Sobrinha de Irmã Lúcia "abençoa" cada vez mais peregrinos

Vestida de preto e com um terço na mão, Maria d os Anjos guarda quase diariamente a casa da sua tia, a Irmã Lúcia, e "abençoa" m uitos peregrinos que procuram nela uma ligação directa à Vidente das Aparições d e Fátima.

Agência LUSA /

"As pessoas pedem-me cada vez mais coisas: ora são bênçãos ora são prom essas. Tenho cada vez mais pedidos de ajuda e de orações mas não posso dizer que não a ninguém porque, ao fim das coisas, eu sou sobrinha de Lúcia e isso é uma grande responsabilidade".

Magra e pequena, no rosto ainda se notam as feições da sua tia enquanto pequena, mas Maria dos Anjos preferia até que as pessoas nem notassem na sua pr esença.

"Estou aqui na casa dela porque o Santuário me pediu mas não digo a nin guém que sou sobrinha. As pessoas é que, quando sabem, querem que eu as abençoe" , explicou a idosa, de 86 anos, muitos deles ligados também à pastorícia, como a sua tia.

Dela guarda a memória de uma pessoa "muito humilde e muito devota" de N ossa Senhora que assumiu uma forma de vida "dedicada à oração" que "mais dia men os dia" também a levará ao panteão dos beatos e dos santos.

"Isso vai acontecer mas também não devemos ter pressa para que as coisa s sejam bem feitas", considerou Maria dos Anjos, falando no intervalo do cumprim ento dos turistas que visitam a casa da Lúcia, a poucos quilómetros de Fátima.

De vez em quando, um burburinho ligeiro entre grupos de peregrinos apon tava para a octogenária, identificando-a como familiar de Lúcia e logo depois su cediam-se cumprimentos e bênçãos.

"Ela conviveu com Lúcia e só isso faz com nos sintamos mais próximos de ssa santa", afirmou Mary McCall, uma norte-americana que veio esta semana a Fáti ma para participar pela primeira vez numa Peregrinação Aniversaria ao Santuário.

"Já aqui estive duas vezes em passeios pela Europa mas desta vez vim aq ui para rezar e para conhecer tudo sobre Fátima", afirmou esta professora univer sitária de história de arte numa universidade dos Estados Unidos.

De pé junto ao fogão, como se de um quadro se tratasse, Maria dos Anjos é uma memória viva do tempo em que Valinhos era apenas uma das muitas aldeias d a Serra de Aire mas que três crianças e a fé dos crentes transformou num altar d o mundo católico.

"Fátima mudou muito mas a Lúcia continua a ser a mesma: continuava aleg re e sorridente para todos", afirma a sobrinha, que vive com o fardo desta heran ça.

"Gosto muito dela mas eu quero ser esquecida. O importante são os Pasto rinhos e o que eles fizeram, tudo o resto não interessa", afirmou, confessando-s e um pouco "incomodada" com algumas abordagens dos peregrinos mais entusiastas p or verem aqui um familiar directo da Vidente.

"Pedem-me sempre muitas coisas, querem tirar fotografias e desde Fevere iro (por ocasião da trasladação do corpo de Irmã Lúcia de Coimbra para Fátima) q ue parece existirem mais pessoas aqui", disse.

Célia Figueiredo, uma brasileira de São Paulo a viver em Portugal há tr ês anos, foi uma das peregrinas que visitaram a casa da Lúcia e não se aperceber am da presença da sobrinha da religiosa.

"Não sabia. Mas, para mim, mais importante do que uma pessoa é tudo ist o", afirmou, apontando para a casa de Lúcia e dos seus primos, Francisco e Jacin ta Marto, que são administrados pelo Santuário.

"A Santa é que faz tudo de importante. Nós, as mulheres e os homens, li mitamo-nos a agradecer", disse Célia Figueiredo, que no Brasil era devota soment e de Nossa Senhora Aparecida.

"Quando vim para Portugal, cheguei a Fátima e agora venho cá todos os a nos para agradecer as muitas graças que ela me deu", explica, confessando ter um a "ternura especial" por Lúcia.

"Eu sei que ela vai ser santa mas tudo tem o seu tempo e a ciência vai confirmar os milagres que forem necessários", confiou esta peregrina que regress a hoje a casa sem participar nas cerimónias religiosas.

"O mais importante é o silêncio e a nossa fé. Na missa é muita confusão e eu prefiro guardar respeito em casa", diz.

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