Vacinação a partir dos 12 anos pode avançar mas "vão continuar a existir listas de espera"

por RTP
José Sena Goulão - Lusa

Durante o debate parlamentar sobre o Estado da Nação, na quarta-feira, António Costa anunciou que "tudo está preparado" para administrar vacinas contra a Covid-19 a crianças e jovens com mais de 12 anos, ainda antes do próximo ano letivo. Em entrevista à RTP, o coodenador da task force da vacinação confirmou que "estão reunidas as condições" para inocular estas faixas etárias. Apesar disso, o vice-almirante Henrique de Gouveia e Melo admitiu que "vão continuar a existir listas de espera".

"Aguardamos uma decisão final da Direção-Geral da Saúde sobre a vacinação de crianças e jovens, mas tudo está preparado para que, nos fins de semana entre 14 de agosto e 19 de setembro, possam se administradas as duas doses da vacina às cerca de 570 mil crianças e jovens entre os 12 e os 17 anos", adiantou o primeiro-ministro na intervenção inicial do debate sobre o Estado na Nação.

Um esforço que, como explicou, tem em vista permitir que "o novo ano letivo se possa iniciar sem risco de novas interrupções no ensino presencial".

Em entrevista ao Jornal 2, na última noite, o coordenador da task force confirmou que estão reunidas as condições para vacinar as crianças e jovens a partir dos 12 anos.

"As condições estão reunidas para se fazer essa vacinação", começou por dizer à RTP na quarta-feira à noite, acrescentando que este processo "vai concentrar-se, essencialmente, aos fins de semana, para facilitar a vida dos pais e das crianças".

A imunização destas faixas etárias irá decorrer em duas fases: no período de agosto serão inoculadas com a primeira dose e no período de setembro com a segunda.

O plano da task force prevê, que numa primeira fase, sejam os pais a agendar a vacinação dos jovens e crianças. No entanto, Gouveia e Melo esclareceu que se, "através desse processo", não se conseguir chegar à maioria dos jovens, serão consideradas "outras alternativas para chamar esses jovens, através dos seus encarregados de educação ou os seus pais, ao processo de vacinação".
O vice-almirante garantiu ainda que a imunização dos mais novos "não está dependente do reforço de vacinas".

"Prevemos ver uma capacidade de vacinas para esse período, que coincide com as primeiras doses", adiantou o coordenador da task force da vacinação contra a Covid-19. "São essas primeiras doses que serão atribuídas a esta população jovem".
Listas de espera diminuem "todos os dias"

Questionado sobre as listas de espera para vacinação, Gouveia e Melo assegurou que estas vão "diminuindo todos os dias".

Todas as semanas chegam vacinas, esclareceu, e "há uma quantidade de vacinas para primeiras doses"
. Fazendo uma analogia, Gouveia e Melo afirmou que "é como se fosse um comboio que tem um número de passageiros limite" e "quando as pessoas entram no comboio e atingem esse limite", o autoagendamento põe em "lista de espera para a próxima semana" quem ainda não teve vez e tentou agendar.

A questão, continuou, é que na semana seguinte entram "os que estavam há mais tempo na lista de espera", mas continuam a surgir novos agendamentos e torna-se "um processo contínuo".

Isto tem "a ver com o ritmo de vacinação" e há "ritmos diferentes, em semanas diferentes".

"Há umas semanas em que conseguimos vacinar mais rapidamente com primeiras doses. E há outras semanas, porque estamos a dar muitas segundas doses, em que conseguimos vacinar com menos primeiras doses".

Apesar destas flutuações, o coordenador da task force garantiu que "daqui a pouco tempo, voltaremos a ter vacinas para acelerar outra vez o processo das primeiras doses".
"Vão continuar a existir listas de espera"

"O autoagendamento vai abrir, na próxima semana, para maiores de 20 anos", declarou Henrique Gouveia e Melo, acrescentando que, ainda assim, "vão continuar a existir listas de espera".

Embora se continue a alargar a vacinação a mais faixas etárias, muitas pessoas vão continuar a aguardar e o coordenador da task force explica que o objetivo é vacinar, por agora 70 por cento da população até ao período de 8 a 15 de agosto. Ou seja, como explicou o vice-almirante, nos 30 por cento restantes, ainda sem vacina contra a Covid-19, "estarão muitos jovens da faixa etária dos 20 anos".

"Isto significa que, apesar de cumprirmos com o nosso planeamento, infelizmente não temos as doses suficientes para avançar o planeamento para além do que estava previsto", esclareceu, argumentando que esta espera "é perfeitamente natural, porque as vacinas chegam a determinado ritmo".

Sobre o anúncio da ministra da Saúde quanto à antecipada entrega de novas doses da vacina da Pfizer, Gouveia e Melo recordou o "esforço" do Ministério da Saúde para tentar antecipar entregas desta vacina, que "é importante" no plano de vacinação contra a Covid-19 em Portugal.

Se esta antecipação acontecer, o vice-almirante considerou que será uma "excelente notícia", visto que "pode acelerar outra vez as primeiras doses, mantendo um ritmo sempre muito elevado".

Contudo, pode haver novas flutuações no ritmo da vacinação, já que "quando as primeiras doses são muito elevadas, as segundas doses são menos elevadas", e vice-versa.
Task force tenta acelerar vacinação perante vírus "mais pandémico"

Questionado sobre a limitação de muitas mulheres ao programa "Casa Aberta", por na maioria dos centros de vacinação com esta modalidade haver mais disponibilidade da vacina da Janssen – não recomenda a mulheres com menos de 50 anos -, Gouveia e Melo assegurou que esta situação "será alterada quando tivermos mais vacinas quer da Moderna, quer da Pfizer", que "são as indicadas para as senhoras abaixo de 50 anos".

Todavia, "as senhoras estão a ser vacinadas" e, nesta semana, "temos mais de 80 mil vacinas para senhoras, que estão agendadas e estão a ser vacinadas".

Já relativamente à possibilidade de no fim do verão estarem reunidas as condições para a "libertação total", o coordenador da task force garantiu que "todo o planeamento está a ser feito para, no fim do verão, portanto em setembro, termos o plano de vacinação praticamente concluído".

Embora reconheça os atrasos na vacinação, Gouveia e Melo assegurou que Portugal tem "tido acesso às vacinas que estavam previstas", mas que nem sempre chegam na data previamente definida e, por isso, a task force tem de ir adaptando "o ritmo de vacinação a essas entregas".

"Posso lembrar que, nas últimas duas semanas, vacinamos 1,7 milhões de portugueses", sublinhou. "Portanto, isso fez com que nós fossemos tirar todas vacinas que tínhamos em ‘stock’ para adiantar o processo de vacinação", numa altura em que o SARS-CoV-2 “está mais pandémico do que antes".

Relativamente à sondagem da Universidade Católica para a RTP sobre ser a personalidade "com maior taxa de aprovação dos portugueses", Henrique Gouveia e Melo rejeitou qualquer ambição política, mesmo que as sondagens indiquem uma grande popularidade, e assume apenas que é militar.

"Não tenho uma ambição política, eu sou militar", respondeu à RTP. "Eu não estou preocupado com a minha taxa de popularidade".

"Estou preocupado em cumprir a minha missão, e fazê-la da forma mais competente possível, que é a minha obrigação e a minha forma de estar enquanto militar".
pub