Terça-feira, o dia mais longo de 2015

Não é engano: esta terça-feira, 30 de junho, vai mesmo ser o dia mais longo deste ano, porque vai ter mais um segundo do que todos os outros 364 dias. Tudo porque a Terra está a rodar mais devagar.

Nuno Patrício - RTP /
Foto: Reuters

É mais um segundo a juntar aos 86.400 segundos que compõem um dia.

De acordo com o padrão de tempo que as pessoas usam nas suas vidas diárias, UTC - tempo Universal Coordenado (tempo atómico) – a duração de um dia é de 23h59m59s.

Mas uma rotação terrestre não demora exatamente esse tempo, como explica o cientista da NASA, Daniel MacMillan, do Goddard Space Flight Center em Greenbelt, Maryland.

"A rotação da Terra está gradualmente a diminuir e a retificação do tempo cronológico é uma maneira de explicar isso", disse.

Ou seja, o nosso planeta está a abrandar e por essa razão temos de acrescentar mais um segundo ao tempo.



Uma das formas de se compensar este abrandamento é acrescentar mais um dia de quatro em quatro anos (anos bissextos). Mas já não chega.
Porque está a Terra a travar?
O dia solar médio ou a duração média de um dia - tendo por base o tempo que a Terra demora girar - é de 86,400.002 segundos.

Devido à força causada pelo campo gravitacional entre a Terra, a Lua e o Sol, a rotação do planeta está gradualmente a abrandar. O que também sucede por outras causas naturais, como por exemplo tremores de terra.

Desde o ano de 1820 que os cientistas estimam que o dia solar médio não tem sido exatamente de 86.400 segundos. Agora, depois de várias medições, teve de ser feita uma correção ao relógios atómicos.

Esta diferença de dois milissegundos, ou dois milésimos de segundo, é quase impercetível, tão pequena que é menor do que o piscar de um olho.



Mas se esta pequena discrepância fosse repetida todos os dias durante um ano inteiro, teria de se adicionar quase um segundo.

Na realidade, isso não é bem o que acontece. Embora a rotação da terra esteja a diminuir em média, o comprimento de cada dia individual varia de modo imprevisível.

Atualmente os cientistas monitorizam o tempo que a Terra demora a completar uma rotação completa e usam uma técnica extremamente precisa chamada Very Long Baseline Interferometry (VLBI).

Estas medições são realizadas por uma rede mundial de estações, conjuntamente com a estação de monitorização Goddard, da NASA.
Como é feito o “nosso” tempo (cronos)
O padrão de tempo chamado de tempo Universal 1 ou UT1 baseia-se em medidas estabelecidas pela VLBI da rotação da Terra.



O UT1 não é tão uniforme como o relógio atómico (UTC) e o UT1 tendem a distanciar-nos do tempo base.

São por isso adicionados segundos de salto, quando necessários, para manter os dois padrões de tempo a 0,9 segundos um do outro.

Normalmente, um segundo salto, quando necessário, é inserido a 30 de junho ou a 31 de dezembro.



Em condições normais, um relógio mudaria de 23:59:59 para 00:00:00 do dia seguinte, mas com a adição de mais um segundo o UTC vai passar de 23:59:59 para 23:59:60 e só depois de 00:00:00 em 1 de julho. Na prática, muitos sistemas são desligados em vez de acrescentar um segundo.
Anos bissextos
A utilização do sistema de correção feita com base na criação de mais um dia no ano (ano bissexto) tem criados alguns desafios para alguns sistemas de computador, tendo gerado controvérsia e mesmo pedidos para o abandono deste sistema.

Uma das razões pelas quais ainda não foi abandonado é a de que a necessidade de adicionar um segundo salto não pode ser prevista com muito tempo de antecedência.

"A curto prazo, os segundos de salto não são tão previsíveis como todos gostariam", disse Chopo Ma, um geofísico da Goddard Space Flight Center em Greenbelt e membro do Conselho Geral dos Sistemas de referência Internacionais e rotação da Terra.



"A forma errática de como a rotação da Terra se desenrola encaixa melhor no sistema de previsão dos anos bissextos e no futuro pode mesmo acontecer que mais e mais anos bissextos serão acrescentados a longo prazo, mas não podemos dizer que um serão necessários todos os anos".

Às vezes, súbitos eventos geológicos, como terremotos e erupções vulcânicas, podem afetar a rotação da Terra a curto prazo, mas o panorama é mais complexo.

O VLBI vai continuar a analisar todas as variações, de curto e longo prazo, por meio das redes mundiais de estações que observam objetos astronómicos, chamados quasares.

Os quasares servem como pontos de referência que são essencialmente imóveis, porque eles estão localizados a milhões de anos-luz da Terra e desta forma poderá ser maior a precisão temporal entre cada rotação terrestre.

É caso para dizer que um segundo a mais ou um segundo a menos, agora, faz toda a diferença.
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