Universidade de Aveiro testa "carvão dos índios" em vinhas da Bairrada

por Lusa
Vários países estão a fazer experiências com biochar. A imagem foi tirada em campos de arroz do Cambodja em 2010 Vichida Tan, Projeto Biocharm

Aveiro, 23 set (Lusa) - Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro está a estudar a aplicação nas vinhas da Bairrada de biochar, um tipo de carvão usado pelos índios da Amazónia há milhares de anos, anunciou hoje fonte académica.

O biochar, também chamado de "terra preta do Índio" por conferir ao solo uma tonalidade escura, é produzido a partir de biomassa e permite melhorar o solo e reduzir a presença de dióxido de carbono na atmosfera, podendo gerar energia limpa durante o seu fabrico.

Foi "redescoberto" em 2004, com os estudos de Johannes Lehmann, da Universidade de Cornell, sobre solos agrícolas de civilizações antigas, que se apercebeu do potencial das "terras pretas" da Amazónia como sequestradoras de carbono e melhoradoras de solos degradados.

A equipa da Universidade de Aveiro (UA), coordenada pelo especialista em solos Frank Verheijen, em colaboração com os projetos VITAQUA e CLIMAFUN (financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e Programa FEDER-COMPETE), tem em mãos a primeira experiência com o biochar na produção agrícola em território português.

Na Região Demarcada da Bairrada, os investigadores da UA estão a estudar a utilização e impacto do biochar em vinhedos, decorrendo as experiências durante todo o ano agrícola de 2013.

Os primeiros resultados indicam que, para além de efeitos positivos nos nutrientes do solo, o biochar ajuda a melhorar a infiltração e a retenção da água das terras, fatores essenciais no combate à seca e à erosão.

Para avaliar a viabilidade do biochar na mitigação do "stress hídrico" nas vinhas, os investigadores da UA estão também a monitorizar a fisiologia vegetal ao longo da estação de crescimento de 2013.

Sendo necessário garantir que o biochar não compromete a qualidade e funcionamento do solo, são realizados testes ecotoxicológicos, utilizando espécies modelo, para a avaliação do risco ecológico nos ecossistemas terrestre e aquático.

Uma análise efetuada no âmbito de uma colaboração internacional sobre os efeitos do biochar na produção agrícola em geral, indica um aumento médio de 20 por cento no rendimento das colheitas.

Fabricado a partir da transformação térmica de biomassa (plantas, resíduos florestais, madeiras ou estrume de animais) em carvão com fraca ou nula presença de oxigénio, "num processo denominado pirólise", o biochar, explica Frank Verheijen, "é muito diferente do carvão vegetal".

A produção de biochar deve ser feita a temperaturas superiores a 400 graus. A pirólise, por seu lado, permite reter 20 a 50 por cento do carbono presente nos materiais processados, evitando que este escape para a atmosfera. Ao ser colocado nos solos agrícolas, o carbono poderá manter-se sequestrado durante centenas a milhares de anos.

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