São Xisto, aldeia típica, situada nos socalcos do Douro, cada vez mais deserta

O triplo homicídio seguido de suicídio ocorrido sexta-feira poderá ditar a "morte" da pequena aldeia de São Xisto, enquadrada na bela paisagem dos socalcos do Alto Douro Vinhateiro, concelho de S. João da Pesqueira.

Ana Maria Ferreira, da Agência Lusa /

Na aldeia com vista para o Rio Douro, que parece saída de outros tempos, com casas construídas em xisto (algumas recentemente recuperadas) e ruas empedradas, viviam apenas três casais e uma viúva.

Se sete habitantes já eram poucos, os três que restaram equacionam agora a possibilidade de abandonar a aldeia.

Atília de Jesus, 68 anos, viúva há ano e meio, foi criada na aldeia, esteve em França dez anos e depois regressou às origens, que agora deverá voltar a abandonar.

"Tenho pena de deixar isto, mas custa-me ficar aqui sozinha.

Vou para a Pesqueira para casa de um filho meu", disse.

A idosa lembrou com saudades os tempos em que a aldeia "tinha muita gente, era uma animação, faziam-se sempre bailes", contando que depois esta ficou desertificada devido à emigração.

Valdemar Granja, 61 anos, é natural de uma povoação vizinha de São Xisto, mas em tempos foi viver para Gaia com a esposa.

"A minha mulher é de cá (São Xisto). Construímos a casa e há três anos decidimos vir para aqui repousar e afinal aconteceu isto", lamentou.

O casal viajava normalmente uma vez por semana até Gaia, mas era em São Xisto que passava mais tempo.

"Agora ainda não sei o que vou fazer, tenho que pensar bem, porque me custa deixar isto abandonado", afirmou.

João Manuel Trindade, secretário da Junta de Freguesia de Vale de Figueira, está optimista que a aldeia conseguirá revitalizar-se devido ao turismo.

"Desde há dois anos para cá estava a começar a ser uma aldeia turística, devido ao investimento de um particular, um empresário que adquiriu a maior parte das casas para restaurar e uma quinta", contou à Agência Lusa.

Segundo João Manuel Trindade, o empresário, que é natural de São Xisto mas se estabeleceu em Estarreja no sector dos plásticos, já levava habitualmente à aldeia grandes grupos de amigos.

"Pela altura da Festa de S. Salvador do Mundo, no dia do Corpo de Deus, trazia mais de 200 pessoas com ele", contou.

Na sua opinião, o triplo homicídio e suicídio não levarão o empresário a deixar de investir em São Xisto.

Os "grandes barcos turísticos" que passeiam no Rio Douro atracam perto da aldeia, mas, de acordo com João Manuel Trindade, "já vêm com circuitos feitos pelas agências de viagens" e normalmente os turistas não visitam aquela aldeia.

No entanto, esta despertava a curiosidade de grupos mais pequenos, acrescentou.

São Xisto fica situado a cerca de 12 quilómetros da sede do concelho, sendo a ligação uma estrada cheia de curvas e com um piso bastante degradado, mas João Manuel Trindade disse saber que "está em vias de ser reparada".

"A Câmara também tem apoiado a recuperação da aldeia, ao nível dos arruamentos e da iluminação. Penso que irá conseguir sobreviver a este acontecimento", frisou.

Hoje, passeando pelas ruas da aldeia, apenas as pedras da calçada molhadas por terem sido lavadas de manhã pelos bombeiros e a presença de jornalistas denunciavam o trágico acontecimento de sexta- feira à tarde.

à entrada, uma placa anuncia o que São Xisto pretende continuar a ser: uma "Aldeia de Portugal".

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