Uma centena de alunos portugueses inscreve-se em Santiago de Compostela face às médias "proibitivas" em Portugal

Viana do Castelo, 15 Set (Lusa) - Mais de uma centena de alunos portugueses estão matriculados na Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela, na Galiza, Espanha, por não terem conseguido médias para entrar nas universidades nacionais.

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O vice-reitor da Oferta Docente e Espaço Europeu de Educação Superior daquela faculdade, Máximo Pló Casasús, disse hoje à agência Lusa que estão ali matriculados, para o 1º ano, 119 alunos estrangeiros, 90 por cento dos quais portugueses.

Este número ainda vai crescer nos próximos dias, já que os alunos que não conseguiram entrar nas universidades portuguesas preparam-se para tentar a sua sorte, este ano, em Santiago de Compostela.

É o caso do Bruno, um aluno de Viana do Castelo, que conseguiu 19,5 valores no exame nacional de Matemática e que se candidatou às universidades portuguesas de medicina com uma média de 17,62 valores, mas que ficou de fora, já que este ano nenhum aluno entrou em Portugal com menos de 17,90.

"As médias exigidas em Portugal, para medicina, não têm muita lógica, há aqui qualquer coisa que não se consegue perceber. Os alunos portugueses acabam por ser obrigados a ir estudar para Espanha, onde as médias são mais baixas. Ao mesmo tempo, Portugal farta-se de `importar` médicos espanhóis", sustenta o discente.

Segundo a Associação de Profissionais de Saúde Espanhóis em Portugal, trabalham actualmente em território luso cerca de 1800 médicos do país vizinho, a que há que juntar mais de mil enfermeiros.

Bruno vai agora tentar a sua sorte na Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela, na Galiza, a 200 quilómetros de casa, onde a nota de acesso é 8,47, numa escala de zero a dez (16,94 de zero a vinte).

"Não temos capacidade para estudar Medicina em Portugal mas já a temos mal cruzamos a fronteira. Não dá para perceber", desabafa Bruno.

Além do 19,5 a Matemática, este aluno conseguiu, nos exames nacionais, 17 a Físico-Química e 14,9 a Biologia. Terminou o Secundário com uma média de 18,1. A sua vontade de seguir Medicina levou-o mesmo a deixar a sua cidade e ir fazer o 12º ano num externato do Porto, para tentar notas mais elevadas.

"Depois de tudo isto, é, no mínimo, frustrante constatar que ficámos de fora", confessa.

Bruno, que sonha um dia ser pediatra, alerta ainda que não deve ser apenas pelas médias que se avalia se se está perante um potencial bom médico.

"Antes do 25 de Abril, entrava-se para Medicina com médias de 13 ou menos. Não me parece que seja por aí. Antes de mais, deve será avaliada a vocação. Há autênticos crânios que estão na medicina mas que não têm qualquer vocação para a profissão, não têm maneiras na forma como lidam com os doentes", refere.

A nota mínima de entrada nas licenciaturas de Medicina subiu em relação a 2007, passando de 17,75 valores para 17,90, apesar de ter aumentado o número de vagas disponíveis em Portugal.

A Faculdade de Santiago de Compostela, uma das mais procuradas pelos alunos portugueses, aumentou este ano as vagas de 300 para 350.

Máximo Casasús admite, no entanto, que mais de metade dos portugueses ali matriculados acabará por não frequentar efectivamente aquela universidade, por entretanto terem conseguido vaga em Portugal.

"O que acontece é que as universidades portuguesas abrem o seu período de pré-inscrição muito mais tarde, pelo que os alunos lusos, pelo sim pelo não, matriculam-se também no estrangeiro, para o caso de não conseguirem entrar no seu país", disse.


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