Sociedade apela a maior acesso às colonoscopias, único exame de prevenção e rastreio

por Lusa

A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia apelou hoje a uma maior disponibilidade de acesso às colonoscopias, o único exame que permite rastreio e prevenção, conseguindo "chegar a tempo" do cancro de cólon e reto, que mata 11 portugueses por dia.

Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Europeu de Luta Contra o Cancro do Cólon, que hoje se assinala, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Guilherme Macedo, lembra que o cancro do cólon e reto, evitável em muitas circunstâncias, mata o equivalente a "uma equipa de futebol por dia".

"O cancro do cólon e reto deveria ser mesmo uma prioridade de saúde publica em Portugal. Em duas décadas que pugnamos por uma estratégia de prevenção e rastreio e, na realidade, a mortalidade deste cancro tem vindo a aumentar", lamentou Guilherme Macedo, frisando que é possível evitar esta doença "pela identificação precoce, pelo método endoscópico, das lesões precursoras".

"Nenhum outro método tem essa capacidade, de fazer rastreio e prevenção ao mesmo tempo: rastreio porque se identifica precocemente e prevenção porque se resolve o problema antes de ele o ser", acrescentou.

O também diretor do serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto, insiste que Portugal tem capacidade instalada no país para realizar colonoscopias "com qualidade e segurança" para o doente e diz que o que preocupa são as dificuldades de acesso.

"A menor acessibilidade é a nossa preocupação. Houve a pandemia e com isso uma redução da oferta, que já está ultrapassada em todo o país, pois tendo em conta os dados das preparações intestinais vendidas já atingimos o ritmo pré-pandemia. Mas falta-nos recuperar os doentes que entretanto não foram diagnosticados. O ritmo de crescimento não acompanhou ainda o aumento da necessidade", afirmou.

Guilherme Macedo defende que "a acessibilidade é o fator que fará a diferença no futuro" e que, por isso, "a capacidade de oferta deve expandir-se, tendo em conta todo o sistema e todas as instituições.

"Não podemos ter uma amarra ideológica que limite a oferta da capacidade de realizar colonoscopias a alguns locais", sublinha.

O presidente da SPG defende que esta necessidade implica uma reorganização interna dos hospitais e de todas as estruturas com capacidade para fazer estes exames e aponta as dificuldades de anestesia nalguns hospitais.

"Nos hospitais ainda nos debatemos com extrema dificuldade em conseguir turnos de endoscopias com anestesistas. Os procedimentos que envolvem anestesistas são muito variados e é preciso ampliar presença destes especialistas nos serviços com endoscopia digestiva", defendeu.

Diz que os números da mortalidade por cancro do cólon e reto podem ser "a ponta do iceberg" e que os casos em que a doença aparece já em estado mais avançado "consomem recursos financeiros importantes", frisando, por isso, a necessidade do foco na prevenção.

"A metodologia de rastreio e prevenção deve ser otimizada. A pesquisa sangue oculto vai existindo no país, mas apenas serve de rastreio e tem limitações, pois a identificação das lesões está longe de ser perfeita e não permite a solução imediata do problema (remoção das lesões precursoras)", afirmou o especialista, que defende a substituição desta pesquisa pelas colonoscopias.

"Quando dizem que consome muitos recursos financeiros eu julgo que isso não é realista. Tudo é negociável", afirmou.

O responsável defende ainda que se deve aproveitar o facto de a taxa de crescimento deste cancro não ser tão rápida como noutros cancros, dando mais margem para se conseguir "chegar a tempo".

"O que nos choca é constatar que 11 portugueses morrem por dia de cancro de cólon e reto, uma doença em muitos casos evitável. E isto não é aceitável", afirmou.

De acordo com os dados do Portal da Transparência do SNS, em 2020 foram contabilizados 1.654.034 utentes com rastreio do cancro do cólon e reto feito, menos 116.000 do que em 2019. Este ano, até agosto, foram registados 1.551.120.

Na semana passada, a Organização Europeia do Cancro (OEC) estimou que, durante a pandemia, tenham ficado por diagnosticar na Europa mais de um milhão de cancros e que metade dos doentes oncológicos não tenham recebido o tratamento de que necessitavam.

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