Trabalhadores exigem intervenção do bispo por fecho de gráfica em Coimbra

por Lusa

Coimbra, 14 jan (Lusa) - Mais de 20 trabalhadores da Gráfica de Coimbra, que encerrou este mês, concentraram-se hoje à frente da diocese de Coimbra, detentora da empresa, para exigir a intervenção do bispo.

No processo de insolvência da Gráfica de Coimbra, que tinha um passivo de cerca de 10 milhões de euros, "não houve qualquer apoio do bispo" aos trabalhadores, criticou Rui Almeida, que trabalhava na gráfica há 14 anos.

"Nunca houve abertura para diálogo", sublinhou, referindo que o fecho da Gráfica de Coimbra se deve "à má gestão" no passado.

Em frente da diocese de Coimbra, trabalhadores empunharam cartazes em que se podia ler "Desemprego: Obrigado Sr. Bispo", "Abandonados pela Diocese de Coimbra" e "Diocese com milhões, Trabalhadores sem tostões".

A 8 de janeiro, o gestor de insolvência comunicou aos cerca de 60 trabalhadores da Gráfica de Coimbra que os contratos estavam suspensos, devido a nota judicial de encerramento da empresa, explicou Manuel Fernandes, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Gráficas.

Os trabalhadores reuniram-se hoje à tarde com o bispo de Coimbra, Virgílio Antunes, que "até ao momento não se tinha envolvido com este processo", contou Manuel Fernandes, mostrando-se surpreendido que, "num caso com tanto impacto social", o responsável da diocese não tenha mostrado interesse prévio.

"Havia duas dezenas de trabalhadores com contratos suspensos e ainda assim o bispo não teve disponibilidade para saber o que se passava na gráfica", observou.

Na reunião, o bispo "comprometeu-se em contactar a administração de insolvência" da Gráfica de Coimbra, referiu o sindicalista, afirmando que na reunião foi ainda exigido o dinheiro que se faça com trabalhos pendentes e que essas verbas "cheguem aos trabalhadores".

Estão ainda por "resolver as situações indemnizatórias" e há trabalhadores com dois e três salários em atraso, acrescentou.

"Não se compreende que uma gráfica com um `know how` de décadas, com cerca de 60 trabalhadores, com clientes, em plena laboração, tenha um desfecho destes", protestou Manuel Fernandes, frisando que "há trabalhadores com problemas com pagamentos de habitação ou com alimentação".

Face a esse "drama social", "a Igreja respondeu com as cantinas sociais ou com o fundo social da Caritas", realçou.

Nuno Dinis, trabalhador da Gráfica de Coimbra há 26 anos, considerou que a Igreja "pôs-se à margem dos trabalhadores", sentindo "um abandono por parte da diocese de Coimbra".

"Desprezo", classificou outra trabalhadora, de 50 anos, que optou por não revelar o nome, recordando que tem o mês de dezembro e metade do subsídio de Natal por receber, não estando ainda com subsídio de desemprego.

A situação torna-se "mais difícil" por o seu marido também ser funcionário da Gráfica de Coimbra.

"Não sei o que me espera", disse à agência Lusa a trabalhadora.

A agência Lusa tentou contactar o bispo de Coimbra, mas até às 17:30 não foi possível obter qualquer declaração do responsável da diocese.

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