Sete Rios regressa à nornalidade e Alcântara teme inundações

Lisboa, 21 Out (Lusa) - Enquanto comerciantes e moradores de Sete Rios continuam a fazer contas aos estragos provocados pela enxurrada de sábado, em Alcântara, outra zona crítica de Lisboa no que toca a inundações, o sentimento é de receio e apreensão com as chuvas que se aproximam.

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"Estamos com medo de quando vierem as próxima cheias", disse hoje à Lusa o proprietário do restaurante O Palácio, instalado há 30 anos no largo de Alcântara.

João Alves decidiu colocar bombas para retirar a água e deixa sempre um taipal na porta, à semelhança dos restantes comerciantes do bairro.

"Aqui quando chove há sempre inundações", contou, recordando que, há meia dúzia de anos, chegou a ter dois metros de água na cave.

Apesar das medidas que tomou, não dorme descansado quando chove e face ao que aconteceu sábado em Sete Rios afirma: "É claro que ficamos preocupados".

"Quando chove entra sempre alguma coisa, todos os anos", salientou.

Instalado no largo de Alcântara há 30 anos, o comerciante atribui responsabilidades à autarquia pela falta de limpeza das sarjetas.

"Não limpam nada, estão todas entupidas", diz, acrescentando que quando chove as tampas dos colectores saltam e jorra água como se fosse "a fonte luminosa".

Os alertas para a Junta de Freguesia dos Prazeres já foram muitos, garante. "É uma vergonha, não vejo ninguém a limpar", aponta.

Quando a chuva se junta com a subida da maré, o nível da água quase chega à montra de vidro, a cerca de um metro do chão, e passa por cima dos bancos de pedra junto à paragem de autocarros. Os carros ficam a boiar.

Do outro lado da rua, numa loja da Casa Campião o taipal de ferro com borracha para evitar a entrada da água também fica sempre à porta durante a noite, seja Verão ou Inverno.

"Se não fosse isto, entrava para aí água que era um disparate", afiança Quintino, responsável pelo estabelecimento.

Da última vez que a loja foi inundada, a água entrou não só pela porta, mas também pela sanita, recorda.

No interior da loja, todos os bens a proteger foram subidos. O cofre está a meio metro de altura do chão.

Com uma enxurrada como a que aconteceu em Sete Rios, considera que não havia nada a fazer, mesmo com um taipal de 1,2 metros de altura a barrar a porta.

Edmundo Flores mora no bairro há 61 anos. Já ficou com três carros danificados em inundações e indigna-se com a sujidade das ruas e sarjetas, garantindo que sempre que chove "as pessoas estão com o credo na boca".

"Mal chove uma pinguinha é logo uma tourada aqui em Alcântara. É tudo a fugir com os automóveis", relata.

O proprietário do talho, Henrique Machado, mostra-se mais conformado. Diz que a autarquia até faz limpezas e que o problema é que quando chove muito e está maré cheia "fica quase ao nível do rio e não há escoamento".

Também já teve água (dois palmos) dentro do estabelecimento e não dispensa o taipal na porta sempre que fecha.

O mesmo se passa na cervejaria David, onde o nível da água ultrapassou, em Fevereiro, os tampos das cadeiras. O taipal de 70 a 80 centímetros foi substituído por outro com cerca de um metro.

"É uma zona velha e desde que abriram aqui (o solo) para os tubos de gás ficou pior. Sempre que mexem fica pior. A água centra-se neste lago e rebenta o chão", constata o proprietário, António Pereira, recordando as situações "muito difíceis" por que já passou.

Em Fevereiro teve prejuízos avultados. Sofreu "três cheias seguidas". As máquinas ficaram danificadas.

Por isso, sábado, patrão e empregados não pararam de vigiar a porta "a ver se a água entrava".

Os carros foram logo retirados, já que em 2000 António Pereira ficou com o automóvel coberto de água. Daí para cá, todos os anos tem havido inundações, apesar das limpezas.

Em Sete Rios, a família proprietária do restaurante "O Nortenho" continua a fazer limpezas e já contactou um advogado para, juntamente com os vizinhos afectados, equacionar a possibilidade de ver os prejuízos ressarcidos e garantir que o mesmo não volta a acontecer.

Contam reabrir "o mais tardar" quinta-feira. As máquinas ficaram todas danificadas. A dona do restaurante, Júlia Gomes, afirma que, desde as cheias de Fevereiro, já o é terceiro micro-ondas que terá de instalar.

Os dois restaurantes da mesma rua, mais pequenos, já reabriram, mas um deles - a churrasqueira Rio Minho - com material emprestado.

O casal que morava no rés-do-chão do número 213 está provisoriamente instalado numa pensão, a expensas da Misericórdia.

Everton e Karen Dalbello procuram agora uma casa com uma renda acessível, independentemente de terem ou não uma resposta da autarquia para uma habitação social.

"Inicialmente falaram nisso, mas nós também estamos à procura, não queremos nada de graça. Pedimos que nos ajudem a encontrar uma casa para alugar com uma renda que possamos pagar", dizem.


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