Um em cada 200 portugueses sofre de epilesia, uma doença estigmatizada
Um em cada 200 portugueses sofre de epilepsia, uma doença do foro neurológico que ainda é alvo de um enorme estigma social, disse hoje o Presidente da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE), o neurologista Lopes Lima.
"Há muitos estigmas e ideias erradas relacionadas com a epilepsia", afirmou Lopes Lima em conferência de imprensa, explicando que a doença "não é contagiosa, não é causada por forças sobrenaturais, não é um castigo e não é perigosa para as outras pessoas".
Calcula-se que em Portugal, 50 mil pessoas sofram de epilepsia, uma doença que afecta 50 milhões de pessoas em todo o mundo.
Segundo o médico neurologista, a "ignorância [sobre a doença] leva frequentemente à discriminação de pessoas com epilepsia pela família, escola, empregadores e pela própria comunidade".
Presente na conferência de imprensa, Nelson Ruão, 32 anos, contou que soube que tinha epilepsia aos 22 anos e que aprendeu a conviver com a doença, que está controlada com medicação.
"Sou optimista e não entrei em crise psicológica. E o apoio da família foi fundamental", contou o engenheiro mecânico, casado e com um filho.
Com medo de ser alvo de discriminação, Nelson Ruão não conta no trabalho que tem epilepsia, uma doença "que afecta a confiança e do doente", que "tem vergonha" de assumir que padece da doença.
O engenheiro contou ainda casos de pessoas que foram despedidas quando descobriram que sofriam de epilepsia e o caso de um jovem estudante que foi impedido de fazer a viagem de finalistas porque os organizadores tinham medo do que podia acontecer.
O médico Lopes Lima explicou que as "crises epilépticas são uma alteração do comportamento do cérebro" devido a uma descarga eléctrica cerebral anormal e excessiva.
O clínico explicou que antigamente a doença revelava-se mais frequentemente na infância e na adolescência, mas actualmente a tendência é para aparecer na população acima dos 65 anos devido ao aumento da longevidade, adiantou.
O presidente da LPCE adiantou que 65 por cento dos doentes com epilepsia estão controlados com medicação, que cada vez é mais eficaz e tem menos efeitos secundários, 25 por cento não são controlados e cinco por cento estão à espera de serem submetidos a uma intervenção cirúrgica.
A cirurgia é o último recurso do tratamento e pode ser praticada em crianças e adultos, mas não serve para todas as pessoas com epilepsia ou para todas que têm mau controlo das crises.
Anualmente surgem 5.000 novos casos da doença por ano, dos quais cerca de 250 são candidatos a cirurgia.
No entanto, entre 1995 e 2004 apenas foram operados 300 doentes em todo o país.
Esta situação deve-se, segundo o médico, à dificuldade de formar equipas com os vários especialistas necessários que exige todo o processo até à intervenção cirúrgica.
Existem dois tipos de crises epilépticas: as generalizadas - que tem várias manifestações como contracções musculares, olhar parado ou postura rígida -, as parciais simples, em que o doente não perde a consciência durante a crise, e as parciais complexas, em que o doente está incapaz de se aperceber o que está a acontecer e pode comportar- se de modo bizarro.
Segundo o presidente da associação, há várias causas que podem provocar a doença, como traumatismos cranianos, que podem provocar cicatrizes cerebrais, traumatismos de parto, certas drogas ou tóxicos, interrupção do fluxo sanguíneo cerebral causado por acidente vascular cerebral ou problemas cardiovasculares, doenças infecciosas ou tumores.
O presidente da associação frisou que em pessoas com epilepsia não são necessários factores provocantes para desencadear as crises que podem surgir em qualquer altura.
No entanto, acrescentou, "em qualquer cérebro normal, se o estímulo for demasiado forte pode causar uma crise epiléptica".