investigação, indicaram Polícia Judiciária e Ministério Público, indiciam a prática dos crimes de auxílio à imigração ilegal, tráfico de pessoas, corrupção ativa e passiva, abuso de poder, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Quatro dos seis civis detidos são de nacionalidade portuguesa e os outros dois são estrangeiros, “todos membros da organização criminosa”.
Jornal da Tarde | 28 de novembro de 2025

“Os dois estrangeiros são indostânicos e angariavam as vítimas dessa mesma origem e acabavam também por coagi-las e ameaçá-las”, adiantou fonte policial à agência Lusa.Foram cumpridos quase 50 de mandados de busca e 17 mandados de detenção em Beja, Portalegre, Figueira da Foz e Porto.


"O cabecilha", de acordo com a mesma fonte, é português e foi “detido na via pública, em Beja, às 5h00 de terça-feira”.
"Situação de fragilidade"

Em comunicado, o Ministério Público detalhou que os suspeitos ter-se-ão aproveitado “da situação de fragilidade (documental, social e económica) de cidadãos originários de países terceiros, na sua grande maioria indocumentados, para daí retirarem avultadas vantagens económicas”.

Por sua vez, os imigrantes - a maioria em situação irregular - “estavam dispostos a trabalhar sem contrato formalizado”, auferindo uma “remuneração inferior à praticada no mercado para as funções” em causa, designadamente no sector agrícola.

“Os suspeitos não entregaram àqueles os valores prometidos, tendo-lhes deduzido montantes arbitrariamente impostos, referentes a despesas de alojamento, transporte, água, eletricidade e documentação”.

os membros das forças de segurança teriam a cargo a vigilância dos trabalhadores, “a troco de compensação económica” e “ameaçavam ainda aqueles cidadãos, dando-lhes a entender que a queixa às autoridades não seria uma alternativa viável para reagir aos abusos”.

c/ Lusa
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