Sindicato dos Médicos apoia com reservas fecho de extensões no Centro
O Sindicato dos Médicos da Zona Centro (SMZC) apoiou hoje o eventual encerramento de algumas extensões de saúde da região desde que sejam dadas alternativas às populações.
Ressalvando que esta é uma "questão delicada", João Rodrigues, presidente do SMZC, defendeu, em declarações à Agência Lusa, que a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde passa pela extinção de algumas daquelas unidades descentralizadas.
O sindicalista apoiou, no essencial, a intenção do presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, Fernando Andrade, que na semana passada, em nome da qualidade dos serviços prestados, manifestou o desejo de encerrar 34 extensões de saúde que servem menos de 100 utentes, 18 das quais no distrito de Coimbra.
Fernando Andrade não divulgou a lista das extensões de saúde que deseja encerrar, e o SMZC disse hoje que também não dispõe dessa informação.
No entanto, João Rodrigues demarcou-se em parte da posição de Fernando Andrade, considerando que o limite dos 100 utentes "não pode ser critério" para optar pelo encerramento.
"Não pode ser fechar por fechar", disse o dirigente, preconizando que em cada caso a ARS salvaguarde a "negociação, discussão técnica e criação de alternativas".
Na sua opinião, é necessário "explicar às pessoas que não é possível garantir cuidados de saúde de qualidade" em muitas das extensões, dispondo os centros de saúde dos meios humanos técnicos e humanos adequados à prestação desse serviço.
"É evidente que há serviços de atendimento permanente (os SAP dos centros de saúde) e extensões de saúde a mais no país", disse, admitindo que o objectivo da ARS- Centro corresponde a obter "um equilíbrio muito difícil".
João Rodrigues defendeu que o Ministério da Saúde deve apostar mais nos sistemas de consultas pós-laborais e nas unidades de saúde móveis, por exemplo, aproveitando fundos do III Quadro Comunitário de Apoio ainda disponíveis.
"Não há aqui um modelo fixo de funcionamento, quer para os centros de saúde, quer para as extensões", acrescentou.
Já a coordenadora da sub-região de Saúde da Guarda, Emília Pina, disse à Lusa que, apesar de na sua área terem sido apontados quatro casos de extensões que teriam menos de 100 utentes, tal não corresponde à realidade porque os dados "estão desactualizados".
"Estes números surgiram do cruzamento da base de dados do Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (IGIF) com a do Ministério da Justiça, por causa dos óbitos. Foram enviados às sub-regiões de saúde precisamente para serem actualizados", explicou.
Segundo Emília Pina, no caso da sub-região da Saúde da Guarda "não há nenhuma extensão em risco de fechar".
Apenas uma, no concelho de Pinhel, numa freguesia cujo nome não quis avançar, tem inscritos somente 60 utentes, mas, na realidade, é frequentada "por muitos mais", entre os cerca de 400 habitantes que tem.
"Há utentes que não estão inscritos na extensão de saúde, mas deslocam-se lá e são vistos pelo médico", contou.
Por isso, vai ser pedido às pessoas que se inscrevam, estimando a responsável que a situação esteja regularizada no prazo de 15 dias.
De acordo com os dados avançados quinta-feira pela ARS-Centro, há 34 extensões de saúde com menos de 100 utentes, nomeadamente nas sub-regiões de Coimbra (18), Castelo Branco (8), Guarda (4), Leiria (3) e Viseu (1).
Também em Viseu não existe qualquer extensão de saúde em risco de encerrar, segundo disse à Lusa o coordenador da sub-região de saúde, Mota Faria, apesar de os dados fornecidos quinta-feira pela ARS apontarem um como servindo menos de 100 utentes.
Em toda a sub-região de Viseu não há nenhuma extensão com menos de 100 utentes, por isso não está previsto encerrar nenhuma", assegurou, acrescentando que as existentes "estão bem dimensionadas" e que, por isso, os dados avançados encontram-se desactualizados.
Quando às 33 extensões de saúde que Fernando Andrade disse já terem encerrado na sub-região de Viseu devido ao reduzido número de utentes, Mota Faria esclareceu que "isso já aconteceu há mais de 15 anos", tratando-se de antigos postos dos Serviços Médico-Sociais.
Por seu turno, segundo Luís Mourato, coordenador da Sub-Região de Saúde de Leiria, nenhuma das extensões será encerrada sem "conversas com as juntas de freguesia e câmaras municipais".
No distrito de Leiria, a ARS pondera o encerramento das extensões de Campelo, Vilas de Pedro (Figueiró dos Vinhos) e São Pedro de Moel (Marinha Grande), mas Luís Mourato recusa assumir "para já" que esses equipamentos terão esse fim.
"Vamos estudar caso a caso e ver a melhor forma de resolver este problema sem que isso signifique prejuízos para as populações", sublinhou.
No seu entender, os custos da deslocação de médicos "duas vezes por semana" são "exagerados" face ao volume de trabalho que existem nos centros de saúde das sedes de concelho.
Confrontado com esta proposta, Álvaro Órfão, presidente da Câmara da Marinha Grande, mostrou-se "surpreendido", mas não quis comentar o eventual encerramento da extensão de São Pedro de Moel, preferindo aguardar por uma comunicação da ARS.
Por seu turno, Pedro Lopes, vice-presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, promete uma forte contestação da autarquia e da população contra essa pretensão da ARS.
"Trata-se de mais um critério economicista, prejudicando as pessoas que mais precisam", considerou o autarca, responsável pelo pelouro da Acção Social.
Recordando que esta proposta de encerramento já havia sido abordada pela ARS-Centro, Pedro Lopes salienta que os serviços de saúde "têm de providenciar melhores cuidados" e "não devem obedecer a preocupações de pequenos custos".
O autarca revelou que a autarquia está disponível para custear parte das despesas das viagens dos médicos às duas extensões de saúde, que se localizam a cerca de 20 quilómetros da sede de concelho.
"É uma zona com uma população muito idosa" e "essa decisão vem acentuar ainda mais a desertificação e o abandono do mundo rural", disse.