Saramugos reproduzidos pela primeira vez em cativeiro foram libertados no Guadiana
Quase 60 saramugos, alguns dos quais reproduzidos pela primeira vez em cativeiro, são hoje e sexta-feira libertados em duas ribeiras afluentes do Guadiana, a única bacia hidrográfica do mundo onde existe aquele peixe em risco de extinção.
Pedro Rocha, director do Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG), ent idade responsável pela operação, explicou hoje à agência Lusa que vão ser libert ados 58 saramugos: 35 adultos, anteriormente capturados, e 23 jovens, reproduzid os pela primeira vez em cativeiro naquele parque.
Os barrancos do Vidigão e dos Alcaides, dois afluentes da ribeira do Ch ança, na margem esquerda do Guadiana, em pleno concelho alentejano de Mértola, r ecebem, durante a tarde de hoje, 18 saramugos adultos e 20 jovens.
Os restantes peixes, 17 adultos e três jovens, serão libertados, sexta- feira, na ribeira do Vascão, na margem direita do rio.
O saramugo, uma espécie de peixe conhecida apenas na Bacia Hidrográfica do Guadiana, em particular naquelas ribeiras, sofreu uma redução de 80 por cent o nos últimos 10 anos.
A construção de barragens, a poluição causada por descargas, as captaçõ es de água e a introdução de espécies exóticas e não autóctones no rio, como o a chigã, são, segundo Pedro Rocha, algumas das causas da redução do efectivo daque la espécie.
"Trata-se de um peixe que corre o risco de extinção e que, pelo seu car ácter único, deve ser defendido", alertou.
As acções de libertação, de acordo com Pedro Rocha, constituem o culmin ar de uma operação de salvamento do saramugo, que começou no Verão de 2005, quan do, devido à seca, as ribeiras começaram a resumir-se a pegos (pequenos lagos) d ispersos ao longo dos leitos.
Quando estes últimos redutos de água também começaram a secar, o Instit uto de Conservação da Natureza (ICN), através do PNVG, avançou com um plano de e mergência para salvaguardar o saramugo, considerado uma espécie ameaçada da Baci a Hidrográfica do Guadiana.
Nas operações de salvamento, foram retirados, de três sub-bacias do rio , 218 saramugos adultos, dos quais 21 morreram, 71 foram translocados para outro s pegos, em melhores condições, e 126 foram mantidos em aquário.
Destes, muitos foram libertados durante o mês de Novembro de 2005, nos respectivos locais de captura, e com os restantes o PNVG iniciou ensaios de repr odução em cativeiro, com o objectivo de adquirir conhecimento sobre a espécie em risco de extinção.
"No último ano, estudámos e ensaiámos as condições de reprodução do sar amugo e conseguimos reproduzir, com sucesso e pela primeira vez em cativeiro, to dos os grupos genéticos, com a produção total de 145 peixes jovens", salientou P edro Rocha.
A reprodução em cativeiro e os repovoamentos do saramugo associadas ao desenvolvimento de acções de gestão para colmatar os factores de ameaça da espéc ie, poderá ser, de acordo com o responsável, "determinante para a conservação da espécie e a única forma de a devolver às ribeiras de onde tem vindo a desaparec er".
No âmbito do Plano de Gestão do Saramugo, o PNVG vai manter jovens peix es em aquário para continuar a estudar a espécie e realizar mais ensaios de repr odução.
"Vamos aprofundar os ensaios porque, no futuro, poderá ser necessário a vançarmos com a reprodução em grande escala", rematou.