Sucateiro "amigo da Indonésia" julgado em Famalicão por violência doméstica

Famalicão, 15 jan (Lusa) -- Um antigo sucateiro de Famalicão que se intitula "um dos fundadores" da Associação de Amizade Portugal-Indonésia começou hoje a ser julgado, no tribunal daquela comarca, por violência doméstica sobre a mulher.

Lusa /

O arguido, José Sousa, localmente conhecido por "o amigo da Indonésia", apresentou-se perante o coletivo de juizes como comerciante de máquinas, assegurando que vende "peças para a NASA".

Questionado pelos jornalistas, escusou-se a revelar que peças vende àquela agência espacial norte-americana, escudando-se no provérbio "o segredo é a alma do negócio".

É acusado pelo Ministério Público de violência doméstica, agredindo física e verbalmente a mulher desde 1991 até março de 2011, altura em que o casal se separou.

Nas últimas Autárquicas, em 2009, José Sousa foi o candidato do PS à Assembleia de Freguesia de Louro, tendo mesmo assim a mulher anuído a fazer parte da lista.

"Aceitei porque ele não tinha mais ninguém", confessou a mulher.

A vítima apontou o ex-marido como sendo um homem "violento" e "muito ciumento e possessivo", a ponto de não a deixar ser operada às varizes por pensar que o que ela queria era "passar a andar de minissaia".

"Já estava no hospital, prontinha para ser operada, e ele ligou para lá a proibir que me operassem", contou.

Disse ainda que, noutra ocasião, passou uma semana inteira a "levar porrada", só porque ofereceu uma sardinha a um rapaz que foi pintar a casa onde moravam.

Outro episódio registado pela mulher foi quando cumprimentou "com dois beijinhos" um tio.

"Apanhei toda a noite", afirmou, garantindo que ao longo dos anos que viveu com o arguido "levava por tudo e por nada", desde bofetadas, pisadelas, apertões nos braços, puxões de cabelo ou murros na cabeça.

Disse ainda que a primeira vez que o marido lhe bateu foi quando estava grávida de quatro meses.

Acrescentou que as agressões eram extensivas aos quatro filhos do casal.

"Apanhávamos todos", garantiu.

O arguido escusou-se a prestar declarações, mas, a meio do julgamento, desabafou que iria "à máquina da verdade".

Conjuntamente com este processo por violência doméstica, José Sousa está também a ser julgado por denúncia caluniosa, por ter dito que o sucateiro Manuel Godinho lhe pagou 25 mil euros para ele não participar num concurso de levantamento da Linha do Tua.

A ex-mulher manifestou-se convencida de que "não houve 25 mil euros nenhuns" e que o marido só disse aquilo porque "a ambição dele era ser uma pessoa conhecida" e porque "sempre gostou de estar no meio das pessoas grandes".

Uma mania que a vítima exemplificou com o facto de, numa altura em que o casal vivia numa "casa velha", o marido ter comprado um telefone para o carro que custou "700 contos" [3500 euros].

"Foi a primeira pessoa de Louro a ter telefone no carro", criticou.

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