Vigília pela conservação do Convento dos Inglesinhos reúne 100 moradores

Mais de 100 moradores do Bairro Alto encontram-se desde as 22:00 de sexta-feira concentrados na Travessa dos Inglesinhos, pela preservação do Convento dos Inglesinhos, que será transformado num condomínio de apartamentos de luxo.

Agência LUSA /

"Concentrámo-nos aqui pacificamente para trocar impressões, em defesa de um monumento de enorme riqueza", disse à Agência Lusa Fernando Marta, representante dos moradores.

"Não à obra, sim ao Convento", "É urgente, salvem o Convento" ou "Câmara Municipal, isto cai-te muito mal" são algumas das frases que podem ser lidas nas faixas e cartazes trazidos pelos moradores e colocados nas imediações do Convento dos Inglesinhos.

Além desta iniciativa, este grupo de moradores do Bairro Alto lançou uma petição na Internet (www.petitiononline.com/convento/petition.html) para recolher assinaturas contra a transformação do Convento dos Inglesinhos, do século XVII, num empreendimento da Amorim Imobiliária, que inclui 30 fogos com tipologias de entre T0 e T7.

Já foram recolhidas "centenas de assinaturas", disse Fernando Marta, adiantando que o resultado da recolha será entregue à Câmara de Lisboa e ao IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico.

No texto do abaixo-assinado, os promotores da iniciativa consideram que "o Bairro Alto está a ser vítima de mais um abuso da Câmara Municipal e desta vez o ataque é ao Convento dos Inglesinhos".

A petição defende a recuperação do edifício seiscentista "para uso e fruição de todos os cidadãos" e rejeita "a desfiguração sistemática do seu bairro".

Contactados pela Lusa, a autarquia e o IPPAR garantiram que o edifício não é classificado e que a intervenção vai preservar as suas características patrimoniais.

"A aprovação de uma obra de tão grande vulto num dos bairros mais antigos e emblemáticos da cidade de Lisboa, somada ao facto de ser executada num edifício cujas características recomendariam a sua classificação como monumento a classificar, provoca a nossa perplexidade", consideram os moradores, numa carta enviada à Assembleia Municipal de Lisboa (AML).

Os residentes estão também apreensivos com as "repercussões profundas e incalculáveis" da construção do complexo nos edifícios envolventes.

"As obras vão pôr em perigo tudo o que está à volta. Está em causa a segurança das pessoas e a destruição de um património", sustentou Fernando Marta.

Os moradores reuniram-se recentemente com a AML para debater o assunto, que já está a ser analisado pelas comissões de Urbanismo, de Habitação e Reabilitação Urbana e de Intervenção Social e Cultura deste órgão municipal.

Os habitantes admitem "avançar para os tribunais", estando a situação a ser estudada por advogados, adiantou Fernando Marta.

O assessor da vereadora da Reabilitação Urbana e Património, Eduarda Napoleão, afirmou à Lusa que todo o processo "foi seguido com vistorias rigorosas pela Unidade de Projecto do Bairro Alto" da Câmara Municipal, além de existir "um diálogo permanente com o IPPAR para salvaguardar as questões patrimoniais".

"O projecto prima pela salvaguarda dos interiores e não põe em causa as características patrimoniais do edifício", sublinhou o assessor, acrescentando que "apesar de o edifício não ser classificado, isso não impediu a Câmara de fazer todas as exigências de que fossem respeitadas estas características".

Em comunicado enviado à Lusa, o IPPAR esclareceu que "as construções existentes no antigo Colégio dos Inglesinhos (Colégio de São Pedro e São Paulo) não se encontram classificadas nem em vias de classificação", mas o local encontra-se "abrangido pelas zonas de protecção do Aqueduto das Águas Livres e do Palácio Pombal".

O Instituto considera que o projecto, aprovado em 2001 numa decisão que foi confirmada no ano seguinte, "promove a requalificação de edifícios existentes e a implantação de novos".

A obra preserva as "características fundamentais, históricas e arquitectónicas, das construções existentes, apesar de não se tratar de imóveis classificados", acrescenta.

Segundo pareceres do IPPAR, a proposta traduz-se "na valorização do existente e da envolvente dos imóveis classificados (Ó) sustentada por um estudo histórico, arquitectónico e urbanístico clarificador, tanto da situação dos imóveis como da inserção no bairro".

O Instituto do Património sublinha ainda que a igreja ali existente será mantida e restaurada, tal como as "características fundamentais do antigo edifício, que sofre pequenas alterações no exterior e é adaptado no seu interior para habitação, com preservação das abóbadas do piso térreo".

O Instituto Português de Arqueologia aprovou as investigações arqueológicas previamente realizadas, acrescenta o IPPAR.

A Lusa tentou obter um comentário do Grupo Amorim, mas foi informada de que tal não seria possível na sexta-feira.

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