Tomás Correia arguido em investigação decorrente da Operação Marquês

por RTP
António Cotrim - Lusa

O atual número um da Associação Mutualista Montepio Geral, Tomás Correia, ex-presidente do banco, foi constituído arguido no âmbito de uma nova investigação resultante da Operação Marquês. O ex-presidente do banco refutou em comunicado qualquer relação com este processo.

Foi extraída uma certidão para que se investigue autonomamente movimentos bancários suspeitos que envolvem a banca e offshores, depois de informações que chegaram da Suíça.

Tomás Correia é suspeito de ter recebido 1,5 milhões de euros para financiar José Guilherme. Este construtor civil ficou conhecido por ter oferecido 14 milhões de euros a Ricardo Salgado, à data presidente do Banco Espírito Santo.O inquérito é dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

O banco Montepio poderá ter sido lesado com falsos pretextos para o empréstimo.

A edição do Diário de Notícias desta quarta-feira avançava já que o procurador Rosário Teixeira ordenara que fosse extraída uma certidão do processo Operação Marquês, a primeira nesta investigação.

De acordo com o DN, “no despacho que ordenou a retirada dos elementos do processo para uma investigação autónoma, o procurador Rosário Teixeira não identifica os suspeitos, dizendo apenas serem 'pessoas distintas' das já constituídas arguidas no processo e tratar-se de 'cidadãos portugueses' que 'tinham responsabilidades em instituições financeiras e na concessão de crédito'. Ou seja, serão outros banqueiros além de Ricardo Salgado e Armando Vara, duas pessoas constituídas arguidas na Operação Marquês, que já tiveram 'responsabilidades' em bancos”.

No mesmo artigo, pode lêr-se, relativamente a esta certidão, que “pode estar em causa o crime de burla qualificada, já que terá sido 'gerado um engano sobre os interesses subjacentes aos financiamentos'”.
Tomás Correia desmente relação com Operação Marquês

Em resposta às notícias que dão conta da constituição de arguido de Tomás Correia num processo paralelo à Operação Marquês, que remete para “artigos publicados no jornal Expresso nos passados dias 7, 14 e 28 de janeiro, respeitante ao processo nº 767/16.4 TELSB”, a Associação Mutualista Montepio lançou por seu lado um comunicado sublinhando que um processo nada tem a ver com o outro.

Facto que, assegura o texto enviado esta tarde às redações, “já foi alvo dos devidos esclarecimentos, quer ao jornalista [do Expresso] que os escreveu, quer a outros órgãos de comunicação social”.

A Associação Mutualista Montepio faz assim notar que António Tomás Correia desmente “categoricamente qualquer envolvimento com a referida Operação Marquês, não estando constituído como parte no citado processo”.

Apontando eventuais interesses na sua descredibilização, Tomás Correia sublinha que “não é difícil contextualizar as notícias agora veiculadas, em véspera de realização da Assembleia Geral do Montepio Geral Associação Mutualista, a qual presido por mandato que me foi confiado pelos senhores associados para o triénio 2016-2018”.
Inquérito autónomo
Uma fonte ligada à investigação explicou à Lusa que Tomás Correia não é arguido na Operação Marquês, mas num inquérito autónomo resultante de elementos recolhidos na investigação que tem no antigo primeiro-ministro José Sócrates o arguido mais mediático.

Tomás Correia foi agora constituído arguido por suspeita de recebimento ilícito de 1,5 milhões de euros em troca de uma concessão de crédito na ordem dos 70 milhões ao construtor da Amadora.

António Tomás Correia lidera atualmente a Associação Mutualista Montepio Geral.
Tomás Correia diz-se inocente e desafia justiça
No início da semana passada, Tomás Correia fez saber que não estava nos seus horizontes demitir-se da dona do Montepio. Numa recção às notícias relacionadas com as investigações ao Montepio, Tomás Correia disse que só abandona funções “se alguma decisão judicial que o ponha em causa transitar em julgado”.A mesma notícia dá conta de que a administração liderada por Tomás Correia não cumpriu as boas regras de análise de risco de crédito, nem as respetivas normas internas no financiamento a empresas do GES, feito através de várias operações decididas durante os primeiros seis meses de 2014.

Uma notícia do Negócios revelara que o presidente da Associação Mutualista Montepio Geral e outros oito ex-responsáveis do banco Montepio estavam a ser acusados de financiar o Grupo Espírito Santo (GES) quando este já apresentava dificuldades financeiras – um processo movido pelo Banco de Portugal e que poderia resultar no pagamento de coimas até quatro mil milhões de euros.

“Se alguma vez se colocar a possibilidade de transitar em julgado algo a meu desfavor, em qualquer tribunal, por quaisquer atos ilícitos, abdicarei do exercício das minhas funções. Estou profundamente convicto e seguro de que isso não vai acontecer. Estou tranquilo relativamente ao desfecho destas, e de outras acusações que me foram dirigidas”, disse António Tomás Correia, ex-presidente da CEMG, atual Presidente da Associação Mutualista e do Grupo Montepio, em comunicado. Argumento que repete no comunicado desta tarde.

O presidente da Associação Mutualista dissera na primeira reacção, como voltou agora a sublinhar, que há segundas intenções nas diversas notícias que têm vindo a ser divulgadas nas últimas semanas.
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