Tempestade Leslie fez prejuízos de milhões de euros em Coimbra

por RTP
Apenas na Figueira da Foz, os prejuízos foram superiores a 32 milhões de euros Paulo Cunha - Lusa

Os prejuízos causados pelo furacão Leslie no passado fim de semana ascendem a dezenas de milhões de euros, dizem as autarquias das regiões mais afetadas. Coimbra foi o distrito mais prejudicado, com os danos em Figueira da Foz a rondar os 32 milhões e, no município de Soure, a ultrapassar os sete milhões. Os valores devem-se, substancialmente, à destruição de infraestruturas e de explorações agrícolas.

Uma estimativa preliminar da Câmara Municipal de Figueira da Foz determina que os prejuízos da cidade foram superiores a 32 milhões de euros, dos quais mais de 20 milhões dizem respeito a empresas.

Estes números podem ainda vir a aumentar, uma vez que os danos da empresa de papel do grupo Navigator, uma das maiores da Figueira da Foz, e algumas unidades do grupo agroalimentar Lusiaves ainda estão por avaliar.

O presidente da autarquia, João Ataíde das Neves, refere que muitas das infraestruturas do concelho foram destruídas.

Nas habitações particulares, os danos devem ascender a cinco milhões de euros, enquanto nos edifícios e equipamentos municipais – tais como áreas verdes, mobiliário urbano e sinalização rodoviária – devem chegar aos 2,8 milhões.

A escola secundária Bernardino Machado continua encerrada devido aos estragos, que impedem o seu normal funcionamento.

Esta cidade do distrito de Coimbra foi o ponto de entrada em terra do furacão Leslie e, no sábado à noite, registou ventos de 176 quilómetros por hora, o número mais elevado desde sempre em Portugal.
Milhões de prejuízos em Soure
O município de Soure, no distrito de Coimbra, prevê um prejuízo superior a sete milhões de euros com o furacão Leslie, disse esta quarta-feira o presidente da Câmara, Mário Jorge Nunes.

Os prejuízos no concelho chegavam a 6,8 milhões de euros hoje de manhã, mas os valores "continuam em permanente atualização pelos diversos setores", afirmou. Esta contabilização dos gastos ainda não inclui o setor agrícola, cujo levantamento dos prejuízos está a ser feito em paralelo, acrescentou.

Segundo o autarca, nas habitações haverá prejuízos na ordem dos dois milhões de euros, contabilizando-se cerca de cinco mil casas afetadas.

"Algumas apenas necessitam de apoios simples, entre os 300 e os 500 euros, e outras com danos mais complexos na ordem das várias dezenas de milhares de euros, com prejuízos grandes nas coberturas e em painéis solares", explicou Mário Jorge Nunes.

Na área empresarial, a autarquia já identificou cerca de 2,5 milhões de euros de danos, nomeadamente relacionados com prejuízos em coberturas em instalações industriais, e, no setor social, haverá um prejuízo de quase de dois milhões de euros em instituições de solidariedade social e em associações recreativas e culturais.
Agricultores preocupados
Cantanhede, outra cidade do distrito de Coimbra, registou alguns dos maiores estragos nas explorações agrícolas. Numa exploração de kiwi da região, 85 por cento da produção ficou comprometida. A tempestade derrubou vigas e, com elas, as próprias plantas e o sistema de rega.

Faltavam apenas duas a três semanas para a colheita, na qual se previa a recolha de cerca de 100 toneladas de kiwi.

Os proprietários destas culturas têm apelado ao Governo que sejam criados apoios que permitam minimizar os prejuízos trazidos pela tempestade.

Na segunda-feira, o secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira, visitou Montemor-o-Velho, em Coimbra, e considerou os estragos “preocupantes”.

O governante lembrou que as culturas anuais estão abrangidas pelo seguro de colheitas e que o Ministério da Agricultura gasta anualmente, com esse mecanismo, cerca de 11,5 milhões de euros, subsidiando agricultores "com 60 a 65 por cento a fundo perdido".

Já na chamada reposição do potencial produtivo, destinada a apoiar os agricultores que tenham visto destruídos instalações agrícolas, a tutela irá utilizar um mecanismo idêntico ao utilizado nos incêndios florestais.

Prejuízos até 5.000 euros serão apoiados 100% a fundo perdido, acima desse valor até aos 50 mil euros o apoio é de 85% e entre os 50 mil até aos 800 mil euros de 50% a fundo perdido, explicou Luís Vieira.

"A partir de agora a Direção Regional de Agricultura já tem a plataforma disponível para os agricultores apresentarem a sua declaração de prejuízos e a partir daí iremos abrir as candidaturas, para podermos depois analisá-las e proceder aos respetivos pagamentos", declarou.
“Muito trabalho a fazer”
Em Montemor-o-Velho, o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil vai continuar ativado até terça-feira, anunciou hoje a Câmara Municipal.

O conselho, que também pertence ao distrito de Coimbra, foi um dos mais afetados pela tempestade. Trezentos alunos continuam sem aulas devido aos estragos ocorridos nas escolas.

"Efetivamente ainda há muito trabalho a fazer. Ainda há muita gente sem luz e sem acesso a algumas infraestruturas públicas", declarou o presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho.

O autarca acredita que o concelho deu "uma grande lição de união e humildade nestas horas muito difíceis" mas que, apesar do trabalho de todos, não estão ainda reunidas as condições para repor a normalidade.
Jardim Botânico de Coimbra danificado
Outro dos locais que mais sofreu com a tempestade Leslie foi o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, onde centenas de plantas ficaram danificadas, assim como várias árvores centenárias.

Segundo o responsável, uma parte significativa do Botânico, com cerca de 250 anos de história, foi danificada pela tempestade Leslie, no sábado, quer na mata, quer no jardim clássico, contabilizando "centenas de árvores" danificadas, "algumas severamente".

"Agora, há que confiar, com saber e com técnica, na recuperação destas árvores", disse António Gouveia, diretor do Botânico. Mais de uma dezena de árvores caíram completamente.

De momento, a equipa do Botânico ainda está a fazer um levantamento dos prejuízos, onde se incluem também estragos em muros e gradeamentos, sendo que, mais para a frente, será desenhado um plano sustentado para recuperar e replantar o jardim.

Durante estes dias, o pessoal do jardim, juntamente com alguns voluntários de centros de investigação associados ao espaço, andaram a limpar o local, que estava repleto de "ramos e raminhos".

De acordo com António Gouveia, o Jardim Botânico estará fechado durante toda esta semana e, provavelmente, também a próxima.

Tendo entrado em Portugal já como tempestade tropical, o Leslie provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados. A Proteção Civil mobilizou 8.217 operacionais, que tiverem de responder a 2.495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.

c/Lusa
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