Trinta judeus vão receber novo ano hebraico como manda a tradição

Um grupo de cerca de 30 judeus, na sua maioria residentes no Algarve, vão juntar-se segunda-feira em Portimão para dar as boas vindas ao novo ano judaico, celebrado num jantar regado com as iguarias típicas daquele povo.

Agência LUSA /

A comemoração do "Rosh Hashaná" (que significa "cabeça do ano") começa logo ao pôr-do-sol de segunda-feira e a passagem para o ano 5766 dá-se quando se conseguir avistar a primeira estrela a brilhar no céu, já que a meia- noite não tem significado para os judeus.

A festa, que se prolonga até ao pôr-do-sol de quarta-feira, começa com uma bênção acompanhada de pão, vinho de Belmonte (o único em Portugal que é "kosher", isto é, puro, depois de vistoriado por um rabino) e fatias de maçã molhadas em mel, para pedir a Deus um ano doce.

Na diáspora, a celebração do ano novo dura dois dias para que haja a garantia de que coincidirá com a data da festividade em Israel, visto que, ao contrário do cristão, o calendário judaico é regido pela lua, segundo explicou à Agência Lusa o líder da comunidade no Algarve, Ralf Pinto.

O jantar de ano novo inclui a degustação de comida tradicional judaica, como peixe "gefilte" (bolinhas de peixe assadas no forno com molho de cogumelos), paté de fígado de galinha e de arenque e "challah" (pão branco redondo), petiscos que serão confeccionados por Judith, esposa de Ralf.

Um dos principais costumes ligados a esta celebração, em que serão lidas também algumas passagens da Bíblia Hebraica ("Torah"), é o toque de "shofar", instrumento de sopro feito em chifre de cabrito, também utilizado noutras celebrações religiosas.

Dez dias após a celebração do novo ano, acontece outra importante festividade judaica - o "Iom Kimpur" (dia do perdão) -, que em Portugal será celebrado entre o pôr-do- sol de dia 12 e o pôr-do-sol de 13 de Outubro e no qual se costuma fazer jejum.

Segundo Ralf Pinto, neste dia, o mais sagrado do ano e o único de jejum determinado pela Bíblia, "a única coisa que pode passar pelos lábios são rezas", não havendo lugar para água ou comida, para os judeus que seguirem a tradição.

"É o dia em que pedimos a Deus perdão pelos pecados cometidos, firmando uma espécie de novo +contrato+ para o ano que se segue", observa Ralf Pinto, acrescentando que, pela primeira vez na sua vida, o aniversário de Judith coincidirá com aquele importante feriado.

A comunidade judaica do Algarve, composta por cerca de 30 pessoas, foi restabelecida em 1991 por ocasião da "Chanukah", outro importante feriado judaico, que nesse ano começou a ser celebrado na casa do casal.

Esta pequena comunidade é a continuação da última de ascendência hebraica que existiu em Faro entre meados do século XVIII e o ano de 1936 e que acabou por se perder devido à emigração causada pela crise económica da época.

A estrutura que mais tem contribuído para manter viva a comunidade, já que a sinagoga mais próxima é em Lisboa, tem sido o cemitério judaico de Faro, praticamente o único testemunho da diáspora hebraica na região e que, apesar de pequeno, é um dos maiores da Europa.

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