Tribunal pede justificação a hospital pelo atraso nas perícias a Cruz
O colectivo de juízes que julga o processo Casa Pia pediu hoje um novo esclarecimento ao Hospital Miguel Bombarda pelo atraso na entrega dos relatórios das perícias psiquiátricas a Carlos Cruz, realizadas entre Maio e Agosto de 2005.
Fonte ligada ao processo adiantou à agência Lusa que o pedido foi feito hoje em virtude de o Hospital Miguel Bombarda ter enviado em Dezembro passado uma carta ao Tribunal a informar que essas perícias estariam concluídas num prazo de 30 dias, que terminava a 27 de Janeiro de 2006, e até à data nada ter chegado.
A Lusa contactou o director clínico do Hospital Miguel Bombarda, Rui Durval, que voltou a recusar dizer se os relatórios já estão concluídos, limitando-se a revelar: "Não deve faltar muito tempo para ter notícias".
A 11 de Janeiro passado, a Lusa noticiou que os relatórios dos exames "às faculdades mentais" de Carlos Cruz só deveriam chegar ao tribunal no fim de Janeiro, mais de cinco meses depois de terminadas as perícias requeridas por aquele arguido do processo Casa Pia.
Uma carta do Hospital Miguel Bombarda a que a Agência Lusa teve acesso naquela altura, datada de 27 de Dezembro de 2005, assinada pela coordenadora do serviço de psiquiatria forense, Maria Antónia Cunha, e que deu entrada no Tribunal da Boa Hora três dias depois, informava que os relatórios "estão em fase de elaboração".
A missiva, em resposta a um pedido de esclarecimento dos juízes de julgamento sobre o andamento dos exames (datado de 15 de Dezembro de 2005), refere que "o perito relator - Doutor Rui Durval - do exame às faculdades mentais do arguido Carlos Pereira Cruz informou que os relatórios estão em fase de elaboração e que serão remetidos ao tribunal dentro de 30 dias", o que apontava para finais de Janeiro de 2006.
Esta "demora" foi considerada "estranha" por fontes ligadas ao processo contactadas pela agência Lusa, tanto mais que o antigo provedor-adjunto da Casa Pia Manuel Abrantes pediu, também na sua contestação, para ser sujeito a idênticas perícias, tendo feito os exames na mesma altura.
De acordo com Paulo Sá e Cunha, advogado de Manuel Abrantes, o ex-provedor adjunto foi sujeito aos exames no Hospital Júlio de Matos entre Maio e Agosto de 2005 e o tribunal que julga o processo Casa Pia recebeu o relatório dos testes "nos finais de Outubro, princípios de Novembro" passados.
Os dois exames foram pedidos pelos arguidos antes do início do julgamento, no dia 25 de Novembro de 2004.
No início de Dezembro de 2005, a agência Lusa contactou com Luísa Coelho, uma das clínicas do Hospital Miguel Bombarda (HMB), que admitiu ter feito duas perícias a Carlos Cruz, uma à personalidade e outra psiquiátrica, e que tinha terminado as mesmas "há algum tempo".
Na altura, a Lusa contactou também o director clínico do HMB, Rui Durval, para saber se os relatórios sobre as perícias já estavam prontos e se já tinham sido enviados para o tribunal.
Rui Durval respondeu que "as instituições ainda não têm essa informação" e "portanto não iria dá-la aos jornalistas".
A 11 de Janeiro, Rui Durval disse à Lusa que o prazo dos exames estava a "decorrer dentro da normalidade", e reafirmou que, "enquanto perito", tinha "apenas" que responder perante o tribunal que pediu as perícias.
Ricardo Sá Fernandes, um dos advogados de defesa do apresentador de televisão, manifestou na altura à Lusa "preocupação" pela demora na entrega dos relatórios, considerando-os "importantes para o julgamento e para o apuramento da verdade relativamente a Carlos Cruz".