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Spinumviva. Ana Gomes enviou participação para Procuradoria Europeia

por Inês Moreira Santos - RTP
Lusa

A Procuradoria-Geral da República anunciou que foi aberta uma averiguação preventiva ao primeiro-ministro e à Spinumviva, tendo revelado que foram feitas três queixas, uma delas apresentada por Ana Gomes. A antiga eurodeputada explicou à RTP que deu conhecimento à PGR, à Polícia Judiciária e à Unidade de Informação Financeira da participação enviada para a Procuradoria Europeia.

Ana Gomes fez uma participação à Procuradoria Europeia, com conhecimento às autoridades portuguesas, relacionada com a avença do grupo Solverde à empresa Spinumviva, da família de Montenegro, e com a alegada falta de regulamentação nos casinos.

Em entrevista à RTP, a jurista esclareceu que não apresentou a queixa "necessariamente por causa de Luís Montenegro", mas devido à "situação de combate ao branqueamento de capitais no nosso país, em especial num setor muito vulnerável, a instrumentalização para efeito de branqueamento de capitais do setor dos casinos".

"Há uma relação da empresa do primeiro-ministro com o setor dos casinos", começou por clarificar. "E o setor dos casinos (...) é um setor muito vulnerável à instrumentalização pela criminalidade organizada, para branquear capitais".

A ex-eurodeputada disse ter tido como base informação recolhida em fontes abertas, "com tudo o que foi publicado a partir do momento que se soube de toda esta ligação do primeiro-ministro aos casinos Solverde", tendo considerado que "o sistema português de regulação dos jogos é absolutamente fictício".

Depois de uma investigação que a própria fez, tendo acesso a informação pública, Ana Gomes verificou que "os controlos no nosso país são extremamente frouxos".

"Eu não fiz nenhuma denúncia e nenhuma denúncia anónima. Fiz uma participação com base em factos públicos, que juntei, e que naturalmente ligam a Spinumviva, a empresa familiar do primeiro-ministro, a uma empresa de casinos visto que ela era uma conduta para o primeiro-ministro receber dinheiro dos casinos". 
Além disso, repetiu a ex-eurodeputada, "os casinos são um setor em que a regulação e a supervisão é extremamente deficiente".

"É uma área que depende não só pela concessão do Estado do jogo, dos casinos físicos (...) mas também do jogo online. É uma concessão do jogo online, que no caso do Solverde, aceita criptomoedas".

Para Ana Gomes, esta questão precisa de "ser devidamente investigada".

Na investigação que a própria fez, verificou que "as empresas do próprio Grupo Solverde (...) têm recebido fundos europeus". E por isso, considerou que "esta questão merece uma investigação europeia e daí que eu tenha feito a participação à procuradoria europeia".

Mas não foi apenas porque o Grupo Solverde recebia fundos europeus que fez a queixa. 

"É sabido, é público que a família dona da Solverde tem uma offshore, (...) e nunca facultou explicações sobre a razão de ter uma offshore", apontou ainda. "Isso põe imediatamente questões sobre a idoneidade da família dona dos casinos Solverde para ter casinos".Não confirmando que fez a participação por desconfianças sobre o procurador-geral, Amadeu Guerra, Ana Gomes admitiu que avançou "face à inação da Procuradoria".

"Parti do princípio que as autoridades tributárias atuariam", comentou. "Eu própria enviei cópia à PGR, à PJ e à Unidade de Investigação Financeira".

O que a alarmou foi o "facto da Procuradoria, face a todas as notícias públicas suscitadas por este caso em particular, porque não é normal um primeiro-ministro estar a receber dinheiro de empresas, seja porque meio for"

"Ainda menos normal é receber de um grupo de casinos"
, acrescentou.

Ana Gomes fez a participação no dia 10 e dois dias depois a Procuradoria-Geral da República anunciou que tinha desencadeado "uma investigação preventiva".

"Eu limitei-me a reunir as peças de um puzzle, na base daquilo que fomos sabendo da Spinumviva (...). E a partir daí, o quadro que se desenhou deixou-me muito preocupada".


Na ótica da jurista, "há uma série de indícios altamente preocupantes (...) ligados ao funcionamento da supervisão eficaz do setor dos jogos e casinos".

"É um setor que o Ministério Público sabe que é particularmente vulnerável à instrumentalização pela criminalidade organizada para branquear capitais".

A informação da antiga eurodeputada socialista faz parte de uma das três denúncias recebidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), conforme avançou o Observador, e que terão dado origem à abertura de uma averiguação preventiva que corre no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

Esta quarta-feira, o procurador-geral da República, Amadeu Guerra, anunciou a abertura de uma averiguação preventiva relacionada com a empresa Spinumviva e adiantou que foram recebidas três denúncias.

Amadeu Guerra não adiantou prazos e explicou que a averiguação preventiva terá como base informações obtidas em fontes abertas e que serão pedidos dados a várias entidades.
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