Sócrates justifica viagens com herança da mãe

José Sócrates afirmou, na fase de instrução da Operação Marquês, que a mãe lhe dava dez mil euros por viagem, recorrendo a uma herança de cinco milhões de euros que recebeu nos anos 80 do avô. À saída do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa, o ex-primeiro-ministro garantiu que "não ficou pedra sobre pedra" na acusação.

RTP /
António Pedro Santos - Lusa

José Sócrates justificou ao juiz Ivo Rosa que a mãe tinha dinheiro porque nos anos 80 recebeu uma herança de um milhão de contos (cinco milhões de euros) e que lhe doou parte dessa verba, cerca de 10 mil euros, para pagar cada uma das viagens de lazer que fez enquanto governante e posteriormente.

Acho que foi tudo muito exaustivo. Como vos disse à entrada, vim aqui com espírito inicial de repor a verdade. E não ficou pedra sobre pedra nesta acusação. Percorremos todos os pontos”, afirmou à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa.

No final do quinto dia de inquirições, Sócrates volta a frisar que sai “muito satisfeito”.

À entrada do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa, o ex-primeiro-ministro tinha repetido que a acusação é “monstruosa, injusta e completamente absurda”.

Sobre a casa onde viveu em Paris, enquanto estudava e que o Ministério Público acredita ser sua propriedade, o ex-primeiro-ministro insiste que o imóvel pertence ao seu amigo e também arguido Carlos Santos Silva e que nem sequer lhe deu conselhos sobre as obras de remodelação, contrariando a acusação.

Em relação aos empréstimos bancários que fez na Caixa Geral de Depósitos, Sócrates referiu que fez um de 120 mil euros que lhe permitiu viver e estudar um ano em Paris e que as despesas do segundo ano foram suportadas com os mais de 400 mil euros que a mãe lhe deu depois da venda da casa na Rua Braamcamp, em Lisboa, a Carlos Santos Silva.A Operação Marquês teve início em julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos -19 pessoas e nove empresas - a 11 de outubro de 2017 pela prática de 188 de crimes económico-financeiros, entre os quais corrupção e branqueamento de capitais.

No final do mês, é a vez de Carlos Santos Silva ser interrogado na fase de instrução da Operação Marquês, que funciona como um mecanismo de controlo jurisdicional da acusação do Ministério Público e que termina com a decisão do juiz de levar ou não a julgamento os arguidos e os termos em que isso acontece.

José Sócrates, que esteve preso preventivamente e em prisão domiciliária, está acusado de 31 crimes económico-financeiros.


O antigo líder socialista foi acusado pelo Ministério Público da alegada prática de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 crimes de branqueamento de capitais, nove crimes de falsificação de documento e três crimes de fraude fiscal qualificada.
Telemóveis fora da sala de audiências
Os advogados e procuradores que estiveram no interrogatório do antigo primeiro-ministro deixaram os telemóveis e ipad fora da sala de audiência a pedido do juiz Ivo Rosa, disseram à Lusa fontes ligadas ao processo.

As fontes explicaram que o juiz que acompanha a fase de instrução da Operação Marquês pediu aos advogados e procuradores que não utilizassem os telemóveis e ipad para comunicar com o exterior, tendo estes acatado a decisão.

Na semana passada, Ivo Rosa tinha-se mostrado incomodado com as fugas de informação da sala de audiências enquanto durava o interrogatório e chamou a atenção dos advogados, tendo referido que caso continuassem a passar informações proibiria a entrada de telemóveis no espaço.

c/ Lusa
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